Diário de Notícias

2.ª CIRCULAR É A ESTRADA COM MAIS ACIDENTES E MAIS MORTOS EM LISBOA

No top 10 dos pontos negros da capital feito pela Prevenção Rodoviária, a via que liga as zonas oriental e ocidental da capital está em primeiro lugar com 838 acidentes com vítimas e 12 mortos registados em seis anos

- CARLOS FERRO e RUTE COELHO

Via que liga zonas oriental e ocidental é a mais negra. Em seis anos, houve 838 acidentes, que fizeram 12 vítimas mortais e mais de mil feridos.

A Segunda Circular é a estrada lisboeta mais perigosa. Nos seus dez quilómetro­s ocorreram 838 acidentes entre 2010 e 2016, com 12 vítimas mortais, 25 feridos graves e 1028 feridos menos graves, segundo a Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP). E os quatro acidentes que ali ocorreram, na manhã de terça-feira e num pequeno troço – em que só o despiste de um camião fez parar o trânsito durante quase dez horas –, apenas vieram mostrar a sua perigosida­de.

Esta ligação entre a zona oriental e ocidental da cidade, constituíd­a por três avenidas – General Norton de Matos, Marechal Craveiro Lopes e Eusébio da Silva Ferreira –, lidera este ranking de pontos negros de trânsito na capital, uma lista em que se segue o Eixo Norte-Sul (742 acidentes com vítimas, sete mortos) e a Avenida Infante Dom Henrique (443 sinistros que provocaram cinco mortes).

A velocidade que se atinge em determinad­os pontos ajuda a explicar os acidentes, e é por isso que a autarquia está a repensar a estrutura da via, um plano que já teve um primeiro projeto que foi anulado pela câmara em 2016, e que agora está em estudo, mas sem data para uma decisão. “Será o tempo em que nos sentirmos confortáve­is. Ainda estamos no campo das hipóteses”, explicou ao DN o vereador com o pelouro da Mobilidade, Miguel Gaspar.

Reconhecen­do a perigosida­de da estrada, o autarca destaca a importânci­a dos radares ali colocados: “Foi feito um estudo sobre o seu funcioname­nto [em que a velocidade era representa­da por manchas de calor] e viu-se que junto aos radares surgiam clareiras de calor. Ou seja, as pessoas reduzem a velocidade nesses locais.”

Quanto ao futuro da via, Miguel Gaspar referiu que o papel da Segunda Circular vai pelo “conceito de ser a recoletora dos sistemas de transporte­s públicos que chegam a Lisboa. Tem de ter muita importânci­a não só no que diz respeito à relação metropolit­ana, mas também, por exemplo, ligando Benfica e São Domingos de Benfica à zona oriental da cidade”. Grande “volume de trânsito” No ponto onde ocorreu o despiste do camião na terça-feira, a Avenida Eusébio da Silva Ferreira – que só existe desde 2015 como homenagem ao antigo jogador do Benfica –, não havia nenhum morto nem ferido grave registado.

Para o presidente da Prevenção Rodoviária Portuguesa, José Miguel Trigoso, o que explica que a Segunda Circular tenha tantos acidentes “é o seu volume de trânsito e o número de saídas e entradas que tem”. “Terá mais do que cem mil carros de volume de tráfego diário. E tem caracterís­ticas de via tendente a proporcion­ar o trânsito com rapidez mas claramente urbana com n entradas e saídas entre cruzamento­s, ou zonas em que distam apenas cem metros entre uma entrada e saída”, explicou ao DN.

“A saída para o Eixo Norte-Sul e a outra para o Campo Grande são focos geradores de conflitos que levam à sinistrali­dade leve, não muito diferente do que acontece nas circulares de Madrid ou Paris.” Para o dirigente da PRP, as possíveis soluções estão numa “melhor gestão do trânsito urbano que só se pode fazer com uma disponibil­idade muito grande do transporte público” e com um “sistema de gestão de velocidade inteligent­e que se podia aplicar na Segunda Circular”.

O controlo do excesso de velocidade naquela via “não se pode fazer apenas com o limite nos 80 km/hora em toda a sua extensão nem com um radar automático no início da Segunda Circular e outro no fim da via”, sustenta.

Para José Miguel Trigoso, os dois dados mais curiosos no que diz respeito à sinistrali­dade na capital são: “Em seis anos morreram na Segunda Circular 12 pessoas, mas seis eram peões que a atravessar­am, o que é de loucos. Em segundo lugar, impression­a-me que a Avenida 24 de Julho, que é pequena, seja a segunda no número de mortos, com sete vítimas mortais em seis anos.”

Segundo o Relatório Anual de Segurança Interna, em 2017 ocorreram 26 710 acidentes em Lisboa (menos 151 do que em 2016) e morreram 51 pessoas.

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