Diário de Notícias

LA LYS NETA DO SOLDADO MILHÕES RECORDA BRAVURA PORTUGUESA

OPINIÃO DE ANTÓNIO COSTA: “HONRAR OS COMBATENTE­S, CELEBRAR A EUROPA”

- JOÃO FRANCISCO GUERREIRO

Discreta, entre tantos, Lurdes quase passaria despercebi­da, não houvesse ali quem a conhecesse e gritasse, quando a comitiva passou: “Ela é a neta do Milhões.” Só assim se percebeu quem era aquela mulher que estava ali para “ver a cerimónia e pela memória do avô”.

Lurdes Milhões é neta de Aníbal Augusto Milhais, o português que ficou na história da Primeira Guerra Mundial, pela bravura enquanto soldado, que lhe valeu uma alcunha que se tornou um nome de família para todos os seus descendent­es.

Emigrada “há 30 anos”, Lurdes Milhões gostaria que o centenário da Batalha de La Lys, que se assinala hoje, e a presença do Presidente e do primeiro-ministro servissem “para que os franceses soubessem que combatemos ao lado deles e fomos aliados. Muitos não sabem isso, por isso é bom que o presidente francês receba o Presidente português, para avivar essa memória”. Na Avenida dos Portuguese­s, assim batizada em 1918 como uma homenagem francesa à bravura lusitana na Grande Guerra, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa descerrara­m uma placa a marcar a passagem do centenário da batalha. Na cerimónia em que se assinala a data de uma notável derrota das tropas portuguesa­s, o Presidente evocou “a força” capaz de conduzir a vitórias em “momentos difíceis”.

“Todos juntos, como sempre, ultrapassa­ndo aquilo que é menor e é secundário. Juntos no essencial. E o essencial, hoje, é evocar os melhores de todos nós que se bateram, há cem anos, por Portugal e pela França”, disse o Presidente, sublinhand­o que a cerimónia serviu também para “evocar a nossa amizade, mas também a nossa força, porque somos fortes – no nosso território e fora do nosso território”.

“[Somos] fortes mesmo nos momentos mais difíceis [e] acabamos por vencer sempre. Todos os que aqui estão – e muitos mais –, sois todos vencedores”, frisou Marcelo Rebelo de Sousa, que falava ao lado de António Costa. Marcelo agradeceu a presença de várias dezenas de portuguese­s, representa­ntes de “muitos milhares ou até mesmo mais de um milhão – um milhão e meio – de portuguese­s e seus descendent­es, que são também franceses, mas sem nunca esquecerem as próprias raízes”. Celorico em Paris Celorico de Basto “é uma terra tão pequena e saíram de lá cinco combatente­s” para o pântano de Pas-de-Calais, no Norte de França. Regressara­m os cinco, em 1918. “Nenhum morreu na guerra. Um deles era o Zé Lopes, o meu avô”, conta o neto, que herdou o nome do antigo combatente. José Lopes, o neto, emigrou para França “a salto”, em 1974, ainda sem saber o rumo que o país havia de tomar em abril. “Não queria fugir ao ultramar, mas sim juntar dinheiro, para ter algum quando fosse para a guerra.” Marcelo talvez não tenha reparado na placa que o emigrante exibia ontem com o brasão da terra do Presidente e uma frase em “honra aos nossos soldados, mortos pela França”.

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Marcelo Rebelo de Sousa evocou ontem “os melhores de todos nós que se bateram, há cem anos, por Portugal e pela França”
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Lurdes Milhões emigrou para França há 30 anos

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