Formatos êxitos de audiências mas com falta de regulação
Desde 1994 que existem programas televisivos que dão voz a adeptos famosos, mas nunca os ânimos estiveram tão exaltados
BRUNO PIRES e CARLOS NOGUEIRA Começaram em 1994, na RTP, e hoje estão disseminados por todos os canais (RTP 3, SIC Notícias, TVI 24 e CMTV ). A violência verbal tem sido de tal ordem que a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) manifestou-se, na última segunda-feira, em plena Assembleia da República, incapaz de agir. “A ERC tem dificuldades em intervir no desporto, porque a esfera de intervenção efetiva resume-se ao incitamento ao ódio e à violência. E é preciso fazer prova da intenção disso, o que quase nunca acontece”, referiu na altura João Pedro Figueiredo, vogal da ERC. Afinal o que mudou em 24 anos? “No Jogo Falado cada uma das pessoas representava-se a si própria e tínhamos o lema de que o futebol era a coisa mais importante das menos importantes. Hoje parece que o futebol é a coisa mais importante da vida das pessoas”, sublinha ao DN Paulo Catarro, moderador do primeiro programa com adeptos na televisão portuguesa. O painel era formado por Fernando Seara (Benfica), Dias Ferreira (Sporting) e Guilherme Aguiar (FC Porto). Este último salienta que o Jogo Falado não tinha “nada a ver com os programas atuais e tínhamos um excelente ambiente e depois do programa íamos todos jantar ao Chimarrão, junto ao Campo Pequeno”.
Guilherme Aguiar, atualmente no Dia Seguinte da SIC Notícias, sente que as coisas “descambaram” de lá para cá porque “alguns programas atingiram um limite complicado”, muito embora reforce que no painel que divide com Rui Gomes da Silva (Benfica) e Paulo de Andrade (Sporting) nunca se tenha “ultrapassado limites”.
João Gobern, adepto do Benfica no programa Trio d’Ataque da RTP 3 juntamente com Miguel Guedes (FC Porto) e Augusto Inácio (Sporting), salienta que um formato destes “faz sentido com paixão”. “Não se pode pedir imparcialidade. Não me sinto a representar um clube, ninguém me diz o que devo dizer, decido pela minha cabeça”, complementa Gobern, que admite que noutros programas “relativamente a algumas pessoas de forma sistemática, noutras de forma episódica, já houve momentos em que o discurso se confundiu não tanto como um incitamento à violência mas como uma câmara de eco desses ódios e rivalidades e amplificador de desconfianças e suspeições”.
Concretizando, João Gobern aponta as baterias a dois canais muito específicos. “É inevitável. Quando olhamos para muitas mesas-redondas da CMTV temos lá pessoas lamentáveis e que conciliam o pensamento mais básico com aquilo que é o grande tédio destes programas, que é ouvirmos sempre o mesmo discurso. Além do nível muito básico de uma parte da CMTV há um programa que é profundamente lamentável quase todas as semanas, que é o Prolongamento e que passa na TVI 24. Não distingo bons de maus, o tom do programa é errado, é um programa que é falado sempre aos gritos, ao fim de 30 segundos está a partir para o insulto pessoal, quando o que está em causa é o futebol e os clubes e não as pessoas. É um mau exemplo do que é o circo televisivo. Entre palhaços e contorcionistas, a coisa está bem servida ali.”
Para Gobern, o problema podia resolver-se caso existisse “uma autorregulação” das estações porque