Tamanho que conta
Por falar em tamanhos que contam, ou melhor em contar tamanhos, talvez fosse tempo de se limitar o tamanho das coisas em Portugal
Isto a mim importa-me pouco mas interessa-me muito. Para as mulheres a característica mais importante de um homem é que seja honesto, divertido, compreensivo, inteligente, meigo, determinado. Claro que isto é o mais importante se o homem for mais alto do que ela. Como me dizia a minha mais velha, do alto dos seus 15 anos, pai, rapazes baixotes esquece, esquece mesmo, tá? Tá.
E tá mesmo a sério, até porque já antes tinhas aceite o meu preconceito, eu aceito agora o teu, na boa. Tinha-lhe explicado, aquilo que toda a gente sabe, que homens que têm carros muito potentes e que aceleram muito são uns cretinos e que só fazem aquilo para compensar certas insuficiências. Isto a propósito de um jovem de ruidosas aceleradelas num Audi, nas curtas abertas entre semáforos numa Almirante Reis congestionada.
Mas sim, não passou ao nosso lado um único casal em que ele fosse mais baixo, houve uns que era resvés, ele todo esticadinho. Eu bem argumentei com o carácter, o tratar bem, o ajudar, tudo de acordo, ela concordava, mas desde que fosse mais alto do que ela. Mas e se acontecer que te apaixones por um mais baixo? Foi como se tivesse perguntado se se apaixonasse por um plátano, ou por um leopardo, ou por um iPhone 3. O meu argumento mais forte – que hoje as mulheres não precisam dos homens para apanhar fruta, e que portanto a altura não interessa – foi recebido com algum desprezo. Perguntei porquê, ela explicou, porque um homem mais baixo sente-se inferior à mulher mais alta e não gosta. Pois, disse eu, e depois pode acabar na cena do Senna da Almirante Reis. Ela riu-se. És maluco, pai.
Claro que a ciência está mais com ela, nas alturas, do que comigo, nos carros. Os estudos demonstram universalmente (com exceção de certas tribos africanas) uma preferência declarada e revelada por homens relativamente mais altos, e por homens mais altos do que a média. Os entendidos – sim, há entendidos nisto – não se entendem quanto às causas das preferências, desde explicações evolucionárias (melhores genes, os mesmos que levam a rendimentos maiores e mais posições de liderança), a explicações sociais (conformidade e reprodução de estereótipos). No fundo, já me disseram, mais baixos não dá jeito para andar na rua abraçados.
Por falar em tamanhos que contam, ou melhor em contar tamanhos, talvez fosse tempo de se limitar o tamanho das coisas em Portugal, por exemplo nos tribunais, limitando o número de palavras das peças processuais, obrigando os advogados, em que me incluo, a ser mais sucintos, diretos, objetivos, incisivos e, espera-se, claros; ao mesmo tempo que se poupa tempo precioso aos juízes. Os atrasos da justiça têm muitas causas, e uma delas, porventura não a maior, mas não irrelevante, os tamanhos das peças processuais que são obrigados a ler. É assim nos tribunais americanos.
Na América, Trump, que tem especial talento para escolher alcunhas que ficam, com tudo o que isso implica, desde logo de um presidente por aí a dar alcunhas, tem uma estranha predileção por chamar baixote, ou canina (em todas as turmas havia um canina), aos seus opositores. Já receberam o prémio, pelo menos, Jeff Zucker (presidente da CNN), Bob Corker (senador republicano), Adam Schiff (representante democrata), Kim Jong-un, Marco Rubio.
Na campanha republicana, Marco Rubio disse que Trump, apesar de andar sempre a gabar-se de ser mais alto do que ele, tinha as mãos muito pequenas, e “sabem o que se diz de homens que têm as mãos pequenas?….” (aceleram na Almirante Reis?). Trump deu várias entrevistas a dizer, com um ar ligeiramente preocupado, que nunca ninguém lhe tinha dito que tinha as mãos pequenas, e que quanto ao “resto” podia garantir que não havia problema. James Comey, o diretor do FBI despedido e insultado por Trump, num livro que sairá nesta semana, sabe onde dói a Trump e chama-lhe baixo e diz que as mãos são mais pequenas do que as dele, e que o que é grande são os papos em meia-lua por debaixo dos olhos. Comey mede dois e cinco e Trump apenas um e noventa. Tudo isto, como se não houvesse guerra na Síria. Assad, que é da altura de Trump, ficou como Animal Assad no campeonato das alcunhas, que até soa bem, o duplo A, a ligação com o L. Sem desprimor para os outros animais, os não humanos, que nunca gasearam ninguém. Nem aceleraram na Almirante Reis.
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