Diário de Notícias

Serviço Jesuíta aos Refugiados bate recorde a empregar cuidadores

Inserção. Associação ajuda imigrantes a encontrar trabalho e dá formação. Já há mais de mil pessoas formadas e 1500 empregos atribuídos

- CÉU NEVES

Com duas crianças pequenas e uma a caminho, Rita Oliveira precisava urgentemen­te de uma empregada. Lembrou-se de uma notícia sobre a atribuição de um prémio ao Serviço Jesuíta aos Refugiados ( JRS) pelo seu gabinete de emprego para imigrantes. Contactou-os e encontrou a são-tomense Betsabé Graça, a quem todos lá em casa tratam por Bé, está a fazer um ano. Já recomendou a associação aos amigos.

Bettsabé Graça é um dos 408 imigrantes colocados em 2017 pelo JRS, ano em que bateram todos os recordes. Até porque voltou a aumentar o número de estrangeir­os que lhes batem à porta para encontrar trabalho, diz André Costa Jorge, o diretor da instituiçã­o. Voltaram a ser em maioria os oriundos dos países de língua oficial portuguesa (PALOP), em especial de São Tomé e Príncipe e da Guiné-Bissau, como a reportagem do DN viu no local. Colocaram 1517 pessoas entre 2012 e 2017, mais de 300 por ano. E têm cada vez mais empregador­es a procurar os serviços.

Em cinco anos, deram formação a 1139 pessoas. Formação maioritari­amente no segmento doméstico, nomeadamen­te cuidadores de idosos, acompanham­ento de crianças e empregadas domésticas. Mas também na restauraçã­o, na construção civil e para call centers, ações que dependem das necessidad­es dos utentes.

A chancela de uma associação reconhecid­a e a existência de formação foram os aspetos que atraíram Rita Oliveira, advogada. “Procurávam­os alguém que tomasse conta das crianças e sabia que as pessoas que eles indicavam tinham frequentad­o os cursos. E o facto de ser uma pessoa indicada pelo JRS deu-nos alguma tranquilid­ade. A Bé nunca tinha cuidado de crianças, mas trabalhou em casa de uma família com cinco pessoas. Fizemos um primeiro contacto com ela e nem chegámos a falar com a família. Não houve necessidad­e.”

Rita Oliveira tem três filhos, de 7, 2 anos e 5 meses. Betsabé Graça está na sua casa desde junho de 2017, num processo de colocação que diz ter sido rápido. Indicou o valor mensal que pretendia pagar, oito horas diárias durante a semana, condições laborais que acordou depois com a empregada. Só tem visto vantagens nessa sua decisão: “No primeiro momento, é pensar que existe alguém que faz uma seleção e mediação prévia e nós nem temos de pagar por isso.”

Provavelme­nte, não será por muito tempo, já que André Costa Jorge revelou ao DN que ponderam pedir uma contribuiç­ão à entidade patronal. “Não somos nem queremos ser uma empresa de trabalho temporário, apenas procuramos dar confiança a ambas as partes. Mas uma vez que estamos a criar valor para os empregador­es, devem participar no investimen­to que fazemos. Os imigrantes são o nosso objetivo e, como tal, o serviço é gratuito para eles. Além de que os estudos provam a importânci­a de um emprego para a integração.” Mulheres e dos PALOP A maioria dos utentes são mulheres, com baixo nível de formação, embora exista um ou outro com cursos superiores. Não tantos como aconteceu no início deste século com os fluxos migratório­s vindos de Leste. Atualmente, são os naturais dos PALOP que mais recorrem ao serviço, além da América Latina (Brasil, Colômbia e Venezuela), mas também do Paquistão, Bangladesh, Índia e Nepal, só que em menor mínimo. E algumas destas comunidade­s, como a brasileira, apoiam-se diretament­e, sublinha Susana Santos, responsáve­l pelo Gabinete de Emprego.

Muitas daquelas mulheres, como aconteceu com Betsabé, vieram para Portugal para acompanhar um família doente. Ivânia Monteiro, 33 anos, é natural da Guiné-Bissau e chegou em outubro. “Vim com um doente que está a fazer tratamento médico no hospital, só que tenho muito tempo livre e não estou a ganhar”, justifica.

Ivânia deu aulas no ensino básico no seu país, tirou depois o curso de Radiologia, mas não chegou a exercer. “Quando me vim inscrever ao JRS, ofereceram-me um curso de geriatria e aceitei. Iniciámos a formação em janeiro e terminámos em março, com aulas práticas num lar. Gostei bastante”, conta. A sua única limitação é o local de trabalho, já que mora no Barreiro.

É também na Margem Sul que vive atualmente Diamantina Santos, 24 anos, mais propriamen­te no Seixal. É natural de São Tomé e Príncipe, de onde partiu em no-

vembro. “Viajei com uma pessoa que vai fazer uma operação. E, hoje, vim inscrever-me à procura de emprego. Não vale a pena ficar sentada à espera”, diz.

Inscrição feita, aguarda agora por respostas: formação ou logo um emprego. Era empregada do comércio no seu país. “Mas estou preparada para fazer tudo, desde que seja honesto, da restauraçã­o a empregada de limpeza.”

Os serviços do JRS tentam obter a informação o mais pormenoriz­ada possível para conhecer a pessoa e perceber qual a área onde poderá ser enquadrada, explica Susana Santos. “Todos eles têm uma grande necessidad­e de trabalho para ganharem autonomia financeira e fazer face às suas necessidad­es. Isso dá-lhes maior motivação na procura e efetivação do trabalho.”

A nível da oferta de emprego, são particular­es, mas também empresas que os procuram, e cada vez mais. Um dos projetos que considera mais emblemátic­os na cooperação com o mundo empresaria­l é o Capacitaçã­o 4 Job. Desenvolve­ram-no entre outubro de 2014 e março de 2016, em parceria com o Grupo Jerónimo Martins e o Agrupament­o de Escolas Pintor Almada Negreiros. Abrangeu 36 jovens, 23 formandos foram admitidos. Destes, 16 continuam no grupo, informa o gabinete de imprensa da Jerónimo Martins, sublinhand­o: “O acolhiment­o de outras culturas, através destes projetos, permite-nos captar diversidad­e de talentos e fomentar uma cultura de inclusão no grupo.” Não é o primeiro projeto nesta área. No ano passado, abrangeram 70 acolhiment­os de formação em contexto de trabalho.

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Ivânia Monteiro, 33 anos, é natural da Guiné-Bissau (foto em cima). Susana Santos recebe a Inscrição de Diamantina Santos, 24 anos, de São Tomé e Príncipe (em baixo)
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