O Carteiro de Pablo Neruda com degustação siciliana
A 21.ª Festa do Cinema Italiano convida os lisboetas para ver hoje e amanhã Il Postino. Antes há um jantar com produtos da localidade que recebeu as filmagens do clássico
Saudades de O Carteiro de Pablo Neruda, de Michael Radford? O filme que embeveceu os portugueses em 1995 e 1996 (saudades de quando os filmes poderiam ficar mais de um ano em cartaz...) é o “anfitrião” da mais aguardada iniciativa da Festa do Cinema Italiano, o Cine-Jantar, neste ano com sessão dupla: hoje e amanhã, 19.00, no Mercado de Santa Clara.
O buffet deste Cine-Jantar em torno de Il Postino faz parte das memórias afetivas da própria rodagem do mítico filme. A direção da 21.ª Festa do Cinema Italiano convidou Clara Rametta, a dona do hotel onde a equipa do filme se alojou na ilha de Solina, o Signum, para preparar um repasto verdadeiramente siciliano, algo que o próprio protagonista do filme, Massimo Troisi, comeu durante as semanas em que lá esteve. Delícias típicas que foram preparadas em conjunto com DanielaVirgoni, produtora local de produtos da ilha.
Quando as apanhamos em plena preparação destas duas grandes noites de cinema e culinária, contam-nos muito divertidamente que trouxeram na mala o azeite local, aquele “que faz ressuscitar os mortos”, e os vinhos da região. Malas cheias para que nada falte. O menu será todo de receita de Solina e apenas os vegetais serão comprados em Lisboa. Quem quiser pagar 25 euros pelo filme e pelo jantar terá um festim de petiscos que inclui focaccia sicula, almôndegas de carne de vaca com passas e pinhões (Clara garante com vigor que é uma experiência agridoce tremenda), formacappero, queijos sicilianos, gelado de Malvasia, fusilli de pesto de alcaparras, a famosa caponata (salada de beringela e tomate) e a não menos famosa salada eliana, com batata, cebola, azeitonas e alcaparras. Uma degustação que promete vertigem siciliana, sobretudo porque tudo é servido com o vinho Malvasia, com um sabor único.
Estes eventos cineculinários em torno de O Carteiro de Pablo Neruda acontecem muitas vezes. Patricia Gangi, a organizadora e relações-públicas, conta que depois de Lisboa há uma data para Nova Iorque. Na própria ilha de Salina, há quatro anos que se celebra anualmente o filme, uma das grandes atrações para os turistas, onde até já se instituiu o prémio Massimo Troisi. “Obviamente, o filme marcou a nossa terra. Toda a gente visita a casa de Pablo Neruda e até existe uma escultura de Massimo Troisi. Todo o mundo ama O Carteiro de Pablo Neruda.”
Memória forte da rodagem do filme foi a delicadeza de Massimo Troisi, ator que interpretou o carteiro em estado terminal – viria a morrer logo a seguir ao final das filmagens: “Ele adorava a nossa comida, mas como estava muito mal não conseguia comer muito. Lembro-me de uma vez lhe termos feito pizza: adorava! O Massimo era excecional, alguém muito discreto que nunca queria incomodar. Tinha a doçura da sua personagem. Também a Maria Grazia Cucinotta, a atriz, apaixonou-se pela nossa ilha. Ela todos anos nos visita”, diz-nos Clara, que no seu hotel tem uma suíte chamada Massimo Troisi.
Quanto ao filme, 24 anos depois terá a mesma delicadeza e simpatia? Il Postino é já um clássico mesmo não sendo uma obra-prima. Será sempre um filme armado e desarmado pelo talento enorme de Massimo Troisi, um dos maiores talentos cómicos do cinema italiano.
Estes eventos cineculinários acontecem muitas vezes. Depois de Lisboa há já data para Nova Iorque