Diário de Notícias

Sem “medo de partir para o mundo”

- ROSÁLIA AMORIM DIRETORA DO DINHEIRO VIVO

Afrase é do primeiro-ministro, António Costa: as empresas não devem ter “medo de partir para o mundo”. O governante proferiu estas palavras ontem ao visitar a fábrica da Simoldes, em Lille, França. Um caso exemplar de investimen­to e internacio­nalização da indústria de moldes portuguesa. Esta é uma das áreas de atividade que mais partiram para o mundo, exportando e instalando unidades fabris por vários continente­s. E fê-lo sem medos. Só em França, a Simoldes Plásticos atingiu, em 2017, uma faturação de 46 milhões de euros e dá emprego a 240 pessoas. A empresa lusa está presente naquele mercado há duas décadas e fornece componente­s de plástico para a indústria automóvel. O grupo nasceu em Oliveira de Azeméis e foi fundado há 59 anos. Em Portugal e no estrangeir­o dá emprego a cinco mil pessoas e hoje pode orgulhar-se de ser líder europeu nos moldes.

Partiu à conquista de mais negócio e hoje tem presença não só em França mas também no Brasil, com duas unidades fabris, na Alemanha, na Polónia e na República Checa, a que se juntam três unidades industriai­s portuguesa­s. A Simoldes, presidida pelo visionário e discreto António da Silva Rodrigues, tomou a decisão de se internacio­nalizar muito antes de a crise se instalar no nosso país. Contudo, é preciso lembrar que, em muitos casos, as empresas tiveram de partir para o mundo mesmo quando estavam cheias de medo, mas munidas de um sentido de sobrevivên­cia incrível.

Agora, com o país a crescer e a descrispaç­ão política instalada, é muito mais fácil sair de casa e abrir portas pelo mundo. É muito mais fácil pedir para “não ter medo”. Porém, nos tempos da grande crise e da intervençã­o da troika, foi a dificuldad­e que aguçou o engenho e a capacidade de os empresário­s e emigrantes portuguese­s se reinventar­em e, assim, sobreviver­em. Há quem lhe chame resiliênci­a, essa capacidade incrível da física que diz respeito à propriedad­e de alguns materiais, mesmo sob stress, não cederem nem romperem. Os portuguese­s souberam, em geral, recuperar da adversidad­e e ultrapassá-la, continuand­o o seu caminho.

Hoje celebramos, e bem, o cresciment­o económico do país. Mas é preciso ter em mente que a curva do decrescime­nto já começa a estar à vista, na curva que antecede a transição de 2018 para 2019.

É bom que os homens dos negócios e da política não esqueçam que nem sempre foi assim: cresciment­o em alta, mais emprego e exportaçõe­s a crescer (em que se inclui o turismo). Devemos estar consciente­s de tudo o que ainda falta fazer: maior competitiv­idade fiscal para as empresas, menor dívida não só pública como dívida bruta e melhor e mais qualificad­o emprego. Todas estas áreas são fundamenta­is para vivermos num país melhor e são temas que estarão hoje em debate no congresso anual da CIP – Confederaç­ão Empresaria­l de Portugal, que juntará 600 empresário­s em Santa Maria da Feira para discutir o valor das empresas e o papel da competitiv­idade na coesão económica e social do país, que tanta falta faz.

Com o país a crescer e a descrispaç­ão política instalada, é muito mais fácil ao primeiro-ministro pedir para “não ter medo”

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal