A renovação da maioria absoluta nas legislativas de domingo passado “reforça o sentimento de legitimidade do Fidesz”
CARLOS SANTOS PEREIRA A reafirmação de uma liderança de pendor nacionalista, autoritária e eurocética, no passado domingo, dia 8, na Hungria veio reforçar os alarmes quanto às tendências políticas entre os países do centro europeu (…) e os desafios que colocam à Europa.
Viktor Orbán, o controverso chefe do governo de Budapeste, apontado com uma das referências da direita radical europeia, garantiu um terceiro mandato com maioria absoluta com base numa plataforma centrada numa política antiemigração e em promessas de pôr na ordem os media e organizações independentes denunciadas como “agentes da influência estrangeira” e “ameaças à segurança nacional”. Prometeu ainda baixar os impostos e promover políticas de crescimento económico.
“Ganhámos”, disse Orbán na primeira reação à vitória eleitoral. “Conquistámos uma oportunidade de defender a Hungria.” O líder magiar apresenta-se como defensor da Hungria e da Europa contra os emigrantes muçulmanos e coloca a soberania nacional acima de tudo – e em particular de Bruxelas.
O triunfo representou uma pesada derrota para a oposição liberal, dos socialistas aos Verdes, que se mostrou incapaz de superar as suas divisões e de se unir contra o Fidesz.
O partido de Orbán terá perdido o voto da juventude e viu as formações da oposição conquistarem a maioria dos assentos parlamentares na capital, Budapeste, mas manteve a supremacia nas circunscrições rurais e nas cidades de província.
O processo eleitoral foi alvo de duras críticas por parte dos observadores da OSCE que consideraram as eleições “legais”, mas não verdadeiramente “livres” e denunciaram o “clima adverso” que condicionou a oposição. Durante a campanha, Viktor Orbán recusou debates diretos com os seus adversários e falar aos media independentes.
A vitória de Orbán foi prontamente saudada por vários líderes da extrema-direita europeia, da francesa Marine Le Pen ao holandês Geert Wilders, e pelo primeiro-ministro nacionalista polaco, Mateusz Morawiecki, defensor, como Orbán, da “herança cristã” europeia. O líder húngaro recebeu ainda os cumprimentos do Partido Popular europeu e uma palavra de apoio do ministro do Interior alemão, Horst Seehofer, crítico da política de imigração da chanceler Angela Merkel. De “coqueluche” a “mau rapaz” Os media europeus chamaram-lhe “o mau rapaz da Europa” ou “o lança-chamas europeu”. E no entanto, em finais dos anos 1980, Viktor Orbán era adulado por toda a direita europeia. Jovem, dinâmico, irrepreensivelmente liberal e antissoviético, o líder do Fidesz – o irreverente movimento dos “jovens democratas” – era o modelo consumado dos líderes emergentes de uma Europa de centro-leste em plena emancipação do bloco soviético.
O perfil político do jovem líder em breve revelou outros tons. Orbán percebeu que se abria um espaço vazio na direita política e o Fidesz preencheu-o adotando uma linha cada vez mais conservadora na oposição à coligação socialista-liberal que governava a Hungria desde 1994.
Regressado ao poder em 2010 com maioria absoluta – depois de ter chefiado o governo entre 1998 e 2002 e de oito anos na oposição – Orbán meteu mãos à obra. Refez a Constituição sublinhando os valores cristãos, a nação e a família. Garantiu a cidadania e o direito de voto aos mais de um milhão de húngaros que vivem nos países vizinhos, aprovou uma nova lei dos media que lhe permitiu controlar a informação. Esta última mereceu-lhe sérios reparos do Conselho da Europa.
As vozes críticas acusam-no de purgar a administração pública ou Adulado pela direita europeia em finais dos anos 1980 pela sua luta contra o comunismo, hoje, Viktor Orbán é descrito pelos media europeus como o “mau rapaz” da UE ou mesmo como o “lança-chamas europeu”