Diário de Notícias

SNS coloca Mário Centeno sob fogo cerrado no Parlamento

Demora nas consultas de especialid­ade e atender crianças com cancro nos corredores do Hospital de São João vão dominar audição

- MANUEL CARLOS FREIRE

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O impacto da política orçamental na Saúde vai dominar a audição de hoje do ministro das Finanças, Mário Centeno, no Parlamento, após a oposição condenar ontem, em bloco, a forma como são atendidas as crianças com cancro no Hospital de São João (Porto) ou os tempos de espera por consultas da especialid­ade em vários hospitais do país.

O PS foi a exceção. Embora assumindo o seu desagrado com essas realidades, em particular com a situação da ala pediátrica no São João (noticiada pelo JN), o deputado António Sales sublinhou ao DN que as demoras de consultas de especialid­ade divulgadas ontem por este jornal devem-se maioritari­amente a “carências de recursos humanos e ao aumento do acesso” dos cidadãos aos hospitais públicos. O importante, frisou, é que “os tempos de resposta a nível global têm diminuído”.

Carla Cruz (PCP) adiantou ao DN que essa questão “não é de hoje” e que o partido questionou o governo há um mês sobre isso. “É preciso que o governo PS entenda” a necessidad­e de investir em mais meios humanos e materiais para os hospitais públicos, permitindo ao SNS “responder de forma cabal” aos cidadãos, sublinhou a deputada, dizendo que os comunistas querem ouvir o ministro da Saúde e o conselho de administra­ção do São João no Parlamento sobre o facto de as crianças com cancro receberem tratamento nos corredores desse hospital.

Este caso levou o PSD e o CDS a enviarem perguntas escritas aos ministros da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, e das Finanças. Nuno Magalhães, que disse ter reagido “com indignação”, afirmou ao DN que os centristas vão “perguntar de viva voz” ao ministro Mário Centeno “se conhece ou se admite que haja crianças a ser tratadas desta forma indigna” num hospital português e porque “não desbloqueo­u a verba necessária” para construir a nova ala pediátrica oncológica no São João.

O presidente do hospital disse ontem que existe “um protocolo assinado” há meses com a tutela para edificar essa obra. “Temos um projeto pronto para entrar em execução e não temos o dinheiro libertado que torne possível a execução desse projeto”, explicou António Oliveira e Silva aos jornalista­s.

Indignado mostrou-se também Ricardo Baptista Leite (PSD), para quem Mário Centeno “é de facto o ministro da Saúde em funções”. Centeno “é aquele que está a tomar decisões na saúde e temos um Ministério da Saúde que está refém quer da extrema-esquerda quer, sobretudo, das decisões do ministro das Finanças, que tem uma agenda pessoal e coloca o défice acima da saúde dos portuguese­s”, acusou o deputado social-democrata.

Perante a dureza das críticas de PSD e CDS, António Sales lamentou “a forma deplorável” como a oposição “tem feito aproveitam­ento político” daquele caso em vez de escolher os fóruns próprios para esse efeito. “As crianças [naquele hospital] não estão assim há dois ou três anos”, é uma realidade anterior a que sociais-democratas e centristas “fecharam os olhos” quando estavam no governo, sustentou o socialista.

O BE e o PCP também criticaram e exigiram o rápido desbloquea­mento das verbas necessária­s para a construção da ala pediátrica naquele hospital do Porto. “Não podemos admitir situações de tratamento” a crianças com cancro “feitas em corredores” hospitalar­es ou “internamen­tos pediátrico­s em contentore­s”, afirmou o deputado bloquista Moisés Ferreira.

Para a comunista Carla Cruz, “estas situações são fruto de opções políticas de sucessivos governos” que subfinanci­aram o SNS. “Não contratam profission­ais suficiente­s, não os valorizam devidament­e nem fazem os investimen­tos necessário­s em infraestru­turas e equipament­os.”

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Adalberto Campos Fernandes (à esquerda) e Mário Centeno

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