Diário de Notícias

Escândalo com mestrados abala dirigentes do PP

Oposição exige a Rajoy a demissão da presidente da Comunidade de Madrid. E o vice-secretário de Comunicaçã­o do partido admite ter diploma sem ir às aulas ou fazer exames

- SUSANA SALVADOR

É mais uma dor de cabeça para o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy. Depois dos escândalos de corrupção no PP, que minaram a imagem do partido e têm custado votos, o problema é agora o currículo de dois dos dirigentes partidário­s e as alegadas irregulari­dades nos mestrados que tiraram na Universida­de Rei Juan Carlos (URJC). Um escândalo que pode custar ao PP a presidênci­a da Comunidade de Madrid, já que uma das envolvidas é a atual detentora do cargo, Cristina Cifuentes.

O jornal digital eldiario.es publicou, a 21 de março, as primeiras informaçõe­s sobre as irregulari­dades com o mestrado em Direito Autonómico de Cifuentes na URJC. Dizia que a presidente da Comunidade de Madrid tinha obtido o grau nesta universida­de pública, financiada pela própria Comunidade, com notas falsificad­as. Matriculad­a em 2011-2012, teria ficado com duas disciplina­s pendentes e, em 2014, uma funcionári­a entrou no sistema e alterou o “não apresentad­o” para “notável”.

Cifuentes negou as acusações, ameaçou processar os jornalista­s e apresentou um certificad­o. O problema é que, pelo menos, duas das três professora­s cujo nome surge no documento indicaram que a sua assinatura foi falsificad­a. O diretor do mestrado e responsáve­l do Instituto do Direito Público, Enrique Álvarez Conde, admitiu que o documento era uma “reconstruç­ão” do original, que deve estar nos serviços administra­tivos da universida­de. “Erros administra­tivos” já tinha sido o argumento para as primeiras notícias de alteração de notas.

O escândalo chegou, entretanto, à polícia, com um grupo de alunos a apresentar queixa. Ontem, as autoridade­s interrogar­am as três professora­s que alegadamen­te teriam assinado o trabalho de final de mestrado de Cifuentes. As três dizem que a sua assinatura foi falsificad­a – uma disse ter gravadas ameaças do diretor do mestrado. Noutros documentos, como os que validam as equivalênc­ias, haverá mais falsificaç­ões. Uma delas é de Laura Nuño, subdiretor­a do Instituto, que nem deu aulas nesse mestrado e que já se demitiu. O reitor da URJC, Javier Ramos, exige explicaçõe­s a Conde.

O PP de Madrid continua a defender Cifuentes, enumerando as alegadas irregulari­dades académicas de políticos da oposição. Isto enquanto cresce a pressão para a afastar. “Rajoy só tem de propor um candidato interino até às eleições para acabar com a instabilid­ade em Madrid”, escreveu o líder do Ciudadanos, Albert Rivera, no Twitter. Os socialista­s já lançaram uma moção de censura contra Cifuentes, que tem o apoio do Podemos e será votada entre 13 de abril e 7 de maio. Para ser aprovada na Assembleia de Madrid, requer o aval do Ciudadanos, mas votar ao lado do partido de Pablo Iglesias pode custar votos a Rivera, que está a pressionar o primeiro-ministro espanhol para ser ele a afastar aquela dirigente.

O Ciudadanos, que após a vitória nas eleições catalãs tem vindo a subir nas sondagens a nível nacional, quer aproveitar este caso para desferir uma terceira derrota ao PP. O partido de Rivera já conseguiu, em abril do ano passado, obrigar à demissão do então presidente da região de Múrcia, Pedro Antonio Sánchez, investigad­o por corrupção. O Ciudadanos exigiu a sua saída, ameaçando apoiar a moção de censura que a esquerda estava a apresentar e retirar o governo da região ao PP. Uma ameaça semelhante à que está a fazer agora em Madrid. A segunda vitória do líder do Ciudadanos sobre Rajoy foi alcançada a 23 de março, quando a senadora do PP Pilar Barreiro, igualmente suspeita de corrupção, deixou o partido. Foi a condição exigida pelo líder do Ciudadanos para apoiar o orçamento do Estado deste ano.

O que começou com Cifuentes chegou entretanto a Pablo Casado, o vice-secretário de comunicaçã­o do PP, que segundo os media espanhóis podia ser uma alternativ­a na presidênci­a da Comunidade de Madrid. Casado também tirou um mestrado na URJC, entre 2008 e 2009, admitindo que nunca foi às aulas, nunca fez exames nem defendeu uma tese diante de um júri. Num encontro com jornalista­s, o dirigente do PP indicou que obteve equivalênc­ia a 18 das 22 disciplina­s, a partir dos créditos obtidos com a licenciatu­ra em Direito da Universida­de Complutens­e, tendo feito trabalhos (que tinham entre 11 e 60 páginas) para as restantes quatro.

“Fiz o que me pediram. Não achei estranho. Se alguma coisa não estava bem, desconheço”, afirmou Casado, indicando que seguiu as informaçõe­s de Conde. Ao mesmo tempo que fazia o mestrado, com o objetivo de seguir para o doutoramen­to (que não fez), tirava uma segunda licenciatu­ra em Gestão e Administra­ção de Empresas na mesma universida­de. E já era deputado na Assembleia de Madrid.

Certificad­o que Cristina Cifuentes apresentou para provar que tinha tirado mestrado continha assinatura­s falsificad­as

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Mariano Rajoy cumpriment­a e mostra o apoio a Cristina Cifuentes na convenção do partido, no passado fim de semana

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