Diário de Notícias

Uma exposição que já era cinema

- JORNALISTA DE CINEMA

Adiscussão que Manifesto pode trazer deve ser proveitosa.Um filme que nasce de um conjunto de pequenos filmes que faziam parte de uma videoinsta­lação para ver numa galeria de arte. Apropriaçã­o do cinema às artes visuais? Chico-espertice dos exibidores? Afinal, Manifesto, de Julian Rosefeldt, é cinema ou uma visualizaç­ão de uma exposição? Para quem teve oportunida­de de ver a exposição Manifesto (estreada em 2015 na Austrália, em Melbourne), como é o meu caso, em Paris, no ano passado, a experiênci­a de o ver em sala não se compara ao império dos sentidos que experiment­ei na sala de exposições das Beaux Arts. As 13 Cate Blanchetts que acabavam por brincar em cacofonia num espaço milimetric­amente iluminado e organizado segundo uma discrição elaborada pediam uma sala grande. Pediam também uma disponibil­idade nossa perante uma pulsão de interpelaç­ões em rituais análogos. Era qualquer coisa de siderante e tinha sempre uma carga sensorial. Carga essa que pressupunh­a “reconhecim­ento” de prazer sonoro (como uma experiênci­a de apreensão dos significad­os) e de jogo aberto com as fronteiras da instalação. Saía-se da sala com vontade de voltar logo (eu, como muita gente, fiquei no fim recolhido a contemplar de longe as 13 telas) ou permanecer em sessões contínuas em frente ao ecrã onde temos a Cate Blanchett punk rocker. Mas a sensação mais forte daqueles pequenos 13 filmes que fazem uma só obra é que, mesmo estando a servir a função “redutora” de instalação de arte, têm cinema. Com boa vontade, Manifesto , nesta versão que hoje chega aos cinemas portuguese­s, tem também vida de cinema. E chega numa altura em que pode inspirar manifestos de artistas quanto às políticas culturais deste país. Porque esta mulher-disfarce chamada Cate Blanchett inspira. Só é pena a exposição, que viajou por toda a Europa, nunca ter chegado a Portugal...

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