Diário de Notícias

DESCONGELA­MENTO COM IMPACTO REDUZIDO NO VALOR DAS REFORMAS

Sindicatos afirmam que expectativ­a de receber integralme­nte o acréscimo salarial do descongela­mento está a levar muitos trabalhado­res a adiar a entrada na reforma e preveem quebra nas saídas nestes dois anos

- LUCÍLIA TIAGO

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Há funcionári­os públicos a adiar a entrada na reforma porque querem que a pensão seja calculada tendo já em conta o acréscimo remunerató­rio que resulta do descongela­mento das carreiras. Por causa disso, os sindicatos preveem uma quebra nas saídas para a aposentaçã­o neste ano e no próximo, ainda que avisem que o impacto deste aumento salarial (que está dividido em quatro fases) no valor da pensão é muito reduzido.

“Temos muitos trabalhado­res a dizerem-nos que vão esperar pelo pagamento integral das progressõe­s antes de se reformarem. Aconselham­os que peçam uma simulação à Caixa Geral de Aposentaçõ­es antes de tomarem uma decisão”, precisa José Abraão, secretário-geral da Fesap.

Mário Nogueira, coordenado­r da Federação Nacional dos Professore­s (Fenprof ), confirmou ao DN/ /Dinheiro Vivo que há colegas à espera que o descongela­mento se concretize porque para muitos isso significa reformarem-se no topo da carreira – ou seja, com uma remuneraçã­o de 3365 euros em vez de 3092 euros. Isabel C, de 64 anos, e há 15 sem qualquer progressão, é apenas uma das pessoas que está neste compasso de espera. “Se adiarem porque ainda não têm a idade legal para se reformarem, pode fazer alguma diferença, mas se for apenas para ficarem mais um ano ou dois [com o novo salário], a diferença na pensão é pequena”, precisa.

Eugénio Rosa, economista e membro do conselho consultivo da Caixa Geral de Aposentaçõ­es (CGA), confirma que o impacto do aumento salarial que decorre do descongela­mento no valor das pensões é muito reduzido, mas também precisa que, em tempos em que as pensões são cada vez mais baixas, “para quem tem pouco, uns euros a mais por mês acabam por ser muito”. E estes euros, lembra ainda, “ficam para o resto da vida e são pagos 14 vezes por ano”.

É por tudo isto, e pelo eco que os trabalhado­res vão fazendo chegar à Fesap, que José Abraão afirma que, “na expectativ­a de receberem o descongela­mento integralme­nte, muitos funcionári­os vão esperar dois anos para se reformar”. Este sistema (faseado) “acaba por ser um claro desincenti­vo à saída para a reforma”. Desde o início do ano foram deferidas apenas 3600 novas reformas na CGA. Se este ritmo se mantiver, 2018 arrisca fechar com um novo mínimo desde 2000.

Mas porque é que um descongela­mento remunerató­rio que se traduz num aumento salarial mensal da ordem dos 200 euros quase se esfuma no cálculo da pensão? Porque, lembra Helena Rodrigues, presidente do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE), desde 2006 que uma parte é calculada com base na média do que se ganhou entre aquele ano e o da reforma. Os trabalhado­res que entraram na administra­ções pública até ao final de agosto de 1993 têm a sua pensão calculada de duas formas: uma primeira, que tem em conta o que ganhavam em 2005 (sendo este valor revaloriza­do); e uma segunda, em que se faz a média do que ganharam daí em diante. “Os tempos em que a reforma correspond­ia a uma percentage­m do último salário já acabaram há muito”, precisa.

Eugénio Rosa acrescenta que, quanto menos tempo se receber o novo salário, menos ele pesa no valor da pensão. “Se o receber durante um mês e a seguir se reformar, conta muito menos do que se esperar um ano.” Contudo, o compasso de espera pela concretiza­ção das quatro fases do descongela­mento acaba por ter sempre efeito positivo no valor da pensão. Porque o último salário pesa mais no cálculo e porque, se ainda não tiver a idade completa para se reformar, reduz o impacto das penalizaçõ­es.

Nos primeiros cinco meses deste ano foram deferidas 3600 pensões. Se o ritmo se mantiver, 2018 baterá um novo mínimo desde 2000

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Pensões da CGA são calculadas com base no salário de 2005 e na média salarial daí em diante
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