Macron quer uma nova UE para as europeias de 2019
Na primeira sua intervenção no Parlamento Europeu, presidente francês salientou importância das eleições do próximo ano
Duras críticas à tentação nacionalista, à “democracia autoritária”, aos “fascínios iliberais”, à xenofobia e “à traição dos intelectuais” marcaram a intervenção de Emmanuel Macron perante o Parlamento Europeu (PE), ontem em Estrasburgo. A cerca de um ano das eleições europeias, o presidente francês alertou para o clima de “guerra civil” que se vive na União Europeia (UE), com as divisões e os choques entre os Estados membros e as incertezas geradas pela saída britânica do bloco. E deu como exemplo da crise na UE, e da necessidade de uma sua refundação, a baixa taxa de participação naquelas eleições: menos de metade dos eleitores compareceram nas assembleias de voto nas europeias de 2014.
Naquela que foi a primeira intervenção no PE desde a sua eleição como presidente de França, Macron sublinhou a importância do voto de maio de 2019 “nos combates pelos ideais que criaram” a UE. Estas eleições assumem particular importância para o partido de Macron, La République en Marche (LRM), que se apresenta ao sufrágio europeu pela primeira vez e que prossegue a ambição de criar uma nova família política no PE. Na intervenção de Macron essa intenção ficou clara pelas críticas dirigidas a certas organizações que integram o Partido Popular Europeu, a principal família política no atual PE, com o objetivo de evidenciar as diferenças entre os grupos conservadores e democratas-cristãos e partidos como o Fidesz, do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán.
Macron recusou ser parte de uma nova “geração de sonâmbulos” e, ecoando o título de um autor francês que marcou a primeira metade do século XX, A Traição dos Intelectuais, de Julien Benda, afirmou que “não foram os povos a abandonar a ideia europeia, é a traição dos intelectuais que a ameaça”. No livro em causa, Benda crítica o imediatismo político, as formas de populismo então dominantes, “as ideias fixas”, a “paixão política da raça e da nação”. Finalmente, Macron acentuou que não abandona a ambição das reformas na zona euro, numa crítica indireta às hesitações do governo de Angela Merkel nesta matéria.
No período de perguntas e respostas destacou-se a crítica da deputada do Bloco de Esquerda Marisa Matias, que chamou “pequeno Napoleão” a Macron pela forma como, “unilateralmente, avançou para o ataque sobre a Síria sem consultar rigorosamente ninguém”. Para a bloquista, se Macron “quer a paz no Médio Oriente” deve parar “de vender armas”.
Por seu turno, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, lembrou que a “Europa não é só o eixo franco-alemão”, mas não deixou de elogiar o conteúdo da intervenção de Macron, que classificou como sinal de que “a verdadeira França está de volta”.