Diário de Notícias

Tamanho que conta

- JOÃO TABORDA DA GAMA

Por falar em tamanhos que contam, ou melhor em contar tamanhos, talvez fosse tempo de se limitar o tamanho das coisas em Portugal

Isto a mim importa-me pouco mas interessa-me muito. Para as mulheres a caracterís­tica mais importante de um homem é que seja honesto, divertido, compreensi­vo, inteligent­e, meigo, determinad­o. Claro que isto é o mais importante se o homem for mais alto do que ela. Como me dizia a minha mais velha, do alto dos seus 15 anos, pai, rapazes baixotes esquece, esquece mesmo, tá? Tá.

E tá mesmo a sério, até porque já antes tinhas aceite o meu preconceit­o, eu aceito agora o teu, na boa. Tinha-lhe explicado, aquilo que toda a gente sabe, que homens que têm carros muito potentes e que aceleram muito são uns cretinos e que só fazem aquilo para compensar certas insuficiên­cias. Isto a propósito de um jovem de ruidosas aceleradel­as num Audi, nas curtas abertas entre semáforos numa Almirante Reis congestion­ada.

Mas sim, não passou ao nosso lado um único casal em que ele fosse mais baixo, houve uns que era resvés, ele todo esticadinh­o. Eu bem argumentei com o carácter, o tratar bem, o ajudar, tudo de acordo, ela concordava, mas desde que fosse mais alto do que ela. Mas e se acontecer que te apaixones por um mais baixo? Foi como se tivesse perguntado se se apaixonass­e por um plátano, ou por um leopardo, ou por um iPhone 3. O meu argumento mais forte – que hoje as mulheres não precisam dos homens para apanhar fruta, e que portanto a altura não interessa – foi recebido com algum desprezo. Perguntei porquê, ela explicou, porque um homem mais baixo sente-se inferior à mulher mais alta e não gosta. Pois, disse eu, e depois pode acabar na cena do Senna da Almirante Reis. Ela riu-se. És maluco, pai.

Claro que a ciência está mais com ela, nas alturas, do que comigo, nos carros. Os estudos demonstram universalm­ente (com exceção de certas tribos africanas) uma preferênci­a declarada e revelada por homens relativame­nte mais altos, e por homens mais altos do que a média. Os entendidos – sim, há entendidos nisto – não se entendem quanto às causas das preferênci­as, desde explicaçõe­s evolucioná­rias (melhores genes, os mesmos que levam a rendimento­s maiores e mais posições de liderança), a explicaçõe­s sociais (conformida­de e reprodução de estereótip­os). No fundo, já me disseram, mais baixos não dá jeito para andar na rua abraçados.

Por falar em tamanhos que contam, ou melhor em contar tamanhos, talvez fosse tempo de se limitar o tamanho das coisas em Portugal, por exemplo nos tribunais, limitando o número de palavras das peças processuai­s, obrigando os advogados, em que me incluo, a ser mais sucintos, diretos, objetivos, incisivos e, espera-se, claros; ao mesmo tempo que se poupa tempo precioso aos juízes. Os atrasos da justiça têm muitas causas, e uma delas, porventura não a maior, mas não irrelevant­e, os tamanhos das peças processuai­s que são obrigados a ler. É assim nos tribunais americanos.

Na América, Trump, que tem especial talento para escolher alcunhas que ficam, com tudo o que isso implica, desde logo de um presidente por aí a dar alcunhas, tem uma estranha predileção por chamar baixote, ou canina (em todas as turmas havia um canina), aos seus opositores. Já receberam o prémio, pelo menos, Jeff Zucker (presidente da CNN), Bob Corker (senador republican­o), Adam Schiff (representa­nte democrata), Kim Jong-un, Marco Rubio.

Na campanha republican­a, Marco Rubio disse que Trump, apesar de andar sempre a gabar-se de ser mais alto do que ele, tinha as mãos muito pequenas, e “sabem o que se diz de homens que têm as mãos pequenas?….” (aceleram na Almirante Reis?). Trump deu várias entrevista­s a dizer, com um ar ligeiramen­te preocupado, que nunca ninguém lhe tinha dito que tinha as mãos pequenas, e que quanto ao “resto” podia garantir que não havia problema. James Comey, o diretor do FBI despedido e insultado por Trump, num livro que sairá nesta semana, sabe onde dói a Trump e chama-lhe baixo e diz que as mãos são mais pequenas do que as dele, e que o que é grande são os papos em meia-lua por debaixo dos olhos. Comey mede dois e cinco e Trump apenas um e noventa. Tudo isto, como se não houvesse guerra na Síria. Assad, que é da altura de Trump, ficou como Animal Assad no campeonato das alcunhas, que até soa bem, o duplo A, a ligação com o L. Sem desprimor para os outros animais, os não humanos, que nunca gasearam ninguém. Nem aceleraram na Almirante Reis.

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