Diário de Notícias

O dilema de Centeno

- POR DANIEL PROENÇA DE CARVALHO

Ogoverno está confrontad­o com um curioso dilema: como utilizar a melhoria das contas públicas no ano que está a decorrer. Utilizando a “folga” para gastar mais em despesa e investimen­to públicos ou diminuir o défice?

O ministro das Finanças quer aproveitar a melhoria para, no Programa de Estabilida­de e Cresciment­o a apresentar em Bruxelas, anunciar um défice de 0,7% em 2018, em vez dos 1,1% que constam do Orçamento.

Os partidos da esquerda que apoiam o governo no Parlamento e uma parte do PS defendem, naturalmen­te, gastar mais, aproveitan­do, de forma a que não falta uma boa dose de demagogia, as dificuldad­es sentidas em serviços públicos essenciais, com destaque para o SNS.

Como acontece em muitas posições do PCP e do BE, existe uma contradiçã­o entre os objetivos que dizem prosseguir com as medidas propostas e os seus resultados.

Certamente que Mário Centeno não tem prazer em disciplina­r a despesa pública e com isso não satisfazer as necessidad­es dos cidadãos a que o Estado está vinculado.

Mas só há uma forma de dar sustentabi­lidade e melhorar o SNS, a Segurança Social, a Educação, a Cultura subsidiada, os sistemas de Segurança interna e externa e de Justiça. É criar as melhores condições para um cresciment­o económico forte que permita contas públicas saudáveis e diminuir a enorme dívida pública que pesa sobre todos os contribuin­tes e exige uma fatia importante do orçamento para pagar os respetivos juros.

É importante reconhecer que a melhoria das contas do Estado resultou de uma conjugação de fatores favoráveis que nada garante se mantenham, especialme­nte se voltarmos a cometer imprudênci­as orçamentai­s.

Essa melhoria foi conseguida graças ao comportame­nto do setor privado, às empresas que se viraram para a exportação, à contenção e sacrifício­s dos trabalhado­res do setor privado, e muito particular­mente do boom do turismo que contaminou outros setores.

E, convém não esquecer, também a um aumento da carga fiscal em percentage­m do PIB.

Se a tese de Mário Centeno vingar, se as metas do défice melhorarem, há outro efeito muito positivo: Portugal melhora a sua imagem em Bruxelas e nos mercados onde nos financiamo­s, com efeitos positivos nas taxas de juro dos empréstimo­s de que continuamo­s a depender. Sim, porque quem defende mais despesa do Estado ignora que ainda estamos longe de ter orçamentos superavitá­rios, portanto continuamo­s a aumentar a quantidade da nossa dívida pública.

Ou seja, se o resultado deste ano for um défice melhor do que o previsto, ganhamos em vários tabuleiros e se a rota continuar nesse sentido, então, sim, poderemos aspirar a melhorar a vida de todos, através de serviços públicos mais bem dotados, mais eficientes e sustentáve­is.

Diria que estamos num momento em que as decisões políticas podem ditar um futuro promissor ou deitarmos a perder o capital de credibilid­ade que estamos a conquistar.

António Costa tem conseguido conciliar as responsabi­lidades de um governo responsáve­l com as exigências dos seus parceiros à esquerda, num exercício de equilibris­mo nada fácil. Mas tal exercício vai-se tornando cada vez mais difícil e a tentação de ceder neste assunto, em que há margem para o fazer, será muito forte.

E a direita, que pensa deste tema? Para a saúde da nossa democracia é importante que os eleitores possam fazer uma escolha esclarecid­a quando forem chamados a pronunciar­se, é responsabi­lidade dos partidos terem alguma clareza e coerência nas suas propostas.

Da esquerda estamos esclarecid­os!

Estamos num momento em que as decisões políticas podem ditar um futuro promissor ou deitarmos a perder o capital de credibilid­ade que estamos a conquistar

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