Operação de cerco dos capacetes-azuis no bairro PK5 permitiu deter sete indivíduos e recolher documentos de grupos criminosos
Uma operação noturna da ONU e da polícia da República Centro-Africana (RCA) no bairro PK5, em Bangui, provocou mais de uma dezena de feridos entre os capacetes-azuis, dos quais um paraquedista português, soube o DN junto de fontes militares.
O soldado português sofreu ferimentos ligeiros provocados por estilhaços de uma granada ofensiva, explicou o porta-voz do Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), comandante Coelho Dias. Este oficial, que se escusou a dar pormenores da operação em que também participaram capacetes-azuis – polícias e militares – egípcios, precisou que o paraquedista se manteve no terreno até ao fim da operação e não precisará de regressar a Portugal para ter assistência médica adicional. O Presidente da República, em contacto com o comandante da força portuguesa em Bangui, desejou “rápidas melhoras” ao soldado ferido, indicou o Palácio de Belém.
De acordo com os dados obtidos, a operação – acompanhada no terreno pelo comandante operacional da ONU na RCA, o tenente-general senegalês Balla Keita – iniciou-se cerca das 2.00 da madrugada e durou até ao nascer do Sol, envolvendo 120 portugueses, entre eles os controladores aéreos táticos da Força Aérea, referiu o EMGFA.
Os polícias envolvidos na operação conseguiram deter sete elementos – quatro na área de operações portuguesa – dos grupos criminosos Força e Grupo 50/50, que dominam o bairro muçulmano PK5 e cujas bases foram atacadas pelas forças locais e da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da RCA (MINUSCA).
Os capacetes-azuis fizeram mais de três dezenas de feridos, segundo dados hospitalares citados pela AFP, além de destruírem as viaturas usadas pelos grupos criminosos e terem apreendido documentos, armas e munições.
A exemplo do ocorrido há dias com uma patrulha portuguesa naquele bairro de Bangui, populares que apoiam os grupos criminosos no PK5 voltaram a ameaçar os contingentes da MINUSCA “de forma ostensiva”, procurando dificultar a sua movimentação pelas ruas do local, disse uma das fontes.
O ataque da semana passada contra a patrulha de 15 militares portugueses iniciou-se ao princípio da noite, tendo os óculos de visão noturna usados pelos paraquedistas sido fundamentais para conseguir ver os atacantes e distinguir as mulheres e crianças atrás dos quais eles se escondiam.
Estas operações resultam do compromisso assumido pelo tenente-general Balla Keita de desmantelar os grupos criminosos que controlam o bairro PK5, considerado como o centro económico da capital da RCA. Depois de o comandante operacional da MINUSCA tornar conhecida aquela posição, o chefe de um dos grupos criminosos visados disse que os capacetes-azuis passariam a ser atacados quando circulassem naquela zona.
O primeiro ataque foi precisamente contra a patrulha de 15 paraquedistas portugueses, os quais tiveram de chamar um primeiro reforço de mais 15 soldados e depois mais 30. Esse ataque, que durou cerca de cinco horas, ocorreu dias depois de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter visitado o contingente português da MINUSCA e o que atualmente comanda a missão de treino da UE na RCA. Recebido pelo homólogo, Marcelo Rebelo de Sousa quebrou o protocolo na passagem pelo centro de Bangui ao sair do carro para andar entre os populares.