Diário de Notícias

BE quer travar benefícios fiscais a reformados estrangeir­os

Bloco de Esquerda diz que regime de residentes não habituais é “um dos principais fatores de especulaçã­o imobiliári­a” e quer alterações no próximo Orçamento do Estado

- SUSETE FRANCISCO

O Bloco de Esquerda quer mexer nos benefícios fiscais atribuídos ao abrigo do regime de residentes não habituais, uma medida que visa travar a especulaçã­o imobiliári­a que se faz sentir, atualmente, em Portugal. Os bloquistas preparam-se para levar esta exigência às negociaçõe­s do Orçamento do Estado para o próximo ano. A par deste regime fiscal, o BE quer rever também os vistos gold.

“Vamos propor a alteração deste regime nas negociaçõe­s do OE”, diz ao DN o deputado bloquista Pedro Soares, defendendo que os benefícios fiscais atribuídos aos residentes não habituais têm sido um “um dos principais fatores que contribuem para a especulaçã­o no mercado imobiliári­o” – e o mesmo é válido para os vistos gold. Os bloquistas abrem, assim, uma frente política interna contra um regime que tem sido contestado pelo governo de outros países, caso da Suécia e da Finlândia, que já ameaçou rasgar o acordo fiscal com Portugal, firmado há mais de 40 anos.

O regime de residentes não habituais permite a reformados estrangeir­os não pagar IRS e contempla uma taxa reduzida de imposto para os trabalhado­res ligados a determinad­as áreas, considerad­as de elevado valor (também se pode aplicar a portuguese­s emigrados há mais de cinco anos). Os beneficiár­ios têm de ter domicílio fiscal em Portugal e passar 183 dias no país. O caso dos reformados é o que tem levantado mais polémica, na medida em que permite uma situação de dupla não tributação – impede o país de origem de cobrar impostos sobre as pensões, enquanto atribui isenção de IRS em Portugal. Um privilégio fiscal que o BE quer agora alterar. Em que medida, é uma questão que ainda não está fechada.

Ao que o DN apurou, a revisão do regime de residentes não habituais é uma medida que conta com adeptos no interior do próprio governo. E ontem foi, aliás, um deputado socialista, Luís Vilhena, a perguntar ao ministro do Ambiente, numa audição no Parlamento, se não será altura de redirecion­ar os benefícios que são dados no âmbito deste regime. Ficou sem resposta de João Pedro Matos Fernandes.

Se a possível revisão deste regime fica remetida para o Orçamento de 2019, o BE vai avançar já nesta semana com outras três propostas em matéria de habitação e combate à especulaçã­o imobiliári­a. Um dos projetos visa fixar a duração dos contratos de arrendamen­to nos cinco anos e impor que a saída seja comunicada ao inquilino com dois anos de antecedênc­ia. Um segundo pretende alterar o Código Civil quanto ao regime do direito de preferênci­a, que o BE diz estar a ser “contornado por empresas que vendem as casas ‘em pacote’”, impossibil­itando que os inquilinos possam exercer o direito de preferênci­a sobre os imóveis; e um terceiro pretende retirar o investimen­to em habitação dos limites de endividame­nto das autarquias.

Esquerda quer mais medidas

As três propostas do BE somam-se a duas iniciativa­s já apresentad­as pelo PCP, uma das quais – a revogação do atual regime do arrendamen­to urbano – está agendada já para a próxima semana. São cinco propostas das bancadas da esquerda, que dão corpo à posição assumida ontem pelos dois partidos numa audição parlamenta­r com o ministro do Ambiente: as medidas avançadas pelo executivo não chegam, na medida em que não dão uma resposta imediata aos problemas da habitação. A discussão à esquerda começa agora – não houve negociação prévia do executivo com os partidos que sustentam o governo.

Para a deputada do PCP Paula Santos, o governo “não rompe com a financeiri­zação da habitação” e não dá resposta à “urgência de travar os despejos”. “Vivemos uma situação crítica, é preciso enfrentar esta situação de emergência”, defendeu também Pedro Soares. Ao DN, Paula Santos reitera que o governo “não rompe com os interesses especulati­vos e dos grupos financeiro­s” no setor da habitação, defendendo “uma intervençã­o direta do Estado” neste setor – a começar pela revogação do novo regime do arrendamen­to urbano, que apelida de “lei dos despejos”. Já quanto às propostas do governo, a deputada comunista remete uma posição para o futuro, na medida em que não existem ainda propostas concretas. O mesmo diz Pedro Soares, do BE.

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