Diário de Notícias

Orbán reforça o poder e envia recado à UE

“As coisas não podem continuar como estão”, frisa primeiro-ministro. Tusk diz contar com ele “para manter a nossa unidade”

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“É uma vitória histórica que nos dá a possibilid­ade de nos continuarm­os a defender e a defender a Hungria”, disse Orbán

SUSANA SALVADOR Apoiado no cresciment­o económico e num discurso anti-imigração, Viktor Orbán conquistou a terceira supermaior­ia consecutiv­a na Hungria. Deixando a oposição fragmentad­a a quase 30 pontos percentuai­s de distância, o primeiro-ministro poderá agora ampliar o projeto político que lhe permite continuar a centraliza­r o poder, enquanto alimenta os nacionalis­mos na União Europeia (UE) e acentua as divisões existentes no continente.

“É uma vitória histórica que nos dá a possibilid­ade de nos continuarm­os a defender e a defender a Hungria”, disse Orbán diante dos apoiantes, depois de ter conquistad­o quase 48,5% dos votos (com uma participaç­ão a rondar os 70%). Num sistema eleitoral que beneficia o Fidesz do primeiro-ministro, essa percentage­m permite a eleição de 134 dos 199 deputados do Parlamento. “As coisas não podem continuar como estão”, indicou em relação à União Europeia, deixando claro que não é contra a Europa.

A líder da francesa Frente Nacional, Marine Le Pen, foi uma das primeiras a felicitar o primeiro-ministro húngaro. “Uma enorme e clara vitória deViktor Orbán na Hungria: a inversão dos valores e a imigração em massa defendidas pela UE são novamente rejeitados”, escreveu no Twitter, deixando o aviso: “Os nacionalis­tas podem ganhar a maioria nas próximas eleições para o Parlamento Europeu em 2019.” A Alternativ­a para a Alemanha também celebrou o resultado: “Um mau dia para a UE, um bom dia para a Europa”, escreveu a deputada Beatrix von Storch. O governo conservado­r polaco, que Bruxelas acusa de pôr em causa dos valores democrátic­os, falou na “confirmaçã­o da emancipaçã­o política da Europa Central”.

Da parte da UE, as felicitaçõ­es vieram acompanhad­as de recados: “Conto consigo para que desempenhe um papel construtiv­o em manter a nossa unidade na União Europeia”, disse o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk. O presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, deverá telefonar hoje a Orbán, com o seu porta-voz a lembrar ontem que “a UE é uma união de democracia e de valores” e que defendê-los é “o dever de todos os Estados membros, sem exceção”.

Antigo opositor ao regime comunista, que ganhou destaque quando exigiu eleições livres e a saída das tropas soviéticas da Hungria, Orbán tem apostado numa “democracia iliberal” desde que assumiu o poder em 2010 (após um primeiro mandato de 1998 a 2002 e ficar os oito anos seguintes na oposição). Isso significa que, em nome do interesse nacional, limitou certas liberdades, empreenden­do reformas profundas nos setores da justiça, media (os observador­es da OSCE criticaram a

cresciment­o do PIB em 2017 As previsões da OCDE indicam que o cresciment­o do PIB ficará em 2018 ligeiramen­te aquém, nos 3,59%. O desemprego é de apenas 3,8%. sua “parcialida­de” na campanha), economia ou cultura. Estas eleições centraram-se num só tema, a imigração (a OSCE criticou a “retórica xenófoba”), com Orbán a ser um dos principais críticos da política de portas abertas e a rejeitar a ideia de quotas, para desagrado da UE.

O líder da CSU (aliados da CDU de Angela Merkel) e ministro do Interior alemão, Horst Seehofer, que também defende limitar o número de imigrantes, disse ontem estar “muito feliz” com a vitória “que foi mais uma vez clara”. E aconselhou a UE a optar por “relações bilaterais sensatas com a Hungria”, criticando a “política de arrogância e paternalis­mo” de Bruxelas para com os Estados membros. A chanceler, através do porta-voz, disse ter felicitado Orbán, indicando que trabalhará com o governo húngaro apesar das diferenças no que respeita à política migratória.

O primeiro item na agenda do novo executivo será a aprovação do “Stop Soros”, um projeto de lei que tem como alvo as organizaçõ­es não governamen­tais e em especial o milionário norte-americano de origem húngara, George Soros. O filantropo tem trabalhado para desenvolve­r os valores liberais no seu país de nascimento, sendo acusado por Orbán de querer “transforma­r a Hungria num país de imigrantes”. A nova lei, apresentad­a ainda antes das eleições, prevê a criação de uma taxa de 25% sobre os donativos internacio­nais para as ONG que o governo diz apoiarem a migração para a Hungria. Estas têm ainda que obter a aprovação do Ministério do Interior, que lhes pode negar autorizaçã­o alegando “risco de segurança nacional”.

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