Diário de Notícias

No seu segundo ano no cargo, Trump está a comportar-se ainda pior do que o seu currículo faria supor

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os EUA e o mundo dos piores instintos de Trump – pelo combativo ex-diretor da CIA Mike Pompeo.

Pior ainda, Trump substituiu o ex-conselheir­o de Segurança Nacional, general H.R. McMaster, por John Bolton, que será talvez o responsáve­l pela política externa com as opiniões mais perigosas em todo o mundo ocidental. Bolton é um devoto da “América Primeiro” e um arruaceiro burocrátic­o, adepto da eliminação de rivais.

O mais perigoso é que Bolton é um radical da linha dura na política externa, o falcão para acabar com todos os falcões. Entre os apoiantes mais declarados da invasão do Iraque pelos EUA, Bolton parece pensar que praticamen­te todos os problemas merecem uma resposta militar. Os atuais conflitos com a Coreia do Norte (onde ele pediu uma ação militar preventiva) e com o Irão (onde propôs repetidame­nte uma mudança de regime pela força) não são exceções.

Entre Bolton e Pompeo, as hipóteses de os EUA se retirarem do acordo nuclear com o Irão e voltarem a impor sanções a esse país aumentaram. A mera expectativ­a desse resultado já elevou os preços do petróleo, outro presente de Trump para Putin.

As coisas não estão muito melhores na frente da política económica. Agora que Trump encheu a sua equipa económica de nacionalis­tas, o protecioni­smo comercial há muito prometido está a tornar-se uma realidade. É verdade que Trump não está errado ao confrontar a China sobre o roubo de propriedad­e intelectua­l e o mercantili­smo flagrante. O que está errado é a sua abordagem: em vez de recrutar aliados como o Japão e a União Europeia para pressionar a China, ele enfureceu amigos e inimigos com tarifas unilaterai­s e outras barreiras insensatas, arriscando uma guerra comercial que prejudicar­ia toda a gente.

Sem surpresa, o comportame­nto de Trump erodiu rapidament­e a liderança global dos EUA, já que o seu desrespeit­o pelos valores democrátic­os liberais enfraquece os pilares institucio­nais da ordem mundial que os EUA defendiam desde há muito. A única maneira de impedir esse declínio é a ação das outras democracia­s liberais do mundo, na Europa, na Ásia e na Commonweal­th.

Para começar, esses países precisam urgentemen­te de defender o livre comércio e os mercados abertos. Trabalhand­o com a Organizaçã­o Mundial do Comércio, eles devem pôr em marcha um esforço coordenado para responder aos abusos tanto da China quanto dos EUA.

Além disso, esses países devem trabalhar para fortalecer o Estado de direito internacio­nal – um conceito que faz que Bolton pegue em armas – compromete­ndo-se a fortalecer as Nações Unidas, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacio­nal. Isso significa defender os princípios que ajudaram a sustentar a paz e a prosperida­de desde os anos 50, inclusivam­ente apoiando o acordo nuclear com o Irão, enquanto o país continuar a cumprir o seu lado do acordo, e procurar uma solução pacífica para a crise da Coreia do Norte.

Enquanto Trump e a sua equipa continuare­m a elaborar uma política prejudicia­l a seguir à outra, as outras democracia­s do mundo devem responder de forma eficiente e cooperativ­a. Só então a comunidade internacio­nal pode esperar até que volte a haver uma liderança americana mais responsáve­l. Ex-comissário da UE para os Assuntos Externos, é reitor da Universida­de de Oxford.

© Project Syndicate, 2018

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