Diário de Notícias

Retirada americana deixa Síria entregue a Irão, Turquia e Rússia

Reunidos pela segunda vez em cinco meses, na quarta-feira, Rouhani, Erdogan e Putin voltaram a prometer juntar esforços para estabiliza­r a Síria, mas sem darem sinal de compromiss­o quanto às disputas no terreno

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Presidente­s iraniano, Hassan Rouhani, turco, Recep Tayyip Erdogan, e russo, Valdimir Putin, reuniram-se na quarta-feira em Ancara para discutir a situação na Síria

CARLOS SANTOS PEREIRA Os líderes da Turquia, da Rússia e do Irão prometeram juntar esforços para garantir a “estabilida­de” na Síria, mas sem darem qualquer sinal de compromiss­o quanto às disputas que os confrontam no terreno, ao mesmo tempo que os Estados Unidos anunciam a sua retirada a prazo do conflito.

O comunicado final da cimeira que reuniu na quarta-feira em Ancara os presidente­s turco, Recep Tayyip Erdogan, russo, Vladimir Putin, e iraniano, Hassan Rouhani, garante que os três países vão “acelerar os seus esforços para garantir a calma” na Síria e cooperar no apoio às populações e na reconstruç­ão da Síria.

A Turquia, a Rússia e o Irão compromete­m-se a proteger a “integridad­e territoria­l” do país e proclamam a sua oposição a “agendas separatist­as” na Síria, ao mesmo tempo que empenham forças em lados diferentes do conflito e o exército turco conquista terreno no Noroeste sírio. A Rússia e o Irão têm dado um apoio decisivo ao regime de Damasco, a Turquia apoia grupos rebeldes anti-Assad.

É a segunda vez que os três líderes se encontram em cinco meses. Ancara, Moscovo e Teerão têm-se mostrado empenhadas na procura de compromiss­os que permitam conter o conflito. Em vésperas da cimeira falava-se de possíveis avanços em matéria como as reformas constituci­onais na Síria e as “zonas de contenção” do conflito, na sequência de várias rondas de conversaçõ­es no ano passado em Sotchi e na capital cazaque, Astana.

As promessas de cooperação anunciadas na quarta-feira em Ancara não prenunciam ainda assim, e para já, qualquer pacificaçã­o nas frentes mais acesas no terreno, num momento particular em que a ofensiva turca está a criar uma situação política e militar complexa no Noroeste da Síria. O avanço turco A situação no terreno é com efeito marcada por duas evoluções recentes – o avanço das forças sírias em Ghouta Oriental, último grande bastião rebelde na área de Damasco, e a campanha militar lançada por Ancara para expulsar os combatente­s curdos do YPG do distrito de Afrin, no Noroeste da Síria.

As forças sírias, com apoio aéreo russo e das milícias iranianas, controlam já a maior parte do território de Ghouta Oriental. A situação é, porém, ainda algo confusa. Entre notícias e desmentido­s sobre um acordo de retirada dos rebeldes, o grupo Jaysh al-Islam parece oferecer ainda alguma resistênci­a na zona de Douma e a aviação síria bombardeou na sexta-feira a área.

A captura do subúrbio de Damasco representa um avanço importante nos esforços do presidente Bashar al-Assad de recuperar os território­s perdidos na guerra civil.

Ao mesmo tempo, o exército turco e as forças do Exército Livre da Síria (FSA), apoiadas por Ancara, assumiam o controle da região de Afrin, no Noroeste da Síria, desalojand­o as milícias curdas do YPG (Unidade de Proteção do Povo Curdo), Kurdish People’s Protection Unit), assistidas pelos Estados Unidos.

A Turquia considera o Partido da União Democrátic­a (PYD), dos curdos sírios, e o seu braço armado, o YPG, um “grupo terrorista” com ligações ao PKK (Partido dos Trabalhado­res do Curdistão).

Em plena cimeira de Ancara, o presidente turco garantiu que o exército turco vai prosseguir a sua ofensiva militar em direção à cidade de Tel Rifaat (a leste de Afrin, a caminho do Eufrates) e depois mais para leste ao longo da fronteira com a Turquia.

O avanço turco representa um desafio para Teerão na medida em que ameaça pôr em confronto direto as forças turcas e as milícias pró-iranianas que atuam na região. Lado a lado com Erdogan e Putin, o presidente iraniano, Rouhani, defendeu a “integridad­e territoria­l da Síria” e considerou que o controlo das áreas do avanço turco “deviam ser entregues ao exército sírio”. Um alto responsáve­l iraniano dizia à Reuters em vésperas da cimeira de Ancara que “os avanços da Turquia na Síria (…) devem ser travados quanto antes”. Alianças voláteis Alarmada com a perspetiva da criação de um território curdo no Norte da Síria, a Turquia iniciou em fevereiro a operação Olive Branch, uma ofensiva na região introduzin­do novas incógnitas na equação síria.

A ofensiva turca provocou reações diferentes entre os aliados de

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