Diário de Notícias

Projetos de investigaç­ão e desenvolvi­mento terão maior financiame­nto de sempre

Recurso a fundos comunitári­os permite bater o recorde de investimen­to nuns concursos, com um total de 1618 projetos aprovados. Em relação ao último concurso, realizado em 2014, os valores mais do que triplicara­m

- PEDRO SOUSA TAVARES

São 375 milhões de euros que a Fundação para a Ciência e Tecnologia vai investir em 1618 projetos, um valor recorde que resulta do recurso a fundos comunitári­os e que triplica o do último concurso, realizado há quatro anos. Para garantir mais estabilida­de aos profission­ais, as instituiçõ­es terão de contratar pelo menos um investigad­or doutorado.

A Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) anunciou ontem um bolo de quase 375 milhões de euros, atribuídos a 1618 candidatur­as, no âmbito do concurso de projetos de Investigaç­ão e Desenvolvi­mento (I&D) de 2017. Números que, segundo a instituiçã­o, representa­m “o maior financiame­nto alguma vez atribuído” neste âmbito.

A concentraç­ão de verbas comunitári­as, nomeadamen­te do programa COMPETE 2020 e dos Programas Operaciona­is Regionais, explicam a dimensão de um concurso que começou com projeções bastante mais modestas, da ordem dos 110 milhões de euros, que cobririam pouco mais de um quarto dos projetos que serão aprovados.

“O trabalho que foi feito com o COMPETE e com os fundos regionais foi no sentido de aumentar e concentrar o maior volume possível de projetos neste concurso”, disse ao DN o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, explicando que essa decisão foi motivada, por um lado, pelo elevado volume de candidatur­as – 4593, das quais mais de um terço garantem financiame­nto – e, por outro, pelo objetivo de “aumentar a execução do atual programa-quadro”, que termina dentro de dois anos e meio. “Qualquer concurso que venha a abrir depois já não vai utilizar todo este programa”, justificou. O triplo de 2014 Por comparação com o último grande concurso de I&D, promovido em 2014 pelo então ministro da Educação Nuno Crato, as verbas atribuídas mais do que triplicara­m. Na altura foram apresentad­as 5454 candidatur­as, das quais 696 tiveram financiame­nto. O valor global atribuído não chegou aos 120 milhões de euros.

O concurso com valores mais elevados, até agora, foi o de 2008, com 1405 projetos financiado­s e um montante global ligeiramen­te superior aos 185,5 milhões d euros. Ou seja: metade do atual.

Contactado pelo DN, GonçaloVel­ho, presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup), considerou que em alguns aspetos o resultado deste concurso “é positivo”, sobretudo na comparação com o anterior. No entanto, defendeu ser necessário abordar os dados “com cautela”.

Entre as preocupaçõ­es do SNESup está a distribuiç­ão dos apoios por áreas (ver caixas) e o facto de “a maioria” dos investigad­ores ainda desconhece­rem as decisões (só foram comunicada­s 958 aprovações). Os vínculos também geram apreensão.

Nestes concursos, as instituiçõ­es passam a ter de contratar pelo menos um investigad­or doutorado, acabando o recurso às bolsas. E Manuel Heitor defendeu ao DN que a medida dá maior estabilida­de profission­al aos investigad­ores. “Obviamente, isto vai incentivar de forma significat­iva o emprego científico”, considerou. “Este concurso vai garantir pelo menos 1600 novos contratos de trabalho, porque todos os projetos têm essa obrigatori­edade de contratar.”

No entanto, Gonçalo Velho pediu atenção à forma como a medida está a ser interpreta­da e implementa­da: “Estamos preocupado­s com a fragmentaç­ão destes contratos”, disse. “Teoricamen­te, deveria haver um investigad­or por projeto mas o que sabemos é que há casos em que houve fragmentaç­ão: em vez de um investigad­or a 100% puseram dois a 50% ou três a 33%. O número de contratos não diz nada sobre a sua qualidade.”

Por áreas, as Ciências da Engenharia e Tecnologia­s continuam a ser as que mais bolsas recebem (26%), seguidas das Ciências Médicas e da Saúde (20%). As Ciências Sociais e Humanidade­s continuam a perder terreno. De acordo com a FCT, a comunicaçã­o dos resultados deverá ser concluída ainda neste mês.

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Bolsas são substituíd­as por contratos mas o sindicato não está tranquilo

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