Diário de Notícias

Altice pode lucrar mais 100 milhões se fechar TVI à concorrênc­ia

NOS contesta compra da TVI pela dona do Meo, que diz ter riscos para o acesso aos conteúdos. Se o negócio for aprovado, empresa vai para tribunal

- ANA MARCELA

A Altice, a dona do Meo, pode ter mais 100 milhões de lucros adicionais em Portugal se optar por uma estratégia de fechar à concorrênc­ia o acesso aos conteúdos da TVI, anunciou o CEO da NOS Miguel Almeida, na audição na comissão parlamenta­r de Economia, Inovação e Obras Públicas.

O valor faz parte de um estudo feito por uma consultora internacio­nal e entregue pela NOS à Autoridade da Concorrênc­ia (AdC) e que, no entender de Miguel Almeida, mais do que “justifica o dobro do preço” que a Altice ofereceu pela Media Capital para ficar com a TVI, a TVI24, a produtora Plural, a Rádio Comercial ou o portal IOL: 440 milhões para uma empresa que estima valer entre 220 e 280 milhões.

O grupo de Patrick Drahi tem garantido que não faz parte da estratégia fechar o acesso dos conteúdos à concorrênc­ia, mas Miguel Almeida não parece sentir conforto nessas garantias dos donos do Meo. Para o CEO da NOS, a compra da TVI pela Altice vai ter um impacto direto no acesso aos conteúdos. “Menos pessoas vão aceder ao que os jornalista­s da TVI vão dizer” –, nem na possibilid­ade de a operação ser aprovada pela AdC com remédios o que, a acontecer, seria “um ato de hipocrisia”.

“Não há forma de impor remédios sobre coisas que vão acontecer no futuro”, diz o CEO da NOS, falando em “efeitos imprevisív­eis” que esta operação pode vir a ter no mercado. Um OK com remédios à compra da TVI por parte do regulador – que levou o negócio para investigaç­ão aprofundad­a por reconhecer que a mesma pode gerar entraves concorrenc­iais em vários mercados – é “o cenário a evitar”. “Os eventuais remédios não terão depois qualquer eficácia”, afirma. “Vamos acordar daqui a uns anos e perceber que os remédios não serviram para nada”, frisando que não existem mecanismos de controlo eficazes de “remédios comportame­ntais” e que isso obrigaria o regulador a recorrer aos tribunais levando a uma “litigância intermináv­el” que beneficiar­ia o infrator.

Miguel Almeida não poupou críticas à atuação da ERC neste processo. Nem ao Parlamento. “Há responsabi­lidades nesta casa sobre o que aconteceu. O regulador da comunicaçã­o social perante a maior operação na história do setor não regula. Chamar isto normal, não é”, diz. E também lembrou que o Parlamento não nomeou em tempo útil o novo conselho regulador, que na altura em que a operação estava a ser avaliada já estava há vários meses a funcionar em fim de mandato e com apenas três membros em vez dos normais cinco elementos. Para o CEO da NOS “não é normal” que os serviços técnicos da ERC tenham fundamenta­do contra o negócio, que dois dos membros do conselho o tenham aprovado e que “um único cidadão” tenha permitido que a operação prosseguis­se. “Não é normal e na nossa perspetiva aceitável.”

Caso a venda se concretize, a NOS promete reagir “em conformida­de e eliminar aquilo que será uma vantagem ilegítima. Vamos ter de reagir para tentar combater um eventual ganho ilegítimo”. De que forma não quis precisar.

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Miguel Almeida, CEO da NOS: negócio tem riscos para acesso a conteúdos

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