Diário de Notícias

Capitão América captura o casaco verde de Augusta

Patrick Reed, um dos mais controvers­os talentos americanos, superou os favoritos e a frieza do público da casa para ganhar o Masters

- RUI FRIAS

“O Capitão América captura Augusta.” Assim anunciou a CBS a vitória de Patrick Reed no mais célebre torneio de golfe do mundo, o Masters de Augusta, onde o jovem norte-americano entrou para a invejada galeria de golfistas com direito a vestir o mais apetecido prémio da modalidade: o famoso casaco verde, que, desde 1949, é destinado ao vencedor do torneio.

Patrick Reed, de 27 anos, é um dos mais controvers­os talentos norte-americanos da nova geração do golfe. Um jogador de instinto rebelde cujo temperamen­to fervoroso lhe valeu já momentos de protagonis­mo como um super-herói americano na Ryder Cup (torneio bienal que opõe as seleções dos Estados Unidos e da Europa), mas também várias polémicas que o acompanham desde cedo na carreira e que criaram uma fama de bad boy em seu redor. Uma espécie de herói e vilão num só.

Em Augusta, à entrada para o último dia de competição, Patrick Reed tinha três pancadas de vantagem sobre Rory McIlroy, uma das mais mediáticas figuras do golfe mundial, que aos 28 anos procurava completar o seu Grand Slam e ganhar por fim o Masters, o único dos quatro majors que ainda falta no currículo de McIlroy. Ironia do destino, quase dois anos depois de Reed ter protagoniz­ado com o norte-irlandês aquele que foi o mais emotivo duelo da vitória americana na Ryder Cup de 2016, em Hazeltine, e no qual Reed incendiou a assistênci­a com reações mais habituais em campos de futebol, como mandar calar os fãs europeus.

Nem isso, no entanto, valeu ao Capitão América da Ryder Cup os favores dos patronos do Masters (como o Augusta National Club gosta de chamar ao seu público). Nem tão-pouco o facto de Patrick Reed ter dado em tempos (2010 e 2011) dois títulos nacionais à Universida­de de Augusta State, mesmo ali ao lado. Em vez de incentivar o herói local, o público recebeu com diplomátic­a indiferenç­a o bad boy com fama de convencido que foi apanhado a conduzir sob efeitos do álcool em adolescent­e, que foi expulso da primeira universida­de (Georgia) por problemas com colegas, que não fala com os pais desde que estes sugeriram ser demasiado novo para se casar (aos 22 anos) e que pediu até para os expulsarem do campo durante a segunda volta do US Open de 2014.

McIlroy sim, foi recebido como se fosse o menino querido da casa. Um paradoxo que ajudou a alimentar a chama de Reed durante a última ronda do Masters, como o próprio confessou no final. “Penso que ninguém estava à espera de que eu pudesse mesmo ganhar. E isso também me ajudou a concentrar no meu jogo e libertar um pouco da pressão de começar o último dia na liderança”, referiu o texano (de San Antonio), novo campeão de Augusta.

Já o norte-irlandês, pelo contrário, não conseguiu lidar bem com a expectativ­a em redor do seu possível Grand Slam e assinou no último dia a pior das suas quatro rondas, com 74 pancadas, duas acima do Par, caindo para quinto. À chegada ao último buraco, a ameaça à vitória de Patrick Reed já não era McIlroy – nem mesmo o seu parceiro de Ryder Cup Jordan Spieth, que tinha fechado a sua participaç­ão neste Masters com uma fantástica última volta de 64 pancadas (oito abaixo do Par) para se colocar em terceiro com um agregado de -13 no total –, ma sim outro talentoso americano à procura do seu primeiro major: Rickie Fowler, cujo birdie final obrigava Reed a não falhar no Holly, o decisivo 18.º buraco do campo.

O Capitão América não falhou: fechou o torneio em 273 pancadas (15 abaixo do Par) e vestiu o casaco verde de novo campeão do Masters. “Toda a gente sabe que não basta o talento para ganhar aqui. É preciso também ser-se forte mentalment­e”, regozijou-se o golfista com fama de bad boy, após capturar Augusta.

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Patrick Reed veste o casaco verde com a ajuda do anterior campeão do Masters, Sergio García

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