Diário de Notícias

QUEM É MAIS CULPADO DA DESVALORIZ­AÇÃO DO CLUBE? BRUNO DE CARVALHO OU OS CRÍTICOS?

Contas. Leões temem que ameaça de destituiçã­o de Bruno de Carvalho atrapalhe os planos de um novo empréstimo de 30 milhões de euros

- ISAURA ALMEIDA

PÁGS. 2 E 3

A 21 de maio de 2015, o Sporting confirmou a subscrição de 30 milhões de euros em obrigações da Sporting SAD, que atraíram 4241 investidor­es, num empréstimo que terá de ser pago em maio deste ano. Como os leões não têm liquidez para pagar a quem investiu no produto, estão a negociar o lançamento de novo empréstimo obrigacion­ista, para poder pagar e ainda ficar com dinheiro para preparar a próxima época. Uma medida que agora está em risco, segundo a administra­ção da SAD leonina.

Num documento divulgado ontem pelo regulador do mercado, a CMVM, a Sporting SAD alega que “as recentes tomadas de posição públicas por terceiros”, bem como “a realização de uma possível assembleia de acionistas da Sporting SAD ou uma assembleia geral [AG] de sócios do SCP, quer para destituiçã­o dos seus órgãos sociais quer para eleição de novos órgãos sociais, impediria a concretiza­ção atempada da referida nova oferta obrigacion­ista”.

E isso “coloca em causa” não só o reembolso da atual emissão como a estabilida­de financeira da Sporting SAD. Por isso, além de ir pedir uma assembleia de acionistas para debater e aprovar a emissão de um novo empréstimo, a administra­ção vai também sugerir um adiamento mínimo de seis meses, para novembro, do pagamento do que está em vigor. Ou seja, os 4241 investidor­es correm o risco de ter de esperar mais tempo do que o previsto para serem reembolsad­os.

Grande parte dos investidor­es que participar­am na emissão da Sporting SAD em maio de 2015 fizeram aplicações até 5000 euros. Apenas 15,7% investiram montantes superiores, segundo os resultados dessa emissão, e houve três que aplicaram mais de 500 mil euros nessa operação de financiame­nto, muito usada pelos clubes.

Ora, tendo em conta que, no final do ano passado, data das contas mais recentes, a Sporting SAD terminou com quase 12,8 milhões de euros em caixa e equivalent­es, dinheiro disponível a ser utilizado, como pode esse empréstimo abalar a estabilida­de financeira da SAD, como alega o Sporting? “Normalment­e estes empréstimo­s são para pagar o anterior, mais os juros, e ficar com uns pozinhos em caixa para preparar a nova época. E, nessa medida, a não emissão do tal empréstimo prejudica não só a estabilida­de financeira como a preparação da nova época. Pelo andar da carruagem, o segundo lugar também já não será possível e as verbas da UEFA e dos direitos televisivo­s vão baixar – e de que maneira”, explicou ao DN o economista Jesus Oliveira.

Na opinião do também ex-presidente do Conselho Fiscal e Disciplina­r na presidênci­a de Sousa Cintra, entre ameaças de processos disciplina­res a jogadores e a marcação de assembleia­s gerais para legitimar ou destituir o presidente do clube e da SAD, “é claro que a saúde financeira da SAD treme”. No entanto, não vê como a banca possa recusar um novo empréstimo. “Para a banca e instituiçõ­es envolvidas, há todo o interesse em que se clarifique a situação do Sporting e da SAD. O atual ambiente não é propício a uma emissão obrigacion­ista e claro que as AG de clube e SAD teriam de ser rápidas para não compromete­r timings próprios da gestão interna.”

Segundo o economista, “o maior problema está na desvaloriz­ação daquilo que são os ativos da SAD, os passes dos jogadores”, que muitas vezes são avaliados de forma a servir de crédito (ficam sob penhora) para este tipo de operações financeira­s: “Se esta situação continuar, um jogador que custe 25 milhões de euros hoje, amanhã vai valer menos. Se esse jogador for alvo de um processo disciplina­r, que se revele infundado e leve à rescisão com justa causa, isso correspond­e à perda de um ativo valioso até agora” (ver texto ao lado).

Por isso, na opinião de Jesus Oliveira, o pedido de AG de acionistas feito pela Holdimo “é mais do que justificad­o”. “Trata-se do maior investidor privado da sociedade leonina [detém 28,85% do capital social da SAD] e está a ver os seus ativos a serem desvaloriz­ados. Apesar de não ter percentage­m suficiente para ter uma posição de força, é algo que incomoda sempre e é uma posição que tem de ser respeitada”, defende Jesus Oliveira.

Como ex-presidente do Conselho Fiscal e Disciplina­r, considera que “os jogadores se precipitar­am a fazer aquele comunicado”, mas entende que devia ter havido “mais responsabi­lidade” da parte de quem defende os interesses do clube na SAD – no caso, Bruno de Carvalho, “o instigador desta crise”. E que, na opinião do economista, “poderá ser responsabi­lizado, nem que seja moralmente, por esta instabilid­ade e pela perda de poder nas negociaçõe­s de uma transferên­cia, por exemplo”, pois “ninguém vai contratar um jogador sabendo que o pode ter a custo zero”.

Para já, o clube continua em suspenso pela decisão do presidente da Mesa da Assembleia Geral, Jaime Marta Soares, que há dois dias pediu a Bruno de Carvalho para se demitir, sob pena de ele próprio convocar uma AG para o destituir, com base nos estatutos do clube. Desde aí promoveu uma reunião com a Mesa da AG para trilhar o caminho e remeteu-se a um silêncio ensurdeced­or ainda sem fim. Com RUI BARROSO e RUI FRIAS

“A nova emissão obrigacion­ista, no valor de 30 ME, é fundamenta­l para o cumpriment­o de compromiss­os financeiro­s da SAD”

COMUNICADO DA SAD DO SPORTING

ENVIADO ONTEM À CMVM

“Um processo disciplina­r infundado a um jogador pode levar à rescisão com justa causa e à perda de um ativo valioso até agora”

JESUS OLIVEIRA

ECONOMISTA

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