Zuckerberg admite erros e garante que não vende dados
O CEO do Facebook aceitou trabalhar com legisladores para apertar regras de privacidade e revelou que está a colaborar com o procurador especial Robert Mueller
No primeiro dia de interrogatório no Congresso norte-americano, Mark Zuckerberg afirmou sob juramento que o Facebook não vende os dados dos utilizadores e que a utilização da rede social é segura. “Existe a ideia errada de que vendemos os dados. Não vendemos os dados aos anunciantes”, disse Zuckerberg, em resposta a uma pergunta do senador John Cornyn, que retorquiu: “Claramente, alugam-nos.” O CEO continuou: “O que permitimos é que os anunciantes nos digam a quem querem chegar e publicamos os anúncios por eles. Mostramos os anúncios às pessoas certas sem que os dados mudem de mãos e sejam acedidos pelos anunciantes.”
O modelo de negócio do Facebook, em que 98% das receitas provêm de publicidade, esteve em grande destaque nas perguntas. Zuckerberg garantiu que “haverá sempre uma versão gratuita do Fa- cebook suportada por anúncios”, depois de a número dois, Sheryl Sandberg, ter afirmado que para evitar que os dados sejam usados para fins publicitários, os utilizadores teriam de pagar. O CEO garantiu também que a utilização do Facebook é segura: “Eu uso-o, a minha família usa-o regularmente”, disse à senadora Deb Fischer.
O tom das perguntas flutuou conforme a cor política dos senadores – alguns republicanos avisaram para o perigo de regulação excessiva e Ted Cruz, ex-candidato à presidência, pressionou Zuckerberg com a ideia de que o Facebook tem um preconceito contra a direita política americana. “Não perguntamos às pessoas quais as suas orientações políticas quando entram na empresa”, garantiu Mark Zuckerberg. Do lado dos democratas, houve grande insistência na necessidade de aprovar legislação que regule diferentes aspetos da rede social, que com mais de dois mil milhões de utilizadores ativos não tem rival no mercado. A nova diretiva europeia, Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD), que entra em vigor a 25 de maio, foi referida várias vezes. Os senadores perguntaram a Mark Zuckerberg se ele estaria disposto a implementar as estritas regras europeias em todo o lado, incluindo nos Estados Unidos. O CEO referiu que há nuances na forma como os europeus e os americanos olham para estas questões, mas garantiu que todos merecem que a sua privacidade seja protegida.
Em relação a legislação que será apresentada por alguns senadores, Zuckerberg comprometeu-se a cooperar. É o caso do projeto de lei bipartidário Honest Ads Act, que pretende obrigar as empresas de tecnologia que vendem anúncios a revelar a fonte e o montante pago por anúncios políticos.
Uma das maiores revelações deste testemunho em Capitol Hill foi que o Facebook está a colaborar com a equipa do procurador especial Robert Mueller, que está a investigar a interferência russa nas eleições de 2016. “O nosso trabalho com o procurador é confidencial”, afirmou o CEO, que não conseguiu precisar se a investigação emitiu citações judiciais ou não a funcionários do Facebook.
Zuckerberg mostrou desconhecer várias vezes os pormenores de certas políticas do Facebook, remetendo para mais tarde informações precisas após consulta com a sua equipa. Por exemplo, quando o senador Roy Blunt questionou se o Facebook recolhe dados quando a pessoa está offline, Zuckerberg respondeu que não tem a certeza e disse que a sua equipa daria informações mais tarde. O mesmo quando Roger Wicker perguntou se a rede social continua a seguir os utilizadores via navegadores de internet mesmo depois de estes desligarem o Facebook.
Depois do Congresso, Mark Zuckerberg apresenta-se hoje perante o Comité para a Energia e Comércio da Casa dos Representantes para responder a novo conjunto de perguntas.