Santana já anda outra vez por aí. Acabou a paz de Rio
Nomes indicados por Santana ficaram fora da equipa de 32 coordenadores e porta-vozes do Conselho Estratégico. Falta de debate interno dos acordos com o governo também suscita críticas
“Confirmo que não tem havido trabalho em conjunto”, reconheceu ontem à noite Pedro Santana Lopes, na SIC Notícias, quando questionado sobre se está em “rota de colisão” com Rui Rio. “Na verdade, nem se pode chamar rutura, pois nunca houve sequer um casamento”, sublinhou ainda, acrescentando que “desde o congresso do PSD, durante o qual se tentou algum trabalho em conjunto na elaboração das listas, nada mais existiu”.
A gota de água foi o anúncio da equipa de coordenadores e porta-vozes do Conselho Estratégico Nacional (CEN), o novo organismo do partido, onde não consta qualquer um dos nomes apontados por Santana. O ex-líder social-democrata deu como exemplo o nome do embaixador Martins da Cruz e de Vítor Rosário Cardoso, cuja inclusão no Conselho Estratégico “tinha ficado acordada” e nada aconteceu. “O líder do PSD tem de seguir o seu caminho”, frisou. Negou, no entanto, ter intenção de liderar um movimento de oposição interna: “Não posso, nem quero. Tenho uma vida muito ocupada e, sinceramente, já dei para esse peditório”, assinalou.
De acordo com João Montenegro, ex-diretor de campanha de Santana Lopes, o acordo estabelecido no congresso entre as duas candidaturas à liderança do PSD contemplava a integração de nomes indicados pelo candidato vencido (com 45,6% dos votos), quer no Conselho Nacional do partido quer no Instituto Sá Carneiro e no Conselho Estratégico Nacional (CEN) – os nomes “foram viabilizados pelo Dr. Rui Rio e pelo Dr. Salvador Malheiro”. “Ficámos espantados por nenhum desses nomes indicados por nós ter integrado os porta-vozes e coordenadores” do CEN, sublinha o antigo secretário-geral adjunto, apontando uma “quebra do acordo celebrado”. “Todos cabem no PSD” Mas este não é o único ponto prestes a abrir uma rutura entre Santana e Rio, ontem avançada pelo jornal i. João Montenegro questiona que os acordos que o PSD se prepara para assinar hoje com o governo – sobre fundos europeus e descentralização (ver caixa) – não tenham sido levados a discussão no Conselho Nacional do partido: “A direção nacional toma o seu caminho e, em áreas tão importantes como estas, não ausculta os principais órgãos.”
Salvador Malheiro, vice-presidente do PSD, confirma ao DN que o acordo firmado no congresso de fevereiro prevê nomes próximos de Santana para o CEN, mas garante que a composição desta estrutura está longe de estar fechada e que o compromisso assumido “será honrado”. Ou seja, os nomes apontados por Santana serão integrados, mas ainda não está definido em que equipas do CEN. “Tenho o máximo respeito pela atitude que a equipa do Dr. Santana Lopes assumiu no congresso, o acordo é para cumprir, eu honro a minha palavra”, diz o dirigente social-democrata, defendendo que “toda a gente cabe neste PSD”.
Em jeito de despedida, Pedro Santana Lopes desejou, no seu comentário na SIC, que Rio tivesse “sucesso” com o novo Conselho Estratégico Nacional: “Ele próprio sabe que é difícil. Disse que se triunfasse seria uma revolução.”