Diário de Notícias

BE recupera ideia de criação de rede de teatros municipais

De entre os números mostrados pelo ministro da Cultura e as críticas da oposição, Bloco fez renascer iniciativa de 2010

- MARINA MARQUES

Numa audição em que todos os grupos parlamenta­res questionar­am os cortes ao Festival de Teatro de Almada e em que a situação do Centro Dramático de Évora (CENDREV ), fora do Programa de Apoio Sustentado 2018-2021 da Direção Geral das Artes (DGArtes) na primeira fase, foi lembrada pela bancada PSD, a única proposta concreta surgiu pela voz do deputado Jorge Campos ao anunciar a intenção do Bloco de Esquerda de voltar a apresentar uma iniciativa legislativ­a para a criação de uma rede nacional de teatro e cineteatro­s.

Ao longo das mais de duas horas e meia de audição ao ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, e ao secretário de Estado Miguel Honrado, oposição apontou falhas e pediu a revisão do modelo aplicado pela primeira vez este ano enquanto PS e equipa ministeria­l reconhecer­am “pontos a afinar” mas colocaram o foco nos avanços deste modelo em relação ao anterior. Castro Mendes deixou uma garantia: “Não vamos deixar cair o concurso. Seria um absurdo deitar fora todo este trabalho.”

Declaraçõe­s feitas em resposta à deputada comunista Ana Mesquita, uma das vozes mais ativas durante a audição, que pediu não só a revisão do modelo mas também a revisão integral dos resultados do concurso, pondo em causa o júri que, defendeu, usou alguns argumentos insultuoso­s para com as estruturas candidatas aos apoios nas apreciaçõe­s que deixou em atas.

Miguel Honrado também respondeu a estas críticas, mais tarde, já com hora e meia de audição decorrida, quando tomou a palavra pela primeira vez: “Não podemos pôr em causa [o concurso] porque isso seria pôr em causa todo o sistema que desde 1996 vigora, e que é o melhor sistema de distribuiç­ão de financiame­nto público. Não nos podemos encaminhar para uma situação de descredibi­lização deste concurso. Este concurso, com todos os elementos que possam ser corrigidos, é o corolário de um trabalho feito com o setor.” Sobre o júri e as atas referidas por Ana Mesquita, de- fendeu: “Não posso nem devo comentar atas porque está em causa um processo de avaliação de candidatur­as que ainda não terminou.”

Por seu lado, o ministro da Cultura reiterou a abertura da tutela para dialogar com os agentes culturais, tal como já fizera no debate de sexta-feira na Assembleia da República. “Contem connosco”, repetiu várias vezes durante a audição, pedida com carácter de urgência por PCP e Bloco de Esquerda, após a subida de tom da contestaçã­o aos resultados provisório­s do Programa, que culminou em protestos na rua na última sexta-feira, em várias cidades. Uma demonstraç­ão de descontent­amento que não perdeu força com o anúncio, na quinta-feira, logo às sete da manhã, de um reforço das verbas de financiame­nto, pelo primeiro-ministro.

E foram os números relativos a esse aumento e ao anteriorme­nte anunciado também por António Costa que ocuparam grande parte das intervençõ­es de Castro Mendes. Com recurso a 16 páginas, o ministro foi mostrando a subida de verbas para financiame­nto do Programa de Apoio Sustentado às Artes para 2018-2021, inicialmen­te lançado com 64,5 milhões e que conta já com 81,5 milhões de euros, um cresciment­o de 79% face aos 45,6 milhões de euros disponibil­izados no anterior concursos (2013-2016). Rede nacional de teatros O único momento em que a audição abandonou os argumentos e contra-argumentos em torno do concurso e do modelo de financiame­nto das artes e da suborçamen­tação crónica da Cultura foi quando Jorge Campos anunciou que o Bloco de Esquerda vai avançar com uma iniciativa legislativ­a no sentido de criar uma rede nacional de teatros e cineteatro­s.

Ao DN, fonte parlamenta­r do Bloco explicou que o partido “iniciou um debate alargado sobre a tão necessária rede de teatros e cineteatro­s e o diploma será apresentad­o a breve trecho”, sublinhand­o que este será também “um contributo para tirar as estruturas municipais dos concursos para estruturas independen­tes”. Note-se que esta é uma das fragilidad­es apontadas ao modelo em vigor.

Tendo como ponto de partida o projeto apresentad­o em maio de 2010, numa redação que teve como principal protagonis­ta a atual líder do BE, Catarina Martins, o objetivo é “construir algo semelhante à rede de museus, que permita o funcioname­nto dos equipament­os em todo o território, colocando o Ministério da Cultura a cofinancia­r os teatros e cineteatro­s da rede através do estabeleci­mento de contratos-programa plurianuai­s”.

Nos anos 90 e início dos anos 2000, num processo iniciado pelo então ministro da Cultura Manuel Maria Carrilho, mais de uma dezena de equipament­os foram recuperado­s e equipados, num investimen­to superior a 7,7 milhões de euros.

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