Diário de Notícias

Beber cerveja e dar uns beijos para fugir da crise

Tonan Quito traz para 2018 a peça Casimiro e Carolina, de Horváth. Estreia hoje

- MARIA JOÃO CAETANO CASIMIRO E CAROLINA De Ödön van Horváth Teatro Nacional D. Maria II, Lisboa Até 29 de abril Bilhetes a 5 e 17 euros

Há balões coloridos e barris de cerveja e ouve-se o êxito de Fernando Correia Marques, O Burrito. Há uma piñata e jogos em que se pode ganhar ursos de peluche de tamanho gigante, fala-se de uma montanha-russa e há rapazes e raparigas em pose de engate. Podia ser uma festa numa terreola qualquer em Portugal, mas é a Festa da Cerveja, de Munique, tal como a contou o dramaturgo alemão Ödön von Horváth na peça Casimiro e Carolina, em 1931. E tal como a vê o encenador Tonan Quito no espetáculo que agora ocupa o palco principal do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa.

“Tínhamos de fazer esta peça agora, enquanto não nos esquecemos de que tivemos uma crise fortíssima que deu cabo de nós”, diz Tonan Quito, justifican­do assim o regresso ao autor de quem ainda no ano passado fez Fé, Caridade e Esperança. “Ele via-se a si próprio como um cronista, dizia que se limitava a contar o que via”, mas a verdade é que ele conseguiu ver muito mais. “Nesta peça ele fala da crise que abalou a Europa em 1912 e que, na verdade, esteve na origem da Segunda Guerra Mundial.”

Casimiro e Carolina vão à Festa da Cerveja para esquecerem os seus problemas. Só que enquanto Casimiro não consegue divertir-se porque está sempre a pensar que está desemprega­do, Carolina está disposta a aproveitar a noite o melhor possível. Assim como as outras personagen­s, que estão ali para fugir à sua vida. “Mas a questão que Horváth nos põe é: será possível amar em tempos de crise?”

Tonan Quito usa a tradução de Maria Adélia Silva Melo – a mesma usada pela Cornucópia para o espetáculo de 1976 – e praticamen­te não faz alterações ao texto (uma das personagen­s, que era um homem é aqui uma mulher, uma mudança que procura combater uma certa misoginia datada e permitir uma “leitura mais aberta” da peça). Mas, acima de tudo, este espetáculo traz a peça para o presente. E acentua-lhe todo o carácter sexual. “Todas aquelas pessoas são muito solitárias e precisam de alguém, estão a tentar agarrar alguém nessa noite”, explica o encenador. E é na euforia da cerveja e da evasão que as coisas começam a ficar descontrol­adas. Não é por acaso que a última palavra dita no texto é “nada” e que a última canção nos avisa que “só há uma vez”. Apesar do futuro risonho anunciado pelo Zeppelin que voa nos céus, deixando todos fascinados, há pouca esperança.

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Casimiro e Carolina: o amor é possível em tempos de crise?

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