Diário de Notícias

Marlon Lipke, o “empresário verde” quer ser feliz na Ericeira

O português filho de alemães vai tentar ganhar, pela primeira vez, na catedral do surf nacional. Dá o exemplo de Cristiano Ronaldo para considerar Portugal o melhor país do mundo

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PEDRO MIGUEL NEVES A Liga MEO Surf tem o seu tiro de partida em Ribeira d’Ilhas (13 a 15 de abril) e Marlon Lipke quer uma folga da missão de empreended­or ecológico para surfar, divertir-se e, porque não, ganhar pela primeira vez naquela que é uma das catedrais do surf nacional.

Marlon Lipke é um cidadão do mundo com os pés bem fincados em Portugal. Na antecâmara da sua participaç­ão na etapa de abertura da Liga MEO Surf, em Ribeira d’Ilhas, o surfista algarvio filho de alemães, passou pelo World Tour em 2009 e, como todo o surfista de carreira, faz da viagem um modo de vida acarinhado. No entanto, diz que por nada trocava o “jardim à beira-mar” plantado: “Passo muito tempo no Algarve mas estou a estudar a compra de um apartament­o em Lisboa. Adoro o contraste entre o Algarve e a vida social e a energia de Lisboa.”

Em suma, apesar de no ano solitário que passou a competir no World Tour ter competido pela Alemanha, por questões de patrocínio, tem muito orgulho do seu país. “Portugal é o melhor país do mundo, como o Cristiano mostrou no outro dia, com aquele golo espectacul­ar...”, atira, recordando com óbvio prazer a bicicleta de Ronaldo a Buffon e as ondas que este provocou por todo o mundo.

O cidadão do mundo, o surfista e o patriota cruzam-se com estrondo nos novos projetos que Marlon Lipke tem na manga por estes dias. Apesar de ser um dos mais bem-sucedidos surfistas de competição do nosso burgo, Lipke assume que tem um plano B já na cozinha. Literalmen­te.

“Estou a preparar a abertura de um café na Rua de São Paulo, em Lisboa, no Cais do Sodré, ao lado do Mercado Time Out. Vai chamar-se Comoba e vai comerciali­zar comida biológica, café... enfim, tudo bio e sem recurso a plásticos. Até os detergente­s de limpeza vão ser biológicos”, revela, demonstran­do grande preocupaçã­o com as questões ambientais e um dos grandes problemas que afetam o seu lugar favorito de recreio, o mar: “É um tema que me preocupa muito porque a quantidade de plástico que polui o mar, hoje em dia, é absolutame­nte surreal. E é algo que, espero, vai mobilizar muita gente nos próximos anos. Porque há tanta coisa que se pode fazer para minorar esse impacto, tantas alternativ­as ao plástico... elas existem, só temos de as usar!”

Marlon Lipke está apostado em levar esta cruzada ecológica para a frente em todas as suas aventuras de empreended­or, uma vertente que assume cada vez mais importânci­a na sua vida. “Hoje tenho o patrocínio da RVCA, marca do grupo Despomar, um dos históricos do surf nacional, e que me faz sentir muito bem, pois é uma verdadeira família e pela qual me dá gozo fazer coisas. Mas sempre foi muito complicado para mim conseguir patrocínio­s em Portugal, pelo que cedo percebi que tinha de começar a mexer-me para outros lados”, explica.

E foi essa necessidad­e que o levou a fundar, junto com o amigo Gony Zubizarret­a, uma marca de acessórios de surf, a Jam Traction, também esta prestes a sofrer uma “limpeza” ecológica: “Fundei há alguns anos, com o Gony, a Jam Traction, e tinha tudo espalhado: a em- O estilo de Marlon Lipke, o luso-alemão que também é empresário e com muitos planos fora do surf presa estava sediada em Inglaterra, a fábrica noutro país ainda... mas resolvemos trazer tudo para Portugal e está a ser complicado. A ideia é começar a usar apenas materiais biodegradá­veis em vez dos reciclados, que só perpetuam o problema, mas em Portugal é tudo mais difícil. Desde a burocracia à carga fiscal, à ausência de incentivos... aqui, a partir do segundo ano, qualquer empresa empresta dinheiro ao Estado através dos impostos. Só depois, no final do ano, eles veem se te devolvem o dinheiro. Em Inglaterra é tudo mais simples. Mas, lá está, queremos fazer isto em Portugal.”

Mesmo a pesquisa de fornecedor­es é complicada, lamenta Lipke: “Contactámo­s uma entidade no Algarve que faz materiais a partir de algas mas ainda estamos à espera de resposta. Mas não vamos desistir, pois o objetivo é fazer da Jam uma marca ambientalm­ente sustentáve­l, com recurso a materiais biodegradá­veis.”

E com tudo isto, como fica o surf?

“O surf e a competição continuam a ser partes importante­s da minha vida. Vou à Ericeira, antes de mais, para me divertir, para estar com os meus amigos do surf, rever velhos conhecidos, como o Nick [Uricchio], da Semente, e outros. Mas depois, quando estiver no heat, é para ganhar.”

E o grande adversário de Lipke é mesmo a onda, explica: “O meu surf não encaixa bem com a onda de Ribeira, acho-a mole e não me puxa, mas já fiz ali alguns bons resultados, já fui terceiro. Falta-me ganhar ali, quem sabe se não é desta?...”

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