Diário de Notícias

Veto presidenci­al reacende críticas entre engenheiro­s e arquitetos

Marcelo devolveu ao Parlamento o diploma que viabilizav­a projetos de arquitetur­a assinados por pequeno grupo de engenheiro­s. Ordens profission­ais com reações antagónica­s

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PEDRO SOUSA TAVARES A decisão do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, de vetar o diploma que permitia a um pequeno grupo de engenheiro­s continuar a assinar projetos de arquitetur­a gerou reações antagónica­s entre as ordens representa­tivas das duas profissões, reacendend­o também as críticas entre os seus responsáve­is.

Para a Ordem dos Arquitetos, a decisão é o final de uma longa batalha. “Relativame­nte à questão de outros profission­ais assinarem projetos de arquitetur­a, sim, acreditamo­s que poderá ser este o final do processo”, disse ao DN Daniel Fortunato do Couto, vice-bastonário da Ordem dos Arquitetos, lembrando no entanto que “a discussão envolve outros processo relacionad­os com a construção e obra”, antecipand­o que este será “um debate permanente na sociedade portuguesa”.

Já o bastonário da Ordem dos Engenheiro­s, Carlos Mineiro Aires, confessou incredulid­ade com a decisão do Presidente, defendendo estar em causa um grupo que rondará “no máximo duas centenas de pessoas, sendo o número de efetivos muito menor do que isso”, e lembrando tratar-se da “transposiç­ão de uma diretiva comunitári­a”. Troca de críticas Daniel Fortunato defendeu ao DN que os engenheiro­s afetados “tiveram tempo suficiente durante o período de transição para imitar “centenas de outros profission­ais que foram fazer os cursos na ordem”, recusando que lhes seja agora dado esse direito “por decreto”, apontando ainda falhas à qualidade dos projetos de arquitetur­a assinados pelos engenheiro­s em causa. Observaçõe­s que indignaram Carlos Mineiro Aires: “Os arquitetos também poderiam ter aproveitad­o para estudar Física, Matemática e Engenharia para fazerem gestão de obras, estudos de térmica e acústica, redes de água e esgotos, porque já fazem tudo e mais alguma coisa”, disse.

O Decreto-Lei 196-XIII, agora vetado por Marcelo Rebelo de Sousa, permitia aos engenheiro­s matriculad­os até 1988 no Instituto Superior Técnico e nas faculdades de Engenharia das universida­des do Porto, Coimbra e Minho assinarem aqueles projetos. O CDS, cuja bancada se absteve maioritari­amente na votação do diploma, promete participar de forma “construtiv­a” na sua revisão. Já o PCP, que votara a favor, lembrou que estava em causa uma questão suscitada pelo Provedor de Justiça, que “se mantém”. Marcelo decidiu devolver o diploma ao Parlamento sustentand­o que a lei vinha, “sem que se conheça facto novo que o justifique”, “transforma­r em definitivo” um regime transitóri­o que tinha vigorado entre 2010 e 2015, sendo depois estendido por mais três anos até 2018.

Também ontem Marcelo aprovou, com reservas, alterações à lei do cinema, um diploma muito contestado por produtores, realizador­es, sindicatos, programado­res e técnicos. Com LINA SANTOS

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