Diário de Notícias

Joe Dempsie “Nada é o que parece. Aprendemos essa lição com Deep State”

- MARINA MARQUES, em Londres

Hoje às 22.15, estreia-se a primeira série com guião europeu da Fox. Thriller de espionagem, em torno da agência The Section (partilhada pelo MI6 e pela CIA), Deep State é protagoniz­ado por Mark Strong e Joe Dempsie, ator que interpreta Gendry na série Guerra dos Tronos. Com a oitava e última temporada em gravações, Joe Dempsie fez uma breve pausa e voou de Belfast para Londres para participar na antestreia da série. Desdobrou-se em entrevista­s, substituiu as calças de ganga pelo fato para a passadeira vermelha mas nem assistiu à projeção dos dois primeiros episódios. Teve de partir para outra Guerra. Quem é Harry, a sua personagem em Deep State? Harry é um jovem operaciona­l do MI6. Está lá apenas há cerca de dois anos e no início da série está prestes a entrar numa missão no terreno. Faz parte de uma equipa de agentes do MI6 e da CIA, The Section, que está em Teerão para assassinar cinco cientistas iranianos especialis­tas em questões nucleares. A partir daí o enredo evolui muito rapidament­e: a equipa descobre que tem uma toupeira. No início o Harry não fica preocupado com a forma como essa fuga de informação aconteceu, mas, assim que começa a investigar, rapidament­e se coloca numa lista do MI6 de pessoas a abater. Começa a ser perseguido pela própria organizaçã­o e torna-se um fugitivo. Por outro lado, na sua vida familiar, tem uma relação muito distante com o pai, que, uns 15 anos antes, desaparece­u da sua vida. Mas o Harry sabe que o pai era do MI6. Foi preciso muita preparação para este papel? Isto aconteceu tudo relativame­nte rápido. Antes de ter tempo para pensar, já estava em Marrocos, a aprender árabe e farsi. Em termos técnicos tivemos algum treino com ex-operaciona­is dos serviços secretos de Marrocos e o nosso diretor de duplos, Cedric Proust. O normal neste tipo de papéis. É fácil ser um espião? O MI6 é uma das organizaçõ­es mais bem treinadas no mundo e nós temos de parecer um dos seus agentes. E temos apenas uma semana para fazer que assim pareça. Falou com agentes do MI6? Acho que ao ler o argumento senti logo que conhecia o Harry. Falei com vários atores que já tinham feito este tipo de papéis. Mas, no fim de contas, podemos sempre usar a nossa imaginação, certo? E pormo-nos a nós próprios naquela situação. James Bond é, de alguma forma, uma inspiração? Sou um grande admirador dos James Bond de Daniel Craig, mas isto é muito diferente do Bond. Ouve-se MI6 e pensa-se logo em James Bond, mas há muito mais glamour nos filmes do que na série, posso garantir. Menos gadgets? Nem um gadget. Muito analógico. O que marca a diferença entre esta série e outras do mesmo género? Tentámos incorporar muitos aspetos que se podem esperar num thriller de espionagem como Deep State – espionagem, ação, o mundo da alta finança e dos negócios – mas tentámos que se mantivesse­m ligados à realidade. Tanto quanto foi possível, nas filmagens tentámos mostrar qual é a realidade de fazer este tipo de trabalho e não mostrar apenas os agentes dos serviços secretos a fazerem uma missão e a passar para a seguinte. Estas pessoas têm uma vida para além das missões, e têm de tentar conciliar este trabalho, que está sempre a colocá-las em situações extremas, com a família, com as suas emoções, com a sua consciênci­a. A sua personagem parece ser o bonzinho da história? Ele é a bússola moral na série. Acho que a série joga muito bem com a ideia de perceção e de confiança e vão ver muito isso através dos olhos do Harry. Ele vai viver isso de uma forma muito marcante. Acabamos por perceber que ninguém pode verdadeira­mente confiar em ninguém. E tentem imaginar o que é viver num mundo como esse. Nada é o que parece, devemos estar sempre desconfiad­os do que se segue? Sim. Nada é o que parece. Aprendemos essa lição com Deep State. É como esta situação do espião russo que terá sido envenenado aqui em Londres, sem que se perceba bem como aconteceu? De facto, essa questão quase soa a romance de John le Carré. E coloca em evidência o quão difícil é escrever um drama político nos dias de hoje. Mas, por outro lado, se estamos a contar uma história, queremos que seja uma que pode acontecer na sociedade em que vivemos. Estudou teatro numa escola pública. Foi muito diferente de uma escola tradiciona­l de formação em teatro? Era grátis! A sério. Na altura a formação tinha o formato de um workshop de teatro para jovens em Nottingham, a cidade onde cresci. Comecei quando tinha 13 anos e estive lá até aos 19. Era preciso fazer audições para entrar, porque era uma atividade muito procurada e só havia meia dúzia de vagas por ano. Mas se entrasses, era grátis. E isso fez que ali se juntassem jovens de toda a cidade, até de toda a região [Midlands], dos mais diferentes ambientes familiares, porque a situação financeira não era barreira para se ter acesso. Tínhamos um ambiente criativo incrível. Era duas vezes por semana, ao final do dia, depois das aulas. Fazíamos muita improvisaç­ão e de vez em quando fazíamos audições para papéis em séries de televisão, normalment­e muito mazinhas. Sinto que foi um sítio único para aprender, num ambiente seguro, de companheir­ismo, sem as facadas nas costas tão típicas das escolas de teatro. Mas ninguém entrava ali a pensar que ia ser ator. Não queria ser ator? Antes de ir para o workshop, não. Era um hobby e se calhar por isso é que gostei tanto e tirei tanto partido. Pensava ir para a Universida­de estudar História. Agora não me vejo como professor de História. Bem, acho que ser ator é também uma forma de contar histórias.

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