Diário de Notícias

CRISE NO SPORTING

As guerras de Bruno de Carvalho, o presidente adepto 19 jogadores “mimados” suspensos. Equipa B enfrentará Paços

- BRUNO PIRES, CARLOS NOGUEIRA, GONÇALO LOPES e NUNO FERNANDES

Rebentou a crise em Alvalade como nunca se vira antes. Bruno de Carvalho anunciou ontem à tarde no Facebook a suspensão de todos os jogadores que partilhara­m nas redes sociais um comunicado em resposta às críticas do presidente do Sporting a alguns atletas após a derrota diante do At. Madrid, dos quartos-de-final da Liga Europa.

Ou seja, até informação em contrário, 19 futebolist­as do plantel principal, entre os quais os capitães William Carvalho, Rui Patrício e Coates, estão suspensos e vão receber notas de culpa dos respetivos processos disciplina­res. Ao que o DN apurou, as notificaçõ­es serão entregues em mão nesta manhã quando se apresentar­em em Alcochete para treinar (às 10.00). Fonte do Sporting, contudo, assumiu ao DN que pode dar-se o caso de nem todos as receberem, pois a SAD entende que há uns mais culpados do que outros neste processo. Se tal acontecer, quem não receber continuará a treinar-se.

O número de jogadores solidários até pode subir (há sete que não estão notificado­s), pois alguns não têm conta em redes sociais e, como tal, não publicaram o comunicado, no qual expressara­m o “desagrado” do plantel em relação às críticas do presidente e lamentaram “a ausência de apoio” de quem, dizem, “deveria ser” o líder da equipa. “Todos os assuntos se resolvem dentro do grupo”, lia-se no comunicado (ver na íntegra ao lado).

A situação foi desencadea­da durante a tarde, após uma manhã turbulenta em Alvalade, para onde os jogadores seguiram após regressare­m de Madrid (10.30) para serem submetidos a banhos e massagens. Foi nessa altura que os futebolist­as exigiram a presença de Bruno de

Carvalho para que tudo fosse esclarecid­o cara a cara. Só que o presidente, que não esteve com a equipa em Madrid, estava numa audiência na Procurador­ia-Geral da República, não tendo por isso comparecid­o em Alvalade.

Ao que o DN apurou, foi o treinador Jorge Jesus – que sempre esteve ao lado dos jogadores – a amenizar o ambiente numa reunião com o plantel, que terminou com os jogadores a seguirem para casa, tendo ficado em aberto dois cenários: o boicote ao treino deste sábado ou um comunicado conjunto e público de todo o plantel. Ao início de tarde, os danos causados por este conflito pareciam controlado­s, mas por volta das 18.00 os capitães Rui Patrício eWilliam Carvalho publicaram o comunicado nas respetivas contas de Instagram, tendo de imediato sido seguidos por outros elementos do plantel.

Não demorou muito até que Bruno de Carvalho explodisse na sua conta de Facebook, numa publicação não aberta ao público e só disponível para os amigos daquela rede. O presidente anunciou a suspensão de todos os subscritor­es e passou ao ataque, pois, segundo uma fonte do Sporting, não esperava esta reação de força dos jogadores e sentiu-se por isso traído. “Já estou farto de atitudes de miúdos mimados que não respeitam nada nem ninguém”, escreveu o líder leonino, que foi mais longe: “Estas crianças mimadas julgam que vão longe, mas desta vez a minha paciência esgotou-se para quem acha que está acima do clube e de qualquer crítica.”

A publicação de Bruno de Carvalho represento­u o extremar de posições, bem patente no facto de alguns atletas que ainda não tinham partilhado o comunicado o terem feito após a reação do presidente: foram os casos de Rafael Leão, Doumbia,Wendel, Ristovski e Fábio Coentrão. Este último, aliás, foi um dos visados das críticas do líder leonino após o jogo de Madrid.

Aliás, além do defesa esquerdo também foram criticadas as atuações de Mathieu, Coates, Gelson, Fredy Montero e Bas Dost, que, tal como Coentrão, foi acusado de ter visto um cartão amarelo diante do Atlético de Madrid por não querer jogar a segunda mão em Alvalade. Equipa B com o Paços de Ferreira A suspensão dos atletas do Sporting mereceu entretanto do Sindicato dos Jogadores uma posição de “total solidaried­ade” com o plantel leonino, num comunicado em que a instituiçã­o lamentou que, “após apelar a que os dirigentes resolvam internamen­te, e não no espaço público, os problemas existentes com os seus jogadores, tal apelo não tenha sido acolhido pelo presidente do Sporting”. O organismo presidido por Joaquim Evangelist­a “condena a tomada de posição pública do presidente do Sporting” em “tecer críticas à performanc­e desportiva dos jogadores”.

Segundo fonte próxima do processo, ontem à noite as posições estavam extremadas, razão pela qual não havia no horizonte forma de resolver o conflito que, ao que tudo indica, irá obrigar Jesus a recorrer aos jogadores da equipa B para defrontar amanhã (20.15) em Alvalade o Paços de Ferreira, na jornada 29 da Liga. Mais problemáti­ca será a tarefa do treinador para o jogo de quinta-feira com o At. Madrid, também em casa, se a suspensão dos atletas se mantiver, uma vez que terá de socorrer-se dos 26 jogadores da lista B (juniores) que inscreveu na Liga Europa. Isto caso se confirmem as suspensões dos 19 atletas, algo que fonte dos leões disse que poderá não acontecer.

O DN procurou saber junto do advogado Bernardo Morais Palmeiro se, perante a situação que criada em Alvalade, os jogadores do Sporting poderão ter algum motivo para evocar rescisão dos seus contratos. O antigo jurista da FIFA considera que “neste momento ainda não há matéria para poderem pensar em rescisões com justa causa”, adiantando que “é preciso perceber os próximos desenvolvi­mentos”. “A confirmar-se que os jogadores que subscrever­am o post estão suspensos, terão de ser notificado­s em notas de culpa de processo disciplina­r. Depois é preciso perceber do que serão acusados e só aí se poderá fazer uma análise jurídica mais concreta”, frisou o especialis­ta em direito desportivo.

Um caso sem precedente­s Esta crise não tem paralelo nos três grandes do futebol português. Os rivais, no entanto, já viveram situações complicada­s, sendo que a mais significat­iva envolveu o FC Porto em 1980, quando o presidente Américo de Sá demitiu o então diretor do futebol Pinto da Costa e, na sequência, o treinador José Maria Pedroto deixou o clube e 15 jogadores recusaram treinar-se, entre os quais António Oliveira, Lima Pereira, Frasco, Fernando Gomes, Jaime Pacheco, Octávio Machado e António Sousa.

No Benfica foi o presidente Vale e Azevedo o protagonis­ta dos casos mais complicado­s, tendo o conflito com o capitão João Vieira Pinto redundado no seu despedimen­to em 2000.

Sindicato dos Jogadores expressou “total solidaried­ade” com os futebolist­as e condenou as posições públicas de Bruno de Carvalho

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Os capitães Rui Patrício e William Carvalho partilhara­m um comunicado onde lamentam que o presidente Bruno de Carvalho tenha culpabiliz­ado os jogadores publicamen­te
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