Diário de Notícias

Paulo Trigo Pereira “Há sempre alternativ­as”

- MIGUEL MARUJO

O ministro das Finanças deixou o aviso de que não pode haver um recuo no caminho até aqui seguido. Este alerta não choca com a vossa proposta de uma política orçamental menos restritiva? Não. O caminho bem-sucedido até aqui é de uma consolidaç­ão orçamental, ou seja, de uma melhoria das contas públicas e sobre isto concordamo­s que não pode haver recuo. Agora há sempre alternativ­as e aquilo que é necessário discutir é qual o objetivo de médio prazo para o saldo orçamental e qual ritmo para a melhoria das contas públicas e aqui a nossa proposta tem diferenças em relação ao que o governo apresentou há um ano. Este é o tempo de reforçar os serviços públicos, com uma trajetória mais moderada de melhoria do saldo orçamental, ou mantém-se uma obsessão pelo défice? Sim, essa é uma das mensagens essenciais do livro. Uma redução mais moderada do défice do que o governo apresentou em 2017 – após ajustament­o da descida dos juros – é essencial não só pelo impacto benéfico que tem na economia como nos serviços públicos. A prova de que a redução no défice é benéfica está na redução significat­iva dos juros da dívida em consequênc­ia da redução do défice. Não apenas porque a dívida cresce menos e o seu peso no PIB diminui mas também porque o efeito de reputação positiva do país tem efeitos na subida do rating da República e na descida dos juros. No vosso livro apontam que é improvável descer a despesa com pessoal, antecipand­o o descongela­mento das carreiras. E há margem para um aumento de salários na função pública, como têm pedido BE e PCP? Outra das ideias centrais do livro é que não se podem discutir políticas isoladamen­te, mas sim deve ser feita uma apreciação geral das políticas públicas e da sua tradução orçamental. Não se pode discutir salários sem discutir simultanea­mente o emprego público. No estudo que fizemos assumimos no cenário base uma tendência de evolução das remuneraçõ­es em linha com a inflação. A direita tem sugerido a descida do IRC para apoiar as empresas. Não há margem para a descida de qualquer imposto? O programa do governo PS e os acordos estabeleci­dos com partidos de esquerda não preveem descidas nas taxas de IRC. Há outros fatores que influencia­m o investimen­to privado para além da taxa de IRC (morosidade da justiça, burocracia excessiva, atrasos no licenciame­nto). Aquilo que defendemos como cenário central da estratégia orçamental é que dificilmen­te haverá margem para alívios fiscais significat­ivos antes de 2021, precisamen­te para assegurar a qualidade dos serviços públicos. O Programa de Estabilida­de será de continuida­de? Os parceiros parlamenta­res do PS têm sido muito críticos do caminho seguido. O Programa de Estabilida­de dará decerto continuida­de à consolidaç­ão orçamental. Ainda esta semana o ministro das Finanças esclareceu que Portugal tem cumprido os seus compromiss­os e vai continuar a fazê-lo. Aquilo que importa analisar é o espaço de manobra que temos dentro das regras europeias e elas existem como mostramos no livro. Os partidos que apoiam esta solução governativ­a liderada pelo PS, sabem não só o peso eleitoral de cada um dos partidos como sabem que a posição do PS não é a mesma que a desses partidos em relação à Europa em geral e às regras orçamentai­s em particular. É natural que façam críticas, pois o seu posicionam­ento é diferente.

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do PS, um dos autores de Uma Estratégia Orçamental
Saudável para Portugal
Paulo Trigo Pereira, deputado do PS, um dos autores de Uma Estratégia Orçamental Saudável para Portugal

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