Honrar os combatentes, celebrar a Europa
Hoje é dia de honrar os antigos combatentes, celebrando a paz.
Há precisamente cem anos, no dia 9 de abril de 1918, no vale do rio Lys, no Norte de França, as Forças Armadas portuguesas estavam em combate. Eram homens da segunda divisão do CEP – Corpo Expedicionário Português, organizado na sequência da declaração de guerra da Alemanha a Portugal, em março de 1916. Recordemos todos e cada um deles individualmente. Nome a nome, soldado a soldado – tantos quantos pereceram. Homenageando-os. Bem como tantos outros que, portugueses ou estrangeiros, entregaram a sua vida nessa guerra horrenda que, há um século, determinou a história do mundo e a de todos, países e pessoas, que por ela foram afetados. Uma guerra que ficou a marcar o início do século XX e da nossa contemporaneidade. Uma guerra global, uma guerra brutal.
A Europa estava em guerra e Portugal combatia. Um massivo bombardeamento varreu as linhas de abastecimento, cortou as comunicações e destruiu completamente as fortificações de defesa. As posições nas trincheiras foram defendidas à baioneta, sucumbindo perante a avassaladora superioridade numérica contrária. Neste dia, há precisamente cem anos, Portugal sofreu uma pesada derrota . Centenas de militares perderam a vida, milhares foram feitos prisioneiros, dos quais muitos viriam a falecer, vítimas dos ferimentos ou de doença.
La Lys ficou a constituir o momento mais dramático da participação de Portugal na Grande Guerra. Gravado na história e na nossa memória individual e coletiva; justamente consignando o dia 9 de abril como Dia do Combatente, dedicado a todos quantos pereceram no cumprimento do dever de servir Portugal.
Um século depois, quero prestar-lhes homenagem, renovadamente, reiteradamente: aos que morreram, sofreram, foram presos, e aos seus familiares e descendentes. Certos de que nesta homenagem aos combatentes de La Lys homenageamos as nossas Forças Armadas e todos quantos, antes e depois, foram chamados a combater ao serviço de Portugal.
La Lys foi de alguma forma o epílogo da participação de Portugal na Grande Guerra, que, por junto, envolveu mais de cem mil soldados portugueses, repartidos entre África, na defesa nas colónias portuguesas de Angola e Moçambique, e a frente europeia. Entre estes, cerca de oito mil perderam a vida nas trincheiras da Flandres ou nos campos de batalha de África.
Como em todas as guerras, não há vencedores. Não há vitória possível quando recordamos que, em quatro anos de carnificina, foram mobilizados cerca de 65 milhões de combatentes, dos quais dez milhões morreram e 29 milhões foram contabilizados entre feridos, desaparecidos e prisioneiros.
A Europa era um campo de batalha. Aquele angustiante 9 de abril de 1918 não deve ser apagado da memória. Como não pode ser apagado da memória nenhum dia de guerra. O futuro não pode construir-se sobre ressentimentos. Mas a história, avivada e respeitada, serve para compreendermos o passado e melhor prepararmos o futuro.
A Europa de 1919, enfraquecida pelo conflito, politicamente mais fragmentada, economicamente mais dividida, viveria o triunfo dos nacionalismos, a criação de novos Estados, a multiplicação de fronteiras e, em breve o impacto de uma crise de proporções mundiais, em breve acompanhada pela emergência dos autoritarismos/fascismos e por um novo conflito mundial, igualmente brutal e avassalador.
A Europa reergueu-se sobre feridas duríssimas provocadas por duas guerras mundiais. Dedicou-se a construir uma união de nações empenhadas em promover a paz, reforçar a solidariedade entre os povos, no respeito pela identidade de cada um, e assegurar a todos, homens e mulheres, independentemente da sua raça e do seu credo, a liberdade e a justiça. É nessa Europa que nos revemos e é essa Europa que queremos continuar a construir. A paz na Europa é a maior vitória da União Europeia. Por isso, honrar os antigos combatentes é celebrar a Europa.
Portugal é europeu. Não passou a ser europeu em 1986, quando aderiu à então Comunidade Económica Europeia. Portugal também já era europeu em 1918.
Hoje, como há cem anos, Portugal está na linha da frente dos grandes combates em defesa da Europa. Hoje, como há cem anos, fiel à sua histórica matriz universalista e humanista, Portugal tem sabido estar à altura dos mais estimulantes desafios da União Europeia em busca de maior e melhor crescimento, de melhor emprego, de maior coesão e justiça social, de cidadania europeia plena e equilibrada entre direitos e deveres.
Hoje, como há cem anos, Portugal pode contar com as suas Forças Armadas, no desempenho de todas as missões que lhe são confiadas.
Hoje, como há cem anos, os portugueses continuam a honrar o seu país e a Europa na luta incessante pela paz, pela liberdade, pela democracia, pela justiça, pela dignidade das pessoas, pela luta frontal contra as desigualdades e pelos direitos humanos.
Portugal estará sempre na linha da frente destas batalhas.
La Lys ficou a constituir o momento mais dramático da participação de Portugal na Grande Guerra. Gravado na história e na nossa memória individual e coletiva