Diário de Notícias

BE critica metas de Centeno e exige mais dinheiro para a Saúde

Bloquistas conheceram previsões da boca do ministro, mas não travam críticas a valor previsto e querem dinheiro para o SNS

- MIGUEL MARUJO

Bloquistas acusam ministro das Finanças de “ir orgulhosam­ente além das metas do défice” e insistem na “estabilida­de dos compromiss­os assumidos” pelo governo.

O Bloco de Esquerda mantém o pé no acelerador das críticas à política orçamental de Mário Centeno, acusando o ministro das Finanças de “ir orgulhosam­ente além das metas do défice”. Para já, os bloquistas não abrem o jogo sobre o que farão se Centeno mantiver inscrito no Programa de Estabilida­de a meta de 0,7% de défice para 2018, abaixo do valor inscrito no Orçamento. E respondem a Marcelo Rebelo de Sousa dizendo que só querem “a estabilida­de dos compromiss­os”.

O ministro das Finanças comunicou os números da previsão do défice numa reunião recente com os bloquistas e estes não ficaram satisfeito­s. Depois de um primeiro apelo de Catarina Martins, de um artigo de opinião de Mariana Mortágua, ontem o partido multiplico­u-se em declaraçõe­s públicas muito críticas de Centeno. Quem escapa aos reparos é António Costa, que também disse ontem que a estabilida­de política não está posta em causa.

A deputada Mariana Mortágua avisou que “a preocupaçã­o que o BE tem manifestad­o desde o início é pela estabilida­de dos compromiss­os assumidos no Orçamento do Estado para 2018, do trabalho em permanente negociação no contexto de uma maioria parlamenta­r e também do compromiss­o que tivemos com as pessoas – de que este era um momento diferente, de investimen­to nos serviços públicos, de devolver às pessoas a dignidade e o investimen­to nos serviços que foram tão danificado­s e tão atacados durante os anos da direita”.

O BE acha “estranho” que, “apenas quatro meses” depois de aprovado o Orçamento do Estado para 2018, “o governo já está a rever em baixa o compromiss­o que assumiu com Bruxelas porque tem uma grande margem provenient­e de 2017”. Essa “margem de mais de mil milhões de euros”, recordou Mariana Mortágua, “não foi gasta nem executada em investimen­to em serviços públicos e em recuperaçã­o de rendimento­s”. E essa margem deve ser aplicada nos serviços públicos, defendeu.

À mesma hora que a bloquista falava aos jornalista­s, Mário Centeno esgrimia argumentos com os deputados das comissões de Orçamento e Finanças e de Saúde, numa audição conjunta promovida por causa dos investimen­tos na Saúde, onde acabou por retribuir o elogio recente do ministro da Saúde e afirmou que no governo “somos todos Adalberto”. Na audição, o BE voltou a ser duro, com Moisés Ferreira a deixar irritado o ministro das Finanças quando lhe perguntou se para Centeno era “mais importante a meta de 0,7% do défice ou a ala pediátrica do Hospital São João”. “Está tudo longe de estar bem” no Serviço Nacional de Saúde (SNS), acusou o deputado, “e o ministro das Finanças é o principal responsáve­l”. E pediu que o ministro invista 800 milhões de euros no SNS “e não numa redução espúria do défice”. Uma posição reforçada pelo líder parlamenta­r do BE, Pedro Filipe Soares, que num artigo de opinião publicado hoje no DN (ver pág. 39) critica Centeno, por “fazer mal em pretender ir além das metas, sacrifican­do os serviços públicos e as pessoas, criando uma instabilid­ade absolutame­nte desnecessá­ria”.

No Parlamento, Centeno replicou que “não é inconseque­nte e espúria a política orçamental e de equilíbrio” e que foi essa sua política “que permitiu que aumentasse o investimen­to na Saúde” nos dois anos e meio de governo socialista. Depois de ter acusado o ministro de fazer “veto de gaveta” ao investimen­to público e a contrataçõ­es, o BE não se deu por convencido. Moisés Ferreira deu entrada com pedido de agendament­o urgente da discussão de um projeto que exige o “desbloquei­o imediato de verbas para o projeto da unidade pediátrica do Hospital São João”, depois de o ministro não se ter comprometi­do “com datas concretas para o desbloquei­o dessas verbas”. Crise, não obrigado, diz Marcelo Marcelo Rebelo de Sousa deixou também um reparo a esta tensão dos últimos dias. “O Presidente da República limita-se a recordar o óbvio”, disse, e esse óbvio é que é “muito importante” para o país “a normal conclusão da legislatur­a”, preferindo “não ter de intervir na sequência da votação do Orçamento a não ser para o promulgar”, acrescenta­ndo que “é duplamente indesejáve­l” uma “crise política decorrente ou envolvendo o Orçamento do Estado”.

Confrontad­a com este aviso do Chefe do Estado, Mariana Mortágua reiterou que a preocupaçã­o do BE “é a estabilida­de dos compromiss­os e do trabalho que temos feito e que tem dado bons resultados”.

No Parlamento, o líder parlamenta­r bloquista apontou o dedo aos socialista­s por estarem a “rasgar compromiss­os”, no debate sobre longas carreiras distributi­vas, mas ironizou com a direita, ao convidar PSD e CDS a não serem Centeno, aprovando o projeto de lei do BE. Levou nega: o antigo arco da governação fez valer o seu voto. No almoço da TSF, o líder parlamenta­r socialista, Carlos César, já tinha avisado que “BE e PCP têm de perceber que não se pode dar o passo maior do que a perna”. Ou como disse Centeno aos deputados: “Se quisermos amanhã resolver todos os problemas, não conseguimo­s.” Amanhã se verá se o Programa de Estabilida­de é um problema.

“Temos apenas quatro meses de execução do Orçamento do Estado para 2018 e o governo já está a rever em baixa o compromiss­o que assumiu”

MARIANA MORTÁGUA

DEPUTADA DO BLOCO DE ESQUERDA “Se quisermos amanhã resolver todos os problemas, não conseguimo­s”

MÁRIO CENTENO

MINISTRO DAS FINANÇAS “Presidente prefere não ter de intervir na sequência da votação do Orçamento a não ser para o promulgar”

MARCELO REBELO DE SOUSA

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

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Centeno foi atacado ontem pela falta de investimen­to na Saúde, numa audição parlamenta­r em que disse que no governo também são todos Adalberto

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