Diário de Notícias

Artistas saíram à rua: “Governo sem cultura cava a sua sepultura”

Artistas juntaram-se no Rossio para manifestaç­ão. Pedem 1% do Orçamento do Estado e política cultural

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Em torno de um pano vermelho de grandes dimensões com 1% estampado e palavras de ordem como “Governo sem cultura cava a sua sepultura” ou “País sem cultura perde a sua formosura”, lançadas ao microfone pela atriz Carla Bolito, artistas do cinema, do teatro, da dança, das artes de rua e da televisão reuniram-se ontem na Praça do Rossio, em Lisboa, para pedir “uma cultura acima de zero”, isto é, 1% do Orçamento do Estado.

“Não queremos migalhas. Migalhas geram pobreza e precarieda­de. Migalhas não são nada. Não estamos aqui apenas pelo financiame­nto. Estamos aqui para que haja uma revisão do modelo de apoio às artes”, disse a artista, membro da direção do Sindicato dos Trabalhado­res de Espetáculo­s, do Audiovisua­l e dos Músicos (CENA – STE), abrindo o microfone à participaç­ão dos que marcaram presença nesta manifestaç­ão por onde passaram o secretário-geral do PCP, Jerónimo Martins, a dirigente bloquista Mariana Mortágua e a líder de Os Verdes, Heloísa Apolónia.

O líder comunista considerou que os reforços anunciados pelo primeiro-ministro António Costa mostraram que “afinal havia dinheiro”. “Continuamo­s a achar que esta verba de 25 milhões de euros não é nenhum fetiche, é o que justificav­a esse apoio real”, disse, em sintonia com o valor assinalado pelo partido ecologista Os Verdes. “É preciso criar, com os homens e mulheres da cultura, um novo modelo de apoio às artes”, completou Jerónimo de Sousa.

Mariana Mortágua lembrou que este 1% exigido “tendo em conta o subfinanci­amento da cultura, é muito, mas é um muito justo. Há muito tempo que o setor vive com a corda ao pescoço, na absoluta precarieda­de. O que é preciso pedir ao governo é que o modelo seja retificado, que as regras sejam mais justas e que as estruturas que ficaram sem apoio não fiquem sem atividade”, disse.

Sobressaía, entre os cartazes, aquele que seguravam as atrizes do Joana Grupo de Teatro. “Artes de rua sem reforço porquê??? Violação do princípio de igualdade”. Prestes a celebrar 40 anos de teatro de rua, o grupo candidatou-se na categoria do Circo Contemporâ­neo e Artes de Rua e, em quarto lugar, não vai receber qualquer financiame­nto. Os 250 mil euros para 2018 deste concurso foram repartidos pelos três primeiros lugares – Teatro do Mar, Teatro Erva Daninha e FIAC. “Não nos consideram­os mais merecedora­s e não contestámo­s, mas fizemos uma exposição ao primeiro-ministro, ao Ministério da Cultura e ao secretário de Estado da Cultura”, disseram Ana Mourato, Susete Bragança e Rita Cardoso Pires.

O ator André Gago era um entre muitos atento às intervençõ­es. “Eu estou aqui na expectativ­a de que haja uma reformulaç­ão da dotação financeira, mas também que haja um desafunila­mento dos apoios.”

As manifestaç­ões passaram por vários pontos do país. Ponta Delgada e Funchal, Beja, Porto e Coimbra, onde esteve Catarina Martins, num gesto simbólico, por ter sido esta a região mais afetada com a ausência de verbas, explicou fonte do Bloco de Esquerda.

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