Defesa quer atrair cérebros indianos em cibernética e novas tecnologias
Empresas ligadas à indústria de Defesa nacional estiveram nesta semana numa feira na Índia. O objetivo era celebrar parcerias com as principais universidades de um país que tem o quinto maior orçamento de Defesa no mundo
Portugal tem falta de técnicos qualificados porque emigram ou são insuficientes para a procura das multinacionais que se instalam no país, como Google, Amazon e Vestas. Para compensar a situação, o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (Inesc-TEC) está a celebrar acordos de parceria com as principais universidades indianas de tecnologia, revelou o seu presidente ao DN.
Vladimiro Miranda é um dos representantes das 14 entidades da indústria de Defesa – drones, espaço, tecnologias de informação e comunicação, setores aeronáutico e naval (construção, manutenção e reparação) – presentes na Defexpo 2018, feira do setor industrial militar que terminou ontem na cidade indiana de Chennay (onde se situa a principal universidade tecnológica indiana). “Se conseguirmos receber pessoas qualificadas da Índia” para fazer a especialização em Portugal “e enquadrá-las no nosso sistema, vamos ajudar as empresas portuguesas e as que se instalem” no país, explicou o professor.
Além do Inesc-TEC, companhias como a OGMA, a Tekever e a EIT também integram a delegação organizada pela estatal idD para promover o setor “num mercado que está com um crescimento quase exponencial”, realçou o presidente da Plataforma das Indústrias de Defesa portuguesas, Henrique Macedo. Segundo este major-general, as pequenas e médias empresas (PME) nacionais “podem conseguir parcerias” com indianos e a produção ser feita localmente.
Mas “também pode haver interesse” das PME indianas em fazer parcerias” com as portuguesas, desde logo “no domínio da cibersegurança para entrarem no mercado europeu”, assumiu o presidente da idD. “Nessa matéria, os indianos são um país muito forte”, reconheceu Henrique Macedo, que anteontem participou numa apresentação das capacidades lusas nesse domínio.
Sair da Defexpo 2018 com contratos assinados é visto como extemporâneo e quase irrealista, admitiram as várias fontes, pois o imoperadores portante é marcar presença, conhecer a realidade local e as intenções do Ministério da Defesa indiano – cujo orçamento cresceu 8,5% em 2016, para 45,3 mil milhões de euros. Isso coloca o país no quinto lugar dos que mais investem nas Forças Armadas a nível mundial, segundo o Instituto Internacional de Pesquisa sobre a Paz de Estocolmo (SIPRI).
Acresce que Nova Deli prevê aumentar esse investimento para os 51,9 mil milhões de euros até 2020, dos quais 36% – quase 18,7 mil milhões – orçamentados para novos equipamentos e sistemas de armas, cujos planos foram apresentados pelo governo indiano num encontro com os participantes na feira.
A OGMA, que já faz a manutenção de nove aeronaves militares da Índia num negócio que rende cerca de dez milhões de euros anuais, procura atingir dois objetivos: receber também as dezenas de aparelhos C-295 e C-130J; relacionado com este último modelo, “alargar as competências” da empresa de Alverca, que só está autorizada a trabalhar com versões anteriores pela construtora Lockheed (EUA), referiu Mário Rodrigues. Carlos Félix, da ETI, contou ao DN que a estratégia da empresa “passa por chegar” aos militares e aos grandes fabricantes de material de guerra. “Estamos a falar de duas dimensões que se podem conjugar nesta feira: um operador que tem um orçamento da Defesa e planos de investimento gigantescos”, a par de empresas públicas e privadas “com dimensão assinalável.” Além dos produtos que fabrica (como simuladores para condução de viaturas ou tiro antiaéreo), a ETI produz “sistemas interativos de aprendizagem e formação” através de computadores que “podem complementar soluções” de outras empresas.
Pedro Petiz, da Tekever, disse estar a “avaliar qual a melhor estratégia” para entrar num mercado militar – onde vão ser lançados dois concursos para a compra de drones – tão competitivo como o indiano, cuja política passa pela criação de parcerias com empresas locais. A companhia portuguesa vê isso com bons olhos, dada a “necessidade de ter uma presença mais permanente e porque a dimensão do mercado obriga a isso”.
Já a presença do Inesc-TEC na Defexpo 2018 é singular: sendo um instituto de investigação, procura “dar à Índia a imagem de que o sistema de ciência português está junto das empresas”, o que “é importante para credibilizar um setor com menos capacidade” do que os de países como EUA, Reino Unido ou França – mas, enfatizou Vladimiro Miranda, “onde o grau de inovação é maior”. Tendo projetos financiados pela Marinha dos EUA e colaborando com a Força Aérea e a Marinha portuguesas, “estamos numa boa posição para credibilizar as empresas e exportar tecnologia”, assinalou o presidente do Inesc-TEC. Daí a importância do acordo com os institutos públicos de Tecnologia de Goa (já assinado) e de Chennay – líder na área das engenharias – e com a universidade privada de ciência e tecnologia de Gujarate. Exploração oceânica, saúde e energias renováveis são “as três principais áreas” de interesse do Inesc-TEC para formalizar parcerias com empresas indianas, nomeadamente startups locais, que “têm excelentes cientistas” mas a quem falta a tecnologia e patentes licenciadas pelo instituto, disse.