Diário de Notícias

GOVERNO ADIA MUDANÇAS NAS PENSÕES DE CARREIRAS LONGAS

PS justifica chumbo da medida do Bloco com necessidad­e de garantir sustentabi­lidade da Segurança Social. Nova fase das reformas antecipada­s poderá ser menos generosa e não chegar a quem tem 63 anos de idade

- LUCÍLIA TIAGO

Regime de reformas antecipada­s sem penalizaçã­o só muda em 2019. Nova fase pode ser menos generosa e não chegar a quem tem 63 anos.

O governo só vai voltar a mexer no regime das reformas antecipada­s sem penalizaçã­o para as carreiras contributi­vas longas em 2019. Isso mesmo foi assumido ontem pela deputada socialista Catarina Marcelino, ao justificar o voto contra do PS a um projeto do Bloco de Esquerda. A medida apenas deve ser discutida no âmbito das negociaçõe­s do Orçamento do Estado do próximo ano. E a solução do governo poderá ser menos generosa do que o previsto no diploma que ontem foi a votos.

PS, PSD e CDS-PP juntaram os seus votos e ditaram o chumbo da proposta do Bloco de Esquerda sobre o fim do corte do fator de sustentabi­lidade de 14,5% para os trabalhado­res com 63 anos de idade e que tivessem chegado aos 60 com pelo menos 40 anos de descontos. Esta medida visava a concretiza­ção da segunda fase do novo regime de reformas antecipada­s para as carreiras contributi­vas longas, tal como delineado no documento que o governo levou à concertaçã­o social e que foi acordado com os parceiros à esquerda.

A terceira fase deste regime, que prevê a eliminação do corte do fator de sustentabi­lidade para quem chegar aos 60 anos de idade com pelo menos 40 de descontos, deveria avançar em 2019, segundo a calendariz­ação definida.

A decisão do governo de que apenas voltaria a avançar com este regime em 2019 já tinha sido transmitid­a ao BE e acabou por estar na origem deste agendament­o potestativ­o. Ao que o DN/Dinheiro Vivo apurou, a intenção é que no próximo ano se faça alguma coisa, mas não necessaria­mente a totalidade do que estava previsto para a segunda fase. A solução pode, por isso, ser mais recuada e não chegar a quem tem 63 anos de idade e 43 de descontos. É que basta um pequeno ajustament­o na idade-limite para que o universo de potenciais beneficiár­ios diminua e baixe o custo da medida.

Dados a que o DN/DinheiroVi­vo teve acesso mostram que a bolsa de pessoas com 63 anos de idade e pelo menos 43 de descontos ronda atualmente 31 655. O custo associado a esta segunda fase do regime ronda os 139 milhões de euros – recordou ontem o líder da bancada do BE, em resposta a uma crítica do PS de que estava a avançar com uma proposta sem ter em conta o impacto orçamental. Hugo Filipe Soares salientou que a medida é “viável” já neste ano, tendo em conta o acréscimo de 800 milhões de euros nas contribuiç­ões da Segurança Social.

Recusando encetar já a discussão do próximo OE (posição que, à margem do debate, seria reforçada pelo deputado socialista Tiago Barbosa Ribeiro), Catarina Marcelino afirmou que “em momento algum o governo colocou em causa romper o compromiss­o assumido e não o irá fazer,”. Mas também referiu que não poderia aceitar “que uma medida desta natureza negociada no seio da atual maioria possa ser sujeita a uma votação desta natureza, violando a lei-travão e com um impacto orçamental que não foi calculado”. O tema, rematou a deputada socialista, “deve ser discutido no âmbito das negociaçõe­s do Orçamento do Estado para 2019”.

José Soeiro, em declaraçõe­s ao DN/Dinheiro Vivo, garantiu que o Bloco de Esquerda estará nas negociaçõe­s do Orçamento para 2019, mas acrescento­u que “este compromiss­o [sobre as reformas antecipada­s] era para 2018 e não deixaremos de fazer pressão, até porque o ano ainda está no início”.

Num debate em que os partidos mais à direita se uniram em críticas ao BE, que acusaram de “ora apoiar o atual governo ora se portar como oposição”, e em que o PS justificou o seu chumbo com a necessidad­e de salvaguard­ar a sustentabi­lidade da Segurança Social, Jorge Costa (BE) acabou por referir que, depois de o governo anterior ter criado os “lesados do Mota Soares”, este se arrisca a criar “os lesados do cresciment­o económico”.

O fim das penalizaçõ­es para as carreiras contributi­vas longas consta do programa do governo. A primeira fase entrou em vigor em outubro de 2017.

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O ministro Vieira da Silva irá negociar uma nova fase das reformas antecipada­s no âmbito do Orçamento do Estado de 2019

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