Volvo Ocean Race. Mudança de liderança em etapa trágica
Etapa em que um velejador morreu terminou ontem com a chegada do Mapfre, que perdeu o primeiro lugar na classificação. Duas equipas ficaram pelo caminho – mas vão regressar
JOÃO PEDRO HENRIQUES A morte chegou às tripulações da Volvo Ocean Race (VOR) a 26 de março, estava quase a amanhecer. Foi nessa altura que, atingido por um súbito chicotear da retranca do mastro, o velejador britânico John Fisher, 47 anos – um veterano dos mares do Sul a cumprir pela primeira vez o sonho de fazer esta regata de volta ao mundo – caiu ao mar, muito provavelmente já inanimado.
Enfrentando ventos de 35 nós e ondas do tamanho de pequenos prédios, a equipa Scallywag – e com o português António Fontes a bordo – passou horas à procura de Fisher (Fish, para os amigos). Em vão. No Pacífico Sul, a 1400 milhas do cabo Horn (que separa o Pacífico do Atlântico, no extremo sul da América Latina), a equipa decidiu retirar-se da etapa.
Mas a tempestade não acabou passado o cabo Horn, continuou no Atlântico. A cem milhas da Falkland, partiu-se o mastro do Vestas (que, tirando a tragédia humana do Scallywag, tem-se revelado a equipa mais azarada da frota, forçada a desistir de três etapas anteriores por ter tido, à chegada a Hong Kong, uma colisão com uma traineira que resultou na morte de um pescador). Segue a motor em direção a Itajaí.
A etapa ditou mudanças substanciais na classificação geral. O Mapfre seguia, imperial, na liderança da geral, mas problemas graves no mastro e na vela grande obrigaram os espanhóis a reparações de 13 horas no cabo Horn. Depois, sucessivas calmarias fizeram que as 13 horas de paragem se convertessem num atraso de cinco dias. Foram ontem a última equipa (das que terminaram a etapa) a chegar a Itajaí. A demora obrigou os marinheiros a passar fome nos últimos dias – a despensa
John Fisher, velejador desaparecido
no Pacífico Sul não estava fornecida para tanto tempo no mar.
Com isto, a equipa Dongfeng, liderada pelo francês Charles Caudrelier, passou para a frente da geral, mas com apenas um ponto de vantagem sobre o Mapfre. E o Team Brunel, ao vencer a etapa, deu um salto de sexto para terceiro, mostrando – ao contrário do que tinha acontecido até agora – que se mantém em jogo.
Para a equipa Turn the Tide on Plastic, que tem a bordo o português Frederico Melo, esta acabou por se revelar a melhor etapa de todas, com o quarto lugar final, apesar de terem também enfrentado graves problemas no mastro. Melo é agora o segundo velejador profissional português a passar o Horn nesta regata, depois de João Cabeçadas, nos anos 80 do século passado.
A etapa Auckland (Nova Zelândia)-Itajaí (Brasil) fez então jus, da forma mais trágica possível, à fama de ser a etapa rainha da regata – por ser a mais difícil (e todos os veteranos da prova afirmam que neste ano foi mais difícil do que nos outros). Dos sete barcos concorrentes, só cinco chegaram ao fim da etapa (e apenas dois sem problemas de maior). Todas as equipas tencionam estar na linha de partida da próxima etapa, dia 22, em direção a Newport (EUA).