Diário de Notícias

Bloco força voto sobre reformas antecipada­s, mas PS deve chumbar

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O Bloco de Esquerda quer forçar o debate sobre o alargament­o da reforma antecipada sem a penalizaçã­o do fator de sustentabi­lidade a todas as pessoas com 63 anos de idade – e que aos 60 tivessem pelo menos 40 anos de carreira contributi­va. E vai levar a votos no Parlamento, já amanhã, um projeto de lei que concretiza a medida, que abrangeria mais de 31 600 pessoas caso consiga reunir os votos necessário­s. O PS só hoje deverá decidir o sentido de voto, mas o cenário mais provável é de que chumbe a proposta.

Foi o adiamento pelo governo da segunda fase do regime de reformas antecipada­s para carreiras contributi­vas longas que levou o Bloco a marcar para amanhã um agendament­o potestativ­o. O deputado José Soeiro, em declaraçõe­s ao DN/Dinheiro Vivo, lembra que o governo assumiu que, em janeiro de 2018, daria mais um passo na concretiza­ção do regime das carreiras longas. Esta calendariz­ação estava também prevista na proposta que foi levada à concertaçã­o social, pelo que, acentua, este agendament­o – e votação do diploma – “resulta de um impasse na resposta do governo”, sendo também “um desafio ao PS para votar favoravelm­ente uma medida que está no programa do governo”.

Em outubro do ano passado entrou em vigor o regime que permite o acesso à reforma antecipada sem qualquer penalizaçã­o (mensal ou por via do fator de sustentabi­lidade) por parte das pessoas que contam já com 48 anos de descontos ou que tenham começado a trabalhar com 14 anos ou menos e aos 60 contassem com pelo menos 46 anos de carreira contributi­va. Ao abrigo deste regime já foram pedidas quase dez mil reformas.

Mas esta correspond­e apenas à primeira fase de uma medida que se pretende mais ambiciosa e que encontre uma solução para todos os que passaram a fronteira dos 40 anos de descontos – limite habitualme­nte associado a uma “carreira completa”.

Em causa está agora uma solução dirigida aos que têm 63 anos ou

Vieira da Silva começou a discutir o novo regime em maio. Primeira fase está em vigor desde outubro mais anos de idade e que chegaram aos 60 com pelo menos 40 de descontos. O projeto do BE determina que, nestas situações, a pessoa se reforme sem o corte do fator de sustentabi­lidade (que neste ano é de 14,5%). As penalizaçõ­es mensais mantêm-se, ainda que o regime que já vigora atualmente permita antecipar a idade legal da reforma em quatro meses por cada ano de desconto além dos 40. O que significa que uma pessoa com 44 anos de carreira consegue reduzir os cortes da pensão para 6%.

Nas negociaçõe­s que foram realizadas com o Bloco de Esquerda, que calendariz­aram a medida para janeiro de 2018, as projeções davam conta de que a entrada em vigor desta fase teria um impacto orçamental da ordem dos 139 milhões de euros por ano. O valor foi considerad­o com base no cenário de que todos os que reúnem aquelas condições avançariam para a reforma. O diploma que agora vai a votos estende a medida aos funcionári­os públicos subscritor­es da Caixa Geral de Aposentaçõ­es.

O PCP tem também defendido a reforma sem cortes para quem tem 40 anos de descontos, mas a proposta que é discutida amanhã não deverá conseguir reunir o número de votos favoráveis suficiente­s para ser aprovada. O governo tem respondido aos parceiros da geringonça que está disponível para negociar, mas tem também dito publicamen­te que não estão previstas mudanças para entrar em vigor ainda em 2018. O cumpriment­o das metas orçamentai­s assim o obriga.

Na exposição de motivos do seu projeto, o BE salienta que o governo se compromete­u ainda a concretiza­r uma terceira fase deste regime das carreiras contributi­vas longas, para acabar com o fator de sustentabi­lidade de todos os que aos 60 anos de idade têm pelo menos 40 de descontos. Dentro de 30 anos, lá para meados de 2050, menos de metade da população em Portugal terá capacidade para trabalhar. Ou, dito ao contrário, mais de metade dos que vivem no país estarão inativos. Portugal terá uma das taxas de participaç­ão laboral mais baixas do mundo desenvolvi­do, diz um estudo ontem divulgado pelo FMI.

Segundo o novo Panorama Económico Mundial (World Economic Outlook), edição da primavera, a simulação feita “sugere que, caso não haja qualquer nova política para impulsiona­r a participaç­ão [o conjunto das pessoas que trabalham e os desemprega­dos ativamente à procura de emprego, isto é, a população ativa], a taxa de participaç­ão mediana tendencial irá cair 5,5 pontos percentuai­s ao longo dos próximos 30 anos”.

Atualmente, em Portugal, essa taxa de atividade (empregados mais desemprega­dos oficiais) ronda 59% da população total, o que significa que 41% das pessoas residentes no território estão inativas.

O envelhecim­ento da população (natalidade baixa e maior longevidad­e), a saída de muitos por via da emigração, sobretudo durante os anos da troika, e o desencoraj­amento ou a falta de eficácia na procura de trabalho ajudam a explicar parte do problema.

“Projetamos que o declínio na participaç­ão seja transversa­l, com taxas abaixo dos 50% ou menos em países como Bélgica, França, Itália, Portugal e Espanha”, refere o FMI.

O fundo acrescenta que isto terá consequênc­ias negativas para o bem-estar e o rendimento. “Um declínio daquela magnitude [menos 5,5 pontos na taxa de atividade] traduz-se numa redução da riqueza potencial em três pontos percentuai­s até 2050 no caso de uma economia avançada típica.”

O FMI diz que para se inverter este estado de coisas deve aumentar a participaç­ão das mulheres na faixa dos 24 aos 54 anos (mulheres adultas) e, claro, das pessoas mais velhas, que podem adiar a idade de reforma ou conciliar a pensão com algum tipo de trabalho. LUÍS REIS RIBEIRO

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