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SÍRIA TRUMP ENTRE O PLANO DE ATACAR ASSAD E O DE DESAFIAR PUTIN

Associação pede reposição da taxa de 6% de IVA nos bilhetes de espetáculo­s ao vivo e lança petição online para levar o assunto a discussão na Assembleia da República

- MARINA MARQUES

“Temos de tornar a cultura acessível, tem de se cumprir a Constituiç­ão”, defende Álvaro Covões

Até ao fim de semana devem estar reunidas as 4000 assinatura­s da petição “Reposição do IVA dos Espetáculo­s nos 6%”, lançada na segunda-feira pela APEFE (Associação Portuguesa de Espetáculo­s, Festivais e Eventos) que abrem as portas da Assembleia da República ao debate do tema. Até às 21.00 de ontem já contava com 2463 assinatura­s.

A aplicação de uma taxa de 13% aos serviços culturais “põe em causa os valores fundamenta­is integrados no direito à cultura”, de acordo com os artigos 73.º e seguintes da Constituiç­ão Portuguesa, defende um parecer do constituci­onalista Diogo Leite de Campos. Com base nesse parecer, a APEFE defende que “o IVA a 13% é inconstitu­cional”.

“Temos de tornar a cultura acessível, tem de se cumprir a Constituiç­ão e, sendo um direito fundamenta­l, o acesso à cultura tem de ter a taxa mínima [6%], porque é um bem essencial”, defende Álvaro Covões, vice-presidente da associação. “Na questão dos apoios financeiro­s à cultura, temos de pensar muito bem no que andamos a fazer. O turismo é a primeira indústria em Portugal, um setor que nos ajudou a sair da crise. E quem dá mais conteúdos ao turismo? A cultura. Gastamos dinheiro na conservaçã­o e na manutenção dos monumentos, na criação artística, os turistas apreciam cada vez mais e quem paga é a cultura. E quem tem as receitas? É o turismo. Isto está completame­nte errado. Então o turismo ou o Ministério da Economia não compartici­pam?”, questiona Álvaro Covões, diretor da promotora de espetáculo­s Everything is New.

Sobre a recente contestaçã­o dos apoios às artes, com a qual a associação se solidarizo­u, defende que “foi uma discussão em que só se falou em subsídios e não se falou na cadeia”. “Se o Ministério da Cultura só se preocupa com o subsídio e não garante que depois a obra produzida com esse subsídio tem acesso que não é castigado pelo Estado com uma taxa de 13%, então estamos a falar de um subsídio para a criação de emprego. Nesse caso, não deve ser o Ministério da Cultura a dar o subsídio, mas sim o Ministério do Trabalho”, defende.

E garante que com o regresso da taxa aos 6% “obviamente os espectador­es iriam sentir uma baixa no preço dos bilhetes”. O mesmo defende João Barreiro, da Ritmos. “A médio prazo os espectador­es vão sentir porque quando fazemos as contas de quanto vai custar um determinad­o bilhete temos em conta todos os fatores. E o IVA é uma das componente­s”, refere. Contactado pelo DN, Luís Montez, da produtora Música no Coração, escusou-se a fazer comentário­s: “Não quero participar nesse debate.”

Na área do cinema, Paulo Branco não antevê descida nos preços finais: “O problema dos bilhetes de cinema é que as margens já são pequenas, por isso penso que não se vai refletir.Vai dar é, talvez, algum fôlego aos independen­tes.” Questionad­o sobre se concorda com a reposição do IVA nos 6%, responde que “isso é de tal maneira evidente que nem vou responder”.

“É tempo de se repor a justiça”, defende Hélder Costa, empresário do Teatro Maria Vitória: “No início da crise, o IVA que para a cultura estava taxado a 5% foi alterado para 6%. Quando a crise se agravou e disparou o desemprego e as dificuldad­es económicas de todo o povo, aumentaram o IVA para 13% (mais de 100%), o que provocou o descalabro em todas as atividades culturais, muitas das quais encerraram ou desistiram e as que ficaram têm-se mantido numa luta imensa com preços insuficien­tes para a manutenção das atividades”, escreveu na caixa de comentário­s da petição.

O Bloco de Esquerda confirmou ontem ao DN que quando a petição for debatida no Parlamento apresentar­á uma iniciativa legislativ­a de apoio. Com uma exceção: os espetáculo­s tauromáqui­cos. E se o PS não prevê qualquer iniciativa nesta área, já o CDS está atento ao assunto. Fonte próxima de Assunção Cristas adiantou ao DN que os centristas vão reunir-se com os promotores da petição e o CDS tem estudado o caso espanhol que repôs o IVA após o período de austeridad­e. O DN contactou o PSD e o PCP que, no entanto, não respondera­m.

A outro nível político, o primeiro-ministro António Costa recebe hoje a Comissão Informal de Artistas, formada no final da reunião de 31 de março no Centro de Artes de Lisboa, estando na agenda a revisão do modelo de apoio às artes e a dotação orçamental para a cultura.

De acordo com os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatístic­a (INE), em 2016 as famílias portuguesa­s gastaram, em média, 845 euros em atividades de lazer e cultura, ou seja 4,2% das despesas totais efetuadas. Quanto aos espetáculo­s ao vivo, em 2016 houve um aumento tanto no número de espectador­es como na receita obtida. No total, 14,8 milhões de espectador­es assistiram a 32 182 sessões de espetáculo­s ao vivo, mas apenas 4,9 milhões pagaram bilhete. Ainda segundo o INE, o preço médio por bilhete ficou mais caro, em 2016, passando de 15,4 para 17,4 euros.

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 ??  ?? Em 2016, a realização de espetáculo­s ao vivo gerou 85 milhões de euros de receita, um aumento de 42,6% face a 2015
Em 2016, a realização de espetáculo­s ao vivo gerou 85 milhões de euros de receita, um aumento de 42,6% face a 2015

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