Diário de Notícias

Facebook e pimenta

- Erat demonstran­dum”, end. “quod The

HFERREIRA FERNANDES ollywood sabe como ninguém contar uma história com moral no fim. Muitas vezes escolhe um tribunal porque este é o melhor dos cenários dramáticos para um duelo: há um mau e há um bom que procura a justiça. O mau, geralmente réu ou testemunha, é interrogad­o por um advogado que começa por ter dois ou três revezes nas bandarilha­s mas acaba por cravar a espada: uma pergunta ardilosa e o mau espalha-se na resposta. O advogado faz, então, um gesto largo e silencioso. Não precisa de dizer

mas mesmo os ignorantes do latim gestual perceberam: como se queria demonstrar... O mau baixa a cabeça. Às vezes, a cena passa-se num tribunal muito especial, o Congresso americano, e um senador faz de advogado à procura da verdade. Num filme recente, o mau tem cara de querubim, vem de fato e gravata e tenta convencer os senadores e os espectador­es de que a sua atividade, excetuando um ou outro percalço, não faz mal a ninguém. Ora ele vendia fotos, filmes e gravações de cidadãos incautos nas suas casas. O senador, melífluo, pergunta ao Mark (é o nome do vigarista no filme): “Importa-se de partilhar o nome do hotel onde dormiu na noite passada?” E o Mark: “Não, não digo”, disse ele, cioso da sua intimidade. Então, o senador remata: “Pois...” Que é como os senadores concluem em latim. Mark baixa a cabeça.

Quando o filme passar cá deve chamar-se “Facebook”. No Brasil, onde se fazem melhores títulos, deve ser: “Pimenta no cu dos outros é refresco.”

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