Diário de Notícias

Esquerda recusa votar Programa de Estabilida­de

PCP e BE não estão satisfeito­s com notícias de Centeno. Mas vão unir-se contra projeto do CDS para levar PE a votação

- MIGUEL MARUJO

BE e PCP devem votar contra a proposta do CDS de levar a votos o Programa de Estabilida­de, que o governo vai apresentar à Comissão Europeia. A presidente centrista disse no congresso do seu partido que queria “ver se as esquerdas estão bem unidas” e a resposta dos parceiros parlamenta­res do PS ao projeto anunciado por Assunção Cristas é positiva. O que não dispensa esses parceiros de manterem sob fogo o documento que os socialista­s estão a preparar para enviar a Bruxelas – e que deverão entregar no Parlamento até sexta-feira – por causa do executivo socialista estar a querer baixar os números do défice.

Com o Orçamento do Estado para 2018, a meta do défice ficou fixada em 1,1% do PIB, mas já se sabe que o ministro das Finanças quer baixar essa meta para 0,7%. Na segunda-feira, num artigo de opinião no Público, Mário Centeno avisou que não se desvia um milímetro da linha seguida e que não vai “colocar em risco” o “sucesso” da sua política. “Podem crer”, sentenciou o ministro das Finanças, um recado que os seus parceiros não gostaram de ler. Por agora, esperam para ver o que aí vem.

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, acusou o governo de ser “mais papista do que o papa” e ironizou: “Sucesso, diz o ministro das Finanças, mas vai ter de explicar aos trabalhado­res da administra­ção pública porque afirma que não há dinheiro para aumentos salariais para trabalhado­ras que estão há oito/nove anos sem qualquer aumento.”

A coordenado­ra bloquista, Catarina Martins, avisou logo que o governo está a rasgar um compromiss­o, ao “alterar a meta que foi votada com o Orçamento do Estado” para 2018, e que para o BE, “esse seria um sinal preocupant­e uma vez que o compromiss­o político do Orçamento do Estado apontava para a necessidad­e de se aproveitar o cresciment­o económico para recuperar os serviços públicos”.

Ontem, nas páginas do Jornal de Notícias, a deputada Mariana Mortágua carregou nas teclas: “Com a mesma incompreen­são se lê outro anúncio com que Mário Centeno pretende definir à partida um orçamento que ainda não negociou: o de que não haverá aumentos para os trabalhado­res do Estado no próximo ano.”

Se o Programa de Estabilida­de não é do agrado do BE, não quer dizer que a bancada bloquista vote a favor do projeto de resolução do CDS para que seja votado esse mesmo programa. Sem conhecerem o texto centrista, BE e PCP recordam que no passado nunca acompanhar­am idênticas propostas da bancada do CDS (mesmo fazendo críticas às imposições de Bruxelas).

Ainda ontem foi apresentad­o um livro de quatro economista­s – que inclui o deputado eleito pelo PS Paulo Trigo Pereira – com propostas alternativ­as às do executivo socialista. Em Uma Estratégia Orçamental Sustentáve­l para Portugal, Trigo Pereira, Ricardo Cabral, Luís Teles Morais e Joana Andrade Vicente apontam o dedo a uma preocupaçã­o excessiva com as metas do défice, notando que é tempo de reforçar os serviços públicos. O que não é incompatív­el com a consolidaç­ão orçamental, notou o deputado socialista ao DN (ver entrevista).

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal