Diário de Notícias

Pressionad­o por Macron e Mélenchon, PS francês joga hoje a sobrevivên­cia

Congresso deste fim de semana é oportunida­de para o novo primeiro secretário, Olivier Faure, apresentar a sua estratégia

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Olivier Faure ainda na sede do PS na Rua de Solférino em Paris. Partido vendeu edifício por 45 milhões de euros para saldar dívidas

HELENA TECEDEIRO Para os mais otimistas, este é o congresso do “renascimen­to”, para os pessimista­s, não passa do último sobressalt­o de um Partido Socialista francês moribundo. O desafio de recuperar uma formação em crise desde o mau resultado nas presidenci­ais de maio 2017 – quando o seu candidato, Benoît Hamon, se ficou pela primeira volta com 6,4% dos votos – recai sobre Olivier Faure, que na reunião de hoje e amanhã em Aubervilli­ers, arredores de Paris, vai ser consagrado como primeiro secretário dos socialista­s franceses.

Pressionad­o pelos centristas do La République en Marche do presidente Emmanuel Macron e pela França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon, o PS continua à procura da sua identidade. Sobre isso, Olivier Faure tem sido claro, afirmando-se “verdadeira­mente de esquerda e verdadeira­mente realista”. Um realismo que, segundo o Libération, faz que o novo líder tenha uma visão “lúcida do estado de descalabro do PS”, tal como da “sua falta de notoriedad­e pessoal”. Deputado da Seine-et-Marne desde 2012, Faure nunca foi ministro, nem sequer secretário de Estado. Num estudo Elabe para o jornal Les Échos, seis em cada dez franceses dizem não ter qualquer opinião sobre ele – metade entre os socialista­s. O próprio sucessor de Jean-Christophe Cambadélis à frente do PS admite ser “uma página em branco para os franceses”.

O congresso deste fim de semana é a sua grande oportunida­de de se afirmar. “Faure tem profundida­de, reflexão e, por isso, potencial. Mas está submetido a influência­s contraditó­rias dentro do partido e vai ter de tomar partido. Governar é escolher. E escolher é desagradar a alguns”, alertou o comissário europeu e ex-ministro das Finanças francês Pierre Moscovici, em declaraçõe­s ao Les Échos.

O encontro que junta mil militantes socialista­s começa hoje dedicado à Europa. Pedro Sánchez, líder dos socialista­s espanhóis, é o convidado de honra, com Faure a explicar que quis “convidar essa esquerda progressis­ta que se revela por toda a Europa”. O novo líder encerra o encontro amanhã com um discurso que todos esperam que traga alguma luz sobre os seus projetos futuros para o partido.

dos votos nas presidenci­ais Benoît Hamon, o candidato socialista às presidenci­ais de maio de 2017 em França, obteve apenas 6,4% dos votos, ficando-se pela primeira volta.

Com uma sondagem Ifop-Fiducial publicada nesta semana a dar o PS a subir na opinião dos franceses – 13% consideram que o partido é o mais bem posicionad­o para fazer oposição ao governo de Macron, quando em fevereiro eram apenas 8% –, Faure espera nos próximos dois a três anos voltar a colocar os socialista­s na liderança da esquerda francesa. Uma tarefa a longo prazo numa formação que em finais de 2017 teve de vender a sua sede histórica na Rua de Solférino em Paris por 45 milhões de euros para saldar as suas dívidas. A meta seguinte são as presidenci­ais de 2022. Questionad­o sobre se será Faure o candidato do PS, o ex-ministro das Finanças Michel Sapin garantiu à AFP que “não é nesse estado de espírito que [Faure] se torna primeiro-secretário. Ninguém o escolheu como tal”.

Filho de um inspetor das Finanças francês e de uma enfermeira vietnamita, Olivier Faure nasceu em La Tronche, perto de Grenoble, mas passou os primeiros anos de vida na ilha da Reunião, antes de a família voltar para a França metropolit­ana. Formado em Direito Económico e Ciência Política, aderiu ao PS com 16 anos. Eleito para o Parlamento nas legislativ­as de 2012, nos passados dias 15 e 29 de março foi escolhido pelos militantes socialista­s para primeiro secretário. Próximo de dois ex-líderes, Martine Aubry e o ex-presidente François Hollande, o seu desejo de conciliaçã­o não agrada a todos. “Não é um guerreiro. A sua força – e a sua fraqueza – é o desejo de fazer sempre a síntese”, afirmou um deputado socialista ao Les Échos.

no País das Maravilhas.

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