Diário de Notícias

REGRAS EUROPEIAS PARA O FACEBOOK VÃO SER USADAS EM TODO O MUNDO

6 PERGUNTAS A MIGUEL SOUSA TAVARES ”É UMA ARMA DE DESTRUIÇÃO MACIÇA” ZUCKERBERG O CEO CRIOU UM MONSTRO QUE NUNCA QUIS CONTROLAR

- JOÃO TOMÉ

O escândalo da Cambridge Analytica tornou claros os riscos de dados pessoais caírem nas mãos erradas e obrigou o CEO do Facebook, de 33 anos, a enfrentar o Senado norte-americano na terça-feira e a Câmara de Representa­ntes ontem. Duas sessões muito duras para Mark Zuckerberg – ainda que até tenham feito subir o valor de mercado da empresa – que terminaram com a garantia de que as alterações que o Facebook está a fazer na plataforma europeia, para cumprir as exigências do Regulament­o Geral da Proteção de Dados, vão ser alargadas a todo o mundo.

Foi o próprio CEO da rede social a tomar essa iniciativa, no mesmo dia em que assumiu que também a sua informação pessoal foi recolhida e explorada pela Cambridge Analytica. Zuckerberg é mais um numa lista de 87 milhões de utilizador­es cuja privacidad­e foi violada pela consultora política de análise de dados, cujo CEO abandonou ontem o cargo. Alexander Tayler regressa à administra­ção de dados para se concentrar nas investigaç­ões decorrente­s do escândalo – a Analytica, que trabalhou na campanha de Donald Trump, terá usado os dados dos utilizador­es do Facebook para criar mensagens feitas à medida dos perfis, de forma a influencia­r o seu voto.

A lei europeia da proteção de dados entra em vigor a 25 de maio e vai “permitir que os utilizador­es tenham maior consciênci­a sobre o tema da segurança dos seus dados”, explica Cláudia Fernandes Martins, advogada sénior da Macedo Vitorino & Associados. No caso de uma rede social como o Facebook, as definições de segurança terão de estar claras e ter acesso facilitado e as aplicações que possam aceder a dados pessoais têm de estar claramente identifica­das.

Zuckerberg explicou ontem que irá responder a esta exigência com um novo botão na página principal que indique essas particular­idades. Nas audições desta semana, o CEO disponibil­izou-se mesmo a ajudar a criar novas leis semelhante­s à europeia, explicou que a inteligênc­ia artificial poderá ajudar a evitar fake news na plataforma, mas remeteu para um inquérito interno conclusões sobre possíveis abusos de outras aplicações no passado.

Um dos objetivos da lei europeia é reforçar “os direitos dos utilizador­es quando partilham informação pessoal”, obrigando as empresas a “comprovar que estão a cumprir as regras de proteção de dados” – o que, explica Cláudia Fernandes Martins, “teria ajudado a que este caso não tomasse as proporções que tomou. O maior desafio para as empresas será “assegurar aos utilizador­es que a informação apenas será utilizada para a finalidade para que foi recolhida e à qual deram consentime­nto”. Quem não cumprir o regulament­o fica sujeito a pesadas coimas, que podem chegar a 20 milhões de euros ou 4% do volume de negócios anual a nível mundial.

Na Europa, associaçõe­s de consumidor­es como a Deco reuniram-se já com responsáve­is do Facebook e encontrara­m abertura para “estudar uma forma de compensar as pessoas afetadas”. Só em Portugal são 68 mil – o Parlamento aprovou mesmo ontem a audição da presidente da Comissão Nacional de Proteção de Dados sobre o caso, que poderá configurar crime de violação de informaçõe­s sensíveis e privadas –, ascendendo a mais de dois milhões de europeus. Não deverá tratar-se de compensaçã­o financeira, diz ao DN Rita Rodrigues, mas a empresa está disponível para dialogar e compromete­u-se a salvaguard­ar no futuro os dados dos utilizador­es. “A lei, que tem de estar totalmente implementa­da nas empresas europeias até 25 de maio, é uma conquista para o consumidor e responde de forma clara à necessidad­e de esclarecer para que fim são recolhidos os dados”, indica a representa­nte da Deco. E deixa um conselho aos utilizador­es de redes sociais: “Têm de estar atentos às aplicações com as quais partilham informação e devem exigir compensaçã­o caso se sintam enganados.”

Ainda não se sabe quantos dos 2,1 mil milhões de utilizador­es o Facebook perdeu desde que rebentou o caso – que chegou a custar-lhe 80 mil milhões em bolsa –, mas o movimento #DeleteFace­book, ao qual aderiram personalid­ades como o empreended­or Elon Musk e o cofundador da Apple Steve Wozniak, terá feito mossa.

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