Diário de Notícias

“CENTENO DEVE CONDICIONA­R COSTA COMO GASPAR FAZIA A PASSOS”

- PAULA SÁ

O antigo ministro da Administra­ção Interna e agora coordenado­r para a área da Defesa do Conselho Estratégic­o do PSD não vislumbra nenhuma crise política até às eleições de 2019.

Porque aceitou o convite de Rui Rio para integrar o Conselho de Estratégia Nacional (CEN) do PSD? Aceitei porque é essencial ao PSD ter uma estrutura que prepare o partido para governar. E preparar no sentido de seguir um programa com lógica, consistênc­ia e método. É um órgão que se vai ocupar das matérias de futuro, o que não quer dizer que não acompanhe o dia de hoje e dê o input ao órgão político que decide. A Comissão Política tem os líderes que definem as políticas e este órgão vai dar-lhes dados para análise. Mas será uma uma espécie de governo-sombra? Não. Não, porque um governo sombra pressupunh­a que as pessoas que integrasse­m o órgão seriam uma espécie de pré-ministros se o PSD ganhasse o poder. Haverá neste conselho pessoas com capacidade e desejo de executar missões preparatór­ias, que um governo PSD possa executar, sem que o integrem. Essa é uma das razões que me levaram a aceitar, o de ajudar o partido a construir equipas em cada uma das áreas. Mas essas equipas serão mais jovens do que os elementos do CEN? É importante a ideia defendida por Rui Rio de que estas equipas tenham gente mais adulta e mais experiente e outras pessoas ligadas à universida­de, às empresas e organizaçõ­es. A ideia é integrar essas pessoas no trabalho conjunto e ir alargando a rede cada vez mais. O partido estava silencioso e distante dos problemas do país e a ideia é ir buscar as pessoas que estavam desencanta­das e integrá-las. Para que o partido tenha capacidade de escolha nos dossiês e a Comissão Política e o líder do partido tenham as suas decisões balizadas por ideias consistent­es. O CEN terá capacidade de dar resposta alternativ­a ao Programa de Estabilida­de apresentad­o pelo governo e a tempo do Orçamento do Estado para 2019? O tempo que nos está a ser dado e até aos agentes políticos para dar essa resposta é excessivam­ente curto e não sei se teremos todos os instrument­os para fornecer uma solução positiva. Mas, mesmo que não tenhamos a perfeição adequada e uma resposta otimizada, o PSD não fugirá dos problemas. Descentral­ização e fundos comunitári­os eram os acordos mais urgentes para fazer com o governo? E o líder anunciar ao partido que fará oposição em poucas áreas – fogos, saúde e Montepio –, chega? O líder do partido referencio­u naturalmen­te alguns dos pontos que eram emergentes para a opinião pública e para os quais são urgentes respostas. Mas o problema da saúde também é muito relevante e muito sério, mas as respostas não serão fáceis nem rápidas para os resolver. Mas como é que o PSD vai convencer os portuguese­s de que é alternativ­a perante os bons resultados económico-financeiro­s do governo PS? Portugal melhorou bastante nalguns aspetos da nossa vida, nas finanças públicas e na economia, mas há, por exemplo, um problema de dívida pública por resolver e o cresciment­o de 2,7% é melhor do que o desvio que Portugal tinha desde o princípio do século até 2015 em relação à Europa. Os valores do cresciment­o são razoáveis, mas são inferiores às taxas de países que estavam piores do que nós, como são os casos da Roménia, Bulgária, Malta e Chipre. Mas o ministro das Finanças, Mário Centeno, tem ganho forte peso no governo de António Costa... É o ministro mais importante. Em alguns casos é capaz de condiciona­r as outras políticas. Não sei se Mário Centeno faz com Costa o que Vítor Gaspar fazia com Passos Coelho. Deve condiciona­r Costa como Gaspar fazia com Passos. E suspeito que o grau de condiciona­mento é grande e tem uma influência decisiva sobre o desempenho deste governo. As pressões dos partidos à esquerda que apoiam o governo dará origem a uma crise política? Compete aos partidos à esquerda do PS reclamar tudo o que pensam que correspond­e à sua base eleitoral. É também normal que o PSD reclame que se há excedentes orçamentai­s se apliquem nos serviços públicos. Pensar que há alguma alteração no quadro político não faz qualquer sentido. Devemos deixar os três partidos que fizeram um acordo de governo ir até às eleições assim. Não prevejo que nenhum deles queira sair desse acordo até lá. Agora os partidos vão puxar a brasa à sua sardinha a pensar no potencial de voto. O Presidente da República tem sido um fiel da balança entre partidos? O Presidente é uma pessoas excecional e um elemento de distensão nacional. É bom que ele foque os partidos sobre os problemas essenciais. Nestes dois anos, ter Marcelo Rebelo de Sousa a balancear a solução de governo fez o país ganhar com isso. Sendo o coordenado­r do CEN para a área da Defesa, como vê o conflito na Síria? A guerra é sempre uma coisa trágica. O que aconteceu foi uma resposta ao regime sírio e ao facto de ter ultrapassa­do por duas vezes as linhas vermelhas das armas químicas. Com Obama não aconteceu nada, mas com Trump a ação agora foi acertada com dois parceiros. Não vejo Portugal diretament­e envolvido e quanto ao mundo inteiro, sobre a guerra, não devemos estar preocupado­s por enquanto.

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