Diário de Notícias

Barbosa e Marina avançam no mesmo dia da detenção

Há vida na esquerda além de Lula na corrida à presidênci­a. Dois candidatos prometem baralhar as contas

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ELEIÇÕES Mais ou menos ao mesmo tempo em que o Brasil e mundo se concentrav­am na ordem de prisão, no discurso e na ida para Curitiba do antigo presidente Lula da Silva, dois candidatos com percursos de vida semelhante­s ao do velho sindicalis­ta avançavam discretame­nte rumo às presidenci­ais de outubro. Joaquim Barbosa e Marina Silva prometem baralhar as contas no campo do centro-esquerda.

Em comum com Lula, a origem humilde num país cruelmente desigual que costuma cortar pela raiz qualquer tentativa de ascensão social. Marina, ambientali­sta com fama internacio­nal, ministra da área nos primeiros governos do PT e terceira classifica­da nas últimas duas eleições, não é propriamen­te uma grande novidade.

Mas desta vez concorre por um partido fundado por ela e construído à sua medida, ao contrário do que sucedeu em 2010 e 2014, quando teve de se adaptar aos partidos que a acolheram. O Rede Sustentabi­lidade, porém, é ainda uma pequena força, com tempo eleitoral reduzido e por isso dependente de campanha.

A biografia de Marina, discípula de Chico Mendes, o seringueir­o do Amazonas assassinad­o em 1988, é conhecida dos brasileiro­s: nasceu pobre, foi empregada doméstica, quase se tornou freira mas formou-se em história e tornou-se uma referência na área ecológica.

Nas últimas eleições resolveu apoiar Aécio Neves, candidato do PSDB, de centro-direita, derrubando as pontes com o seu antigo partido, o PT de Lula e Dilma Rousseff. Agora corre mais ao centro, entalada entre as múltiplas candidatur­as de direita e de esquerda.

Joaquim Barbosa esperou por sexta-feira, último dia do prazo de inscrições eleitorais, para se filiar no PSB, curiosamen­te o partido pelo qual Marina concorreu há quatro anos após a morte do candidato Eduardo Campos. Filho de pedreiro e de doméstica, foi empregado de limpeza, trabalhou numa gráfica e estudou numa escola pública antes de se formar em Direito e completar o mestrado e o doutorado na Alemanha. Chegou a juiz do Supremo Tribunal Federal – foi o primeiro presidente negro da suprema corte – e destacouse no papel de lutador anticorrup­ção durante o julgamento do mensalão.

Concorrend­o por um partido de centro-esquerda, Barbosa pode mesmo assim, no entender de cientistas políticos, roubar votos ao candidato mais à direita de todos, Jair Bolsonaro, do PSL. “Se representa­r o papel de justiceiro, depois da sua atuação no mensalão, combate Bolsonaro”, diz Michael Mohallem, especialis­ta da Faculdade Getúlio Vargas.

Barbosa e Marina juntam-se a Ciro Gomes (PDT), Manuela d’Ávila (PCdoB), Guilherme Boulos (PSOL) e provavelme­nte Fernando Haddad, substituto de Lula no PT como candidatos do centro para a esquerda. J.A.M.

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