Diário de Notícias

Cabrita: “Temos de ganhar a batalha da autoproteç­ão”

Numa aldeia rodeada de oliveiras e carvalhos, onde as terras são ainda maioritari­amente cultivadas, o governo testou ontem o plano nacional para Aldeias e Pessoas Seguras

- PAULA SOFIA LUZ

A aldeia de Vale Florido pode não ser o melhor exemplo de perigo se ali deflagrar um incêndio, mas o ministro Eduardo Cabrita não se importou com isso, como se quisesse passar a mensagem de que é importante levar a toda a parte o plano Aldeia Segura, Pessoas Seguras. Ali, no concelho de Ansião, paredes-meias com o território queimado nos fogos de junho de 2017, está tudo pronto para a defesa de pessoas e bens, a avaliar pelo simulacro que decorreu ao final da manhã, depois de apresentad­o o guia de apoio à implementa­ção do plano traçado pelo Ministério da Administra­ção Interna, juntamente com a Autoridade Nacional para a Proteção Civil. “Nós ganhámos a batalha da limpeza contra a resistênci­a e a inércia, temos de ganhar agora a batalha da autoproteç­ão. E estamos a preparar a batalha do combate. Para que a memória não se perca com o tempo e para que se possa dizer Pedrógão Grande nunca mais”, disse Eduardo Cabrita, quando falava para os autarcas dos concelhos do interior norte do distrito de Leiria e para a presidente da Associação das Vítimas, Nádia Piazza.

O ministro aproveitou o final da assinatura do protocolo que interlaça a atuação de entidades distintas como a ANPC, a Associação Nacional de Municípios ou a Anafre (Associação Nacional de Freguesias) para vincar que esta é a única homenagem que faz sentido à memória dos nossos concidadão­s que perderam a vida no incêndio: “Fazer tudo o que é possível para renascer a esperança, num esforço coletivo, nacional.” Foi por isso que chamou à cerimónia Pedro Cegonho, presidente da Anafre, Manuel Machado, presidente da ANMP, pois serão as freguesias e os municípios a pôr em prática o plano Aldeias e Pessoas Seguras. Estão abrangidas cerca de seis mil localidade­s, em 1091 freguesias de 189 municípios, considerad­as áreas prioritári­as. É o caso de Vale Florido, uma pequena aldeia da freguesia de Alvorge, no concelho de Ansião, distrito de Leiria, onde ontem foi conhecido o primeiro oficial de segurança. Cada uma dessas localidade­s terá o seu.

Silvério Teixeira mal teve tempo de se habituar à função. Passaram poucos dias desde que foi contactado pela Autoridade Nacional para a Proteção Civil, incumbindo-o daquela importante função: se houver um incêndio na aldeia, é ele quem toca o sino a rebate, alertando os cerca de cem habitantes de Vale Florido, de modo a que se desloquem para o refúgio, localizado no Centro Cultural e Recreativo da aldeia. Ontem, o antigo guarda da PSP agora aposentado pôde exemplific­ar como seria se houvesse fogo. “Depois de tocar o sino ainda vou com um megafone percorrer as ruas da aldeia a avisar toda a gente.” E se por acaso se deparar com vizinhos que não querem deixar a sua casa? “Isso não pode acontecer. As pessoas têm de ser civilizada­s e não fazer esse finca-pé”, responde o oficial de segurança, orgulhoso desta sua nova missão. Até ontem, Vale Florido era apenas a terra natal dos pais do escritor Fernando Namora, que ali tem o nome na rua da capela, cujo terreno doaram à localidade. Agora passou a ser a primeira localidade a abraçar este plano.

Estão abrangidas pelo plano Aldeia Segura, Pessoas Seguras seis mil localidade­s, em 1091 freguesias de 189 municípios, considerad­as áreas prioritári­as

 ??  ?? A aldeia de Vale Florido, no distrito de Leiria, foi ontem palco de simulacro de evacuação do programa Aldeia Segura e Pessoas Seguras
A aldeia de Vale Florido, no distrito de Leiria, foi ontem palco de simulacro de evacuação do programa Aldeia Segura e Pessoas Seguras

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal