Orçamento BE e PCP insistem: folga tem de ir para investimento público
Aliados do governo defendem que margem de 800 milhões não deve servir para abater mais a dívida. Por outro lado, economistas elogiam a opção do governo. Portugal é o país do euro que mais cortou no défice entre 2015 e 2019.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) duvida das contas do Programa de Estabilidade, que o governo consiga reduzir tanto como diz o saldo orçamental, baixando o défice para 0,7% do produto interno bruto (PIB) neste ano e para 0,2% em 2019, último ano da legislatura.
No entanto, o FMI, que ontem publicou o Panorama Económico Mundial (World Economic Outlook) da primavera, não nega a boa performance de Costa e de Centeno. Em quatro anos, desde que a crise foi deixada para trás, Portugal aparece com a maior compressão do saldo das contas no grupo dos 19 países que formam a zona euro.
Os cálculos do DN/Dinheiro-Vivo, com base nos novos números da instituição chefiada por Christine Lagarde, indicam que Portugal é o país que mais reduz o desequilíbrio orçamental entre 2015 e 2019, com um corte nominal no défice equivalente a 3,5% do PIB (menos seis mil milhões de euros).
Assim, diz o FMI, o setor público português chega a 2019 com um défice nominal de apenas 0,9%, em todo o caso sete décimas mais do que projeta o governo no Programa de Estabilidade que enviou a Bruxelas.
Ou seja, assumindo como certas as previsões de Lisboa, Portugal seria um campeão incontestado na consolidação orçamental.
Pelas contas do fundo, a segunda maior consolidação é a espanhola, com uma redução equivalente a 3,2% do PIB nos quatro anos em análise. Logo a seguir aparecem a Eslovénia (menos 3% do PIB) e a Grécia (2,9%). FMI, o mais otimista até agora A economia parece estar a ajudar, pelo menos no curto prazo. Segundo o mesmo estudo, Portugal deve crescer, em termos reais, 2,4% neste ano.
A entidade liderada por Lagarde, que ainda é um dos principais credores externos do país (tem a haver 4,6 mil milhões de euros do empréstimo do tempo do programa de ajustamento que terminou em 2014), é agora a mais otimista quanto à retoma de 2018. Em março, o Banco de Portugal disse 2,3%; o Conselho das Finanças Públicas estimou 2,2%; em fevereiro, a Comissão também calculou 2,2%.
E o desemprego até poderá ficar muito mais baixo do que diz o Programa de Estabilidade português: nas novas projeções da primavera, o FMI vê 7,3% da população ativa sem trabalho em 2018; o executivo de Costa aponta para 7,6%.
Em fevereiro último, a missão de avaliação do FMI achava que o país poderia crescer cerca de 2,2% neste ano (agora subiu para os tais 2,4%), que a intensidade do desemprego ficaria em 7,8% e que o défice público rondaria 1,1% (agora diz 1%).
O novo outlook indica ainda que o ambiente geral mundial e da zona euro melhorou face ao de há três meses. A nível global o crescimento mantém-se nos 3,9%, resultado de uma melhoria “substancial” nas condições da conjuntura.
Espanha (maior parceiro comercial de Portugal) pode crescer 2,8% neste ano, mais quatro décimas do que se previa em janeiro. A Alemanha, outra economia muito próxima e a maior da zona euro, pode aumentar 2,5% em 2018 (revisão em alta de duas décimas face ao valor de há três meses). França, segundo maior mercado, também ganha duas décimas, aumentando o PIB em 2,1%.
Favorável, por enquanto “Há três meses, atualizámos substancialmente a nossa projeção de crescimento global para este ano e para o próximo, para 3,9% em ambos os anos”, começou por referir ontem Maurice Obstfeld, o economista-chefe do FMI, na apresentação que fez em Washington.
“Esta previsão é confirmada pelo forte desempenho da zona euro, do Japão, da China e dos EUA, que cresceram acima das expectativas. Também projetamos melhorias de curto prazo em outros mercados emergentes e em economias em desenvolvimento, incluindo alguma recuperação nos exportadores de matérias-primas”, acrescentou Obstfeld na apresentação do seu outlook, em Washington.
E há alguns números relevantes para Portugal. A China, investidor e parceiro comercial de referência, mantém uma expansão do PIB de 6,6% (igual a janeiro). O Brasil, outro parceiro importante da economia nacional, ganha força: ia crescer 1,9%, mas afinal pode avançar 2,3% em 2018, diz a atualização do fundo. O Brasil registou uma recessão recente, em 2015 e 2016, com o PIB a recuar mais de 3% em ambos os anos.
Mas há problemas. O economista-chefe assegura que ,“apesar das boas notícias de curto prazo, as perspetivas de longo prazo são mais preocupantes”.
“As economias avançadas – que enfrentam o envelhecimento das populações, as taxas decrescentes de participação na força de trabalho e o crescimento baixo da produtividade – provavelmente não recuperarão as taxas de crescimento per capita de que desfrutavam antes da crise financeira global.”
Em cima disto, “as lutas comerciais distraem-nos da agenda vital, em vez de a avançar”. Um recado para os EUA.