Diário de Notícias

Barry Hawkins “Não há muitos que possam gabar-se de ter vencido O’Sullivan”

- RUI MARQUES SIMÕES

De 21 de abril a 4 de maio, o Crucible Theatre volta a ser o maior palco mundial do snooker. Em vésperas de mais um Campeonato do Mundo na mítica sala de Sheffield, Inglaterra (com transmissã­o nos canais Eurosport), Barry Hawkins, um dos principais outsiders candidatos a desafiar os suspeitos do costume – Selby, O’Sullivan, Higgins –, perspetiva a competição em entrevista telefónica ao DN. E admite: agora já se sente muito mais confortáve­l frente ao mítico Ronnie O’Sullivan, que o bateu na final de 2013 (18-12).

Começamos por uma pergunta (não tão) simples: como convenceri­a alguém que nunca viu uma competição de snooker a acompanhar com atenção o próximo Campeonato do Mundo? Ora, se procuram um jogo interessan­te e tático mas muito entusiasma­nte, ao mesmo tempo, o snooker é o jogo perfeito. O snooker cria uma atmosfera muito tensa, principalm­ente em torneios como o Campeonato do Mundo. Para si, é uma velha paixão. Começou a jogar aos 11 anos e tornou-se profission­al com 17 (em 1996, embora conciliass­e com outro emprego). Quais foram os melhores momentos até aqui? Um dos melhores foi chegar à final do Campeonato do Mundo [2013] e poder enfrentar lá Ronnie O’Sullivan, que, do meu ponto de vista, é a maior estrela de todos os tempos. Poder enfrentá-lo no mais importante torneio que temos, diante de milhões de pessoas, foi dos momentos mais saborosos da minha carreira: não são muitos os jogadores que o conseguem, numa final de um Campeonato do Mundo. Como se sente a quase uma semana do início do Campeonato do Mundo? Estou de regresso ao trabalho, após ter tirado uns dias para relaxar e estar com a família. Espero continuar com a boa forma que mostrei nas últimas semanas e conseguir bons resultados, mas é um torneio tão duro que ficarei feliz apenas por passar a primeira ronda e ver o que acontece depois. Essa boa forma levou-o às finais do Welsh Open e no China Open. Depois de estar tão perto do regresso aos títulos, o Campeonato do Mundo seria o melhor palco para consegui-lo... Se o conseguiss­e seria um sonho tornado realidade. Realmente, nos últimos um ou dois meses mostrei bons sinais. Antes, passei por uma temporada muito dura – e um ano complicado, a nível pessoal –, mas agora deixei todos os problemas para trás, estou mais concentrad­o na minha carreira e já mostrei que estou de volta à boa forma. Estou esperançad­o em mostrá-lo também em Sheffield, com um bom torneio. Já foi a uma final, três semifinais e uns quartos-de-final nos últimos cinco anos, depois de não ter passado das duas primeiras rondas nas sete participaç­ões anteriores no Campeonato do Mundo. É sinal de que se sente cada vez mais confortáve­l na competição? Sim, nos primeiros anos não foi feliz no Crucible: qualificav­a-me, mas apanhava pela frente jogadores de top 16 e era muito difícil ganhar-lhes. A partir do momento em que comecei a vencer, ganhei confiança. Nos últimos anos senti-me muito mais confortáve­l. Agora sei o que esperar, tenho muito mais experiênci­a e espero voltar a demonstrá-lo no campeonato deste ano. Quais podem ser os seus principais adversário­s e candidatos ao título? É uma boa questão. Tivemos poucos vencedores diferentes nos últimos anos [principalm­ente, Ronnie O’Sullivan (2001, 2004, 2008, 2012 e 2013) e Mark Selby (2014, 2016 e 2017)], mas, de ano para ano, a competição tem sido mais aberta. Penso que os principais candidatos, este ano, serão Selby, O’Sullivan e John Higgins [vencedor da prova em 1998, 2007, 2009 e 2011]. Mark Williams talvez também tenha uma chance: fez uma temporada fantástica, está a jogar de forma muito boa e consistent­e, já foi campeão por duas vezes [2000 e 2003] e poderá ser um outsider. Obviamente, não vou falar de mim, pois nunca ganhei o Campeonato do Mundo... mas há uma primeira vez para tudo. Consigo, Mark Selby (1.º do ranking mundial), Ronnie O’Sullivan (2.º) e Judd Trump (4.º) na luta, pode esperar-se que o campeão seja inglês, como aconteceu nos últimos seis anos [e em 22 das 49 edições da era moderna, desde 1969]. E é quase certo que não sairá do Reino Unido [só aconteceu três vezes, a última das quais em 2010, obra do australian­o Neil Robertson]. Fora do Reino Unido, o único que vejo capaz de lutar pelo título é o chinês Ding Junhui – que é um jogador incrível. Ele já foi à final (em 2016) e acredito que pode voltar a consegui-lo. O que é que torna os ingleses tão bons e tão apaixonado­s pelo snooker? Quando era mais novo, nos 80 e 90, a cena do snooker em Inglaterra era enorme: havia imensos jogadores, a competitiv­idade era altíssima e levava à nossa contínua evolução. Agora, os jogadores de outros sítios estão a aproximar-se, especialme­nte os chineses: há muitos jovens a aprender e a competição está a tornar-se muito séria. Provavelme­nte, o próximo campeão de fora do Reino Unido será chinês. Seja no Reino Unido ou no resto do mundo, a maior lenda do snooker é Ronnie O’Sullivan, que pode ser o seu rival nas semifinais (se ambos lá chegarem).Vocês já se defrontara­m variadíssi­mas vezes, incluindo na final de 2013. Como é competir com ele? É muito duro. É muito intimidado­r para os outros jogadores, porque todos aspiramos a ser como ele. Mas, após ter jogado várias vezes com ele, já não me sinto intimidado, embora o admire imenso. Já consegui batê-lo no Campeonato do Mundo (2.ª ronda, 2016): isso prova que posso fazer-lhe frente, quando estou em boa forma. Agora sinto-me mais confortáve­l. Se o voltar a vencer, pode ficar muito perto de fazer história. Bem, isso não sei (risos)... Mas não há muita gente que possa gabar-se de ter vencido o Ronnie O’Sullivan no Crucible. Ele venceu-me imensas vezes antes disso, e foram derrotas bastante pesadas, mas também já fui capaz de vencê-lo um par de vezes.

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