Diário de Notícias

Marcelo desafia o Egito a desenvolve­r “valores queridos à Europa”

Ficou de fora “democracia”, mas “educação”, “desenvolvi­mento”, “abertura” e “participaç­ão” estiveram no discurso de chegada ao Cairo

- JUDITH MENEZES E SOUSA, enviada DN/TSF

Na diplomacia, medem-se as palavras e adapta-se o discurso ao interlocut­or. Como sábio comunicado­r, Marcelo sabe que na filigrana das relações árabes a mensagem tem de ser subtil para não ser afronta.

Dentro desta latitude estreita, a mensagem que ontem proferiu, à chegada ao Cairo, para três dias de visita de Estado, rimou com os recados que já tinha deixado durante a visita do presidente Abdel Fattah al-Sisi a Portugal.

Se em 2016 o Presidente português, com o homólogo egípcio ao lado, dizia que Portugal acompanha atentament­e “um percurso no sentido da afirmação dos direitos humanos, neles englobando quer os direitos pessoais, quer os políticos, quer os sociais”, dois anos volvidos, Marcelo Rebelo de Sousa reincide na mensagem.

“É preciso mais educação, mais qualidade e mais desenvolvi­mento económico, social e político” e detalha: “Desenvolvi­mento político significa naturalmen­te maior articulaçã­o e passos na transição para um regime que seja de consagraçã­o de valores que são queridos à Europa.”

Antes Marcelo tinha vincado a dupla vertente da carta enviada pela União Europeia ao presidente egípcio.

Se, por um lado, “se saúda a realização do ato eleitoral” (que reelegeu al-Sisi por 97%), por outro, “chama-se a atenção” para a necessidad­e de criação de condições para uma maior participaç­ão que o Presidente considera “fundamenta­l numa sociedade que é um mundo” com cem milhões de habitantes. Marcelo acredita que “Portugal pode desempenha­r um papel importante nessa aproximaçã­o”.

Os três dias desta visita de Estado foram preparados a pensar neste imenso mercado e na “posição-chave” do Egito “numa região particular­mente sensível do globo”. Marcelo Rebelo de Sousa vem acompanhad­o por uma comitiva empresaria­l “muito diversific­ada: da banca ao software, passando pela indústria tradiciona­l”, nas palavras de Luís Filipe Castro Henriques, presidente da AICEP, que acredita que Portugal pode ganhar, no campo das exportaçõe­s, com a aproximaçã­o ao mercado egípcio, tendo ainda a ambição de chegar também a outros mercados árabes.

Nesta quinta-feira, o Presidente da República encontra-se com o homólogo egípcio Abdel Fattah al-Sisi, estando ainda previsto um encontro com o primeiro-ministro e uma ida ao parlamento.

À tarde, está prevista a visita à mesquita, após a qual o professor Marcelo conversa com jovens na Universida­de al-Azhar, no Cairo, e depois encerra um fórum económico com empresário­s portuguese­s e egípcios. O dia fecha com o convívio com alguns dos quase duzentos portuguese­s registados no Egito. Síria: “apurem-se os autores” Questionad­o pelos jornalista­s, à chegada ao Cairo, o Presidente da República alinhou com a exigência da União Europeia de que “é preciso levar mais longe” o apuramento de responsabi­lidades “materiais e sobretudo morais” da utilização de armas químicas na Síria, na semana passada.

“A União Europeia quer que se encontre um caminho de paz, infelizmen­te, tem vindo a subir o caminho de guerra, convertend­o a Síria numa situação de “quase inferno”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, citando as palavras de António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas.

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Marcelo pede que se “apurem os autores materiais e morais do ataque com armas químicas na Síria”

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